(55) - Adaptação

2 0 0
                                    


"Sabes por que jamais lançamos uma campanha de escala total de tomada na Gállen? Sabes por que nunca mais desembarcamos nas praias inimigas para marchar diretamente até Aylentar?

Porque eles, como estão, me são úteis. Temos que demonstrar força sem exercê-la ao máximo, para que o máximo da força seja uma dúvida ao inimigo. Pois nós somos observados, a cada instante, por aqueles que dos sarcófagos conspiram.

Enquanto sangrarmos, pelos punhas uns dos outros, porém sem nos destruir, ainda seremos uma força temida por estas sombras que hesitam em se levantar.

Os Caídos aprenderam a nos temer e suas forças estão perigosamente limitadas, sem a flama que antes os forjava incansavelmente além-mar."

- Bálshiba, pensamentos



A MENTE se confortava dentro de si, o espírito renovava-se.

Perturbação incomum lhe afligiu.

Gelidez emanava no mundo físico, ela sentia, talvez a encobrindo; algo importante acontecia lá fora.

Com leveza, Yîarien retornou para si. Encontrou-se na posição exata em que iniciara a meditação. Joelhos flexionados, sentada sobre os calcanhares, palmas sobre as coxas, ombros caídos e cabeça declinada — sentia cada membro do corpo ainda dormente.

Respiração estava intensificada, e sentiu como se o ar estivesse denso, sufocante. Tratou de primeiramente de despertar os músculos da pálpebra e ganhou visão turvada. Reconheceu a sala redonda e branca ao qual meditava.

Não era o ar, mas a aura que a estrangulava sem feri-la diretamente.

Ao levantar o olhar, encontrou outra forma no recinto que a fitava na quietude, a espelhando na posição de descanso, mas sem meditar. A feição era conhecida, tratava-se de uma sywha curandeira do templo. A porta da sala continuava fechada do jeito que a lunno deixara e ela não questionou como ou por que entrara lá. Tudo o que Yîarien buscava entender era aquela aura que obviamente emanava dela.

O rosto da sywha era sereno e firme, o olhar intenso não trazia intenções claras senão uma intimidação crescente. O manto oscilou, e a lunno era julgada como nunca antes fora em sua vida, como se fosse encarada como a causadora do pior dos erros. O corpo da lunno recuperava o movimento por mais que ela permanecesse imóvel, conforme seu peito batia mais rápido e forte. Se quisesse lutar, teria sérias dificuldades em se pôr de pé antes da outra lhe alcançar, de tão próxima que estava. Contudo, mesmo lidando com o temor, sabia que não seria atacada naquela condição. Não chamaria ajuda gritando ou emanando a sensação de perigo até as templárias que faziam vigília no nível inferior — lidaria sozinha.

Não havia som em lugar algum. A aura da curandeira definitivamente não era dela mesma, nem a expressão de julgamento. A presença soturna que testemunhava pertencia a uma entidade, maior do que a espada sagrada de Wanäe, maior do que a de Ákera, mesmo a tocando intimamente.

Bálshiba — Yîarien proferiu à sywha o temível nome do algoz. Não sabia como era ele se manifestando, porém não lhe restavam dúvidas.

A mudança no rosto da curandeira foi mínima, o suficiente para transparecer a confirmação. Ela — ou ele — não parecia surpreso de nenhum modo ao ser desvelado de imediato. Provavelmente, pensou Yîarien, fosse essa a vontade dele.

"A Vontade dele..." e enquanto as palavras terminavam de ecoar em sua mente, a aura a sufocou mais ainda. Se fosse um pouco mais fraca, teria sucumbido ao terror.

Quinta Lua (Livro Completo)Where stories live. Discover now