(78) - Presságio

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"Nos tempos remotos, meditando sobre os picos do Limiar, vislumbrei aquela que voejava sozinha sobre o deserto. Voei até ela e encontrei a figura mais exótica que já testemunhara. Voava por si própria, sem montaria, com inúmeras asas que saiam de seu corpo.

A criatura estava ferida e sentiu-se hostilizada por mim. Ela então voou até as dunas onde acabou pousando para, talvez, se vendo sem opção, enfrentar-me.

Fora ali que encontrei uma criatura que não pertencia ao nosso tempo nem à nossa terra. Pude conversar com ela pois, por sorte, havia aprendido a língua seuriana ao qual ela também falava de certo modo, afinal, esta era inimiga dos seguidores de Seur. Ela trouxe verdades que não cabiam à nossa realidade e a considerei insana.

Falava de um grandioso povo que viera dos céus e que um dia dominaria nosso continente. Ela partiu sem nunca mais ser vista e sua passagem tornou-se lenda.

Então os seurianos vieram, provando aos k'ammurianos que lendas eram mais do que profecias desprezíveis."

- Nyranuai, a Renascida


RETORNARA AO séquito com a lunno em seus braços. Joelhos dobrados, pés pendendo, cabeça tombada e cabelo suave ao balanço do caminhar. Os olhos estavam fechados, e sua mente distante. Sangue untava as vestes da herdeira e a armadura da templária.

Wanäe não dera nenhuma resposta ao grupo e buscara a tenda usada por Yîarien. Adúry, sem acreditar no que via, seguira a guardiã. Na porta, somente Yuzhal restara.

— A senhora das amazonas foi corrompida e nos traiu. — E o ilusionista terminou dizendo a eles; — Ela foi morta e a Yîarien muito ferida. Deixem-na em descanso.

As amazonas de imediato sofreram com os olhares do resto do séquito e alegaram que não sabiam deste intento terrível de sua líder. Ao se sentirem hostilizadas pelas templárias, largaram suas armas e demonstraram submissão, o único ato que provaria inocência.

Na tenda, Wanäe tratava do sangramento lutando contra a hesitação. Seu treinamento templário incluía cuidados médicos para soldados, envolvendo aura para influenciar a carne ferida, o que de algum modo era manipulação da essência da Vida. Mas era Yîarien em seu colo, não um soldado que mal conhecia o nome. A herdeira de seu povo tinha a vida em suas mãos.

— O quão profundo a lâmina chegou? — Aflita e contendo-se, perguntou Adúry ao lado, acomodando-se.

— Muito fundo. O suficiente para matar qualquer uma de nós — disse quase sem voz. Elas recusavam em acreditar que este era o fim da lunno.

— Não. Deve haver algo! — falou Yuzhal entrando na tenda. — Ela é a mais poderosa entre os vivos, ela não pode cair assim...

— Seuriano, diga para Lyrra conseguir ervas medicinais. Ela saberá o que fazer — ordenou a Arauta. Ela então notara na mão da lunno. — Em nenhum instante ela soltou esta relíquia. — Tocou na pequena estrutura de metal que enjaulava a pedra no intuito de remover e aliviar o peso dos dedos dela.

— Não faça isso — falou a guardiã. — Há um elo entre as duas. Devemos respeitar.

Adúry recolhera os próprios dedos e sentira-se culpada por não ter sido sensível para notar isso antes. Pelo espírito, podia sentir que o elo era mais prático do que lírico.

— Elas estão se comunicando de alguma forma.

— Sim, Yîarien sempre disse isso.

Quinta Lua (Livro Completo)Where stories live. Discover now