Juventude à flor da pele

Capítulo 1

Eu poderia começar esta narrativa dizendo que nunca, na minha vida toda, vi uma águia careca, mas talvez isso fuja da verdade.

Na verdade eu era só um garoto de 19 anos - quase 20 - bastante típico que vivia em Beverly Hills. Eu gostava de pólo aquático, de estar com os meus amigos, me divertir e de sair com quantas garotas eu pudesse. Não fazia o tipo garanhão, embora isso depende do ponto de vista, eu acho que não, mas na época gostava de achar que sim. O fato era que eu estava na melhor parte da minha vida e sabia muito bem disso.

Nunca cheguei a ser um cara lindo do tipo modelo de revista, apenas tinha um cabelo legal, um sorriso sedutor e uma boa lábia, estando mais para boa pinta do que qualquer coisa, mas eu tentava minhas chances com as mulheres, as bonitas então... Bom, na verdade amava estar com elas, mas como todo garoto da minha época, apego era algo que me distanciava. Sem me prender a emoções mundanas e sem iludir a nenhum de nós, eu achava ser mais fácil resumir tudo sem profundidade. Me preocupava em ser apenas honesto com toda garota que me relacionava, compromisso era uma palavra muito forte e não era uma que usava com frequência naquele momento. Embora isso mudaria muito logo.

Logo eu teria que ir para uma universidade de alto nível acadêmico e me preparar pra trabalhar e ser o cara sério que meu pai queria que eu fosse, minha vida já estava projetada no momento em que eu chorei pela primeira vez. Não que isso me incomodasse, pois eu gostava da vida que levava. Eu podia ir à praia quando quisesse, podia sair e voltar quando quisesse - desde que voltasse regularmente sóbrio -, podia pegar o carro e ir pra qualquer lugar que quisesse com quem eu quisesse e passar quanto tempo quisesse por lá. Meu pai e eu tínhamos instaurado esse acordo quando eu tinha quinze anos e havia sido pego pela polícia numa noitada de bebedeira e baseados com meus amigos: eu poderia viver a vida ao máximo enquanto podia e depois me jogaria no trabalho e seria o tal cara sério que todos esperavam que eu fosse.

A apenas duas ou três ruas antes de Holmby Hills, na Lexington, estava a casa que vivíamos há dezoito anos, somente eu, minha irmãzinha pentelha de 12 anos, Madelyn e meu pai numa mansão de estilo neoclássico de tijolos vermelhos, janelas de ferro forjado escuro, com um quintal amplo e gramado, além do mordomo e da equipe de segurança. Tínhamos um gato malhado, gordo e preguiçoso chamado Bob e um American Pitbull Terrier premiado, marrom chocolate sólido, palerma e brincalhão que Madelyn batizou, contra a minha vontade, de Cup Cake que deveria ser o nosso cão de guarda, mas ela o mimou tanto que o tornou uma bola de pelos manhosa e medrosa que nem um eterno filhotinho, então ficava dentro de casa e dormia nas nossas camas deixando rastros de pelos para todos os lados - bom garoto...

Eu era aluno do 4º ano do ensino médio na Beverly Hills High School, e já me preparava para o colegial.

E como qualquer jovem adulto que cresceu privilegiado em um bairro só, eu tinha dois melhores amigos inseparáveis, Devon Scott e Eric McCoy.

Mas chega de apresentações por ora...

Eu não consigo me lembrar exatamente a data em que o destino resolveu brincar com a minha sanidade - até porquê sou péssimo com datas -, me tornando mais uma marionete em suas mãos e me apresentando àquela que seria a dona do meu futuro e da minha vida, ou possivelmente ela seria a primeira capaz de me dobrar apenas na ponta dos dedos e me teria na palma de uma mão. O destino brinca, manipula, vira a mesa e muda a sua vida completamente só para que você dance conforme sua música e não há nada que se possa fazer contra ele.

Mas eu ainda não sabia disso então.

Devia ser uma manhã comum de terça-feira numa primavera em 2008. Acordei cedo, como todos os dias úteis, as seis da manhã, fui me arrumar e depois desci para o café da manhã. Meu pai lia o jornal e comia uma torrada, já pronto pra ir pro trabalho, a primeira xícara de café estava vazia sobre o pires e havia migalhas sobre a toalha da mesa. Me sentei ao seu lado e escolhi um pedaço de bolo de limão com um copo de suco e uma pêra.