Capítulo 38

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Dentro do palacete eu era capaz de enxergar todos, uma multidão de pessoas bem vestidas formavam um círculo, havia sangue manchando suas peles. Nestha e Elain se abraçavam me encarando inexpressivas. No centro do salão condecorado estava meu pai, segurando uma garrafa de vinho, encarando-me com asco, seu mais puro desprezo.

Mas eu sempre recebi isso dele...

O que realmente me assustou foi a figura atrás dele, os cabelos vermelhos moldando o rosto feminino do meu pior pesadelo, Amarantha, segurava Feyre ajoelhada pelos cabelos, enquanto sussurrava no ouvido do meu pai sem deixar de me encarar.

Pai se afasta dela...

— É você... Sempre você... Uma fedelha carente por atenção, pedindo e pedindo uma irmã a cada nascer do sol. — Ele estava bêbado, isso era notório pelo tom de voz. — Por que não podia ser impassível ou gentil, como Nestha e Elain? Sempre que eu via ela, grávida, naquela cama morrendo lentamente, pensava; como vou lidar com essa menina idiota sozinho? Essa pirralha insegura, inútil e inconveniente que acabou com minha vida!

Cada palavra me fazia encolher contra pilastra, remorso me corroendo em cada nervo do corpo. Amarantha riu apertando o pescoço de Feyre, ameaçando torcê-lo diante dos meus olhos úmidos. Eu devia proteger ela, uma parte minha jurou cuidar de todos eles porque tudo que causei foram desgraças.

— Me desculpe, foi minha culpa.

— É você... — Papai repetiu, todos me encaravam com olhares de julgamento. — É você Dustina... Você e seu egoísmo, você matou a sua mãe... Matou ela e agora está matando o resto da sua família.

Amarantha deu passos a frente arrastando minha irmã pelos cabelos, tentei avançar, mas travei quando ela pressionou uma lâmina na garganta da Feyre. Um filete de sangue escorreu pela adaga, me fazendo suar em pânico.

— Todas elas vão morrer em breve. Quando você menos esperar, elas vão morrer. — Amarantha ciciou venenosa. — Como? Você nunca saberá. Quando? Você nunca saberá! As tragédias vão persegui-la pela eternidade, Dustina Archeron, você é uma humana imunda e traidora, mentirosa de coração fraco!

— Você não chegou a tempo. — Feyre murmurou chorando. — Você não chegou a tempo.

— Não. Não... Eu tentei, Feyre... — Não sabia como respirar, meu pobre coração acelerado não queria continuar batendo depois de tantas verdades. — Eu tentei.

Amarantha puxou a adaga...

DUSTI! Abra os olhos. — Mãos me sacudiram violentamente. A voz barítono ecoou forte com autoridade e preocupação. — Abra seus olhos pra mim.

Abri tentando tomar fôlego, tateando freneticamente o ser em cima de mim. Rhysand segurou minhas mãos apertando-as contra seu peito, o calor emanando de sua pele nua transpassou para mim.

— Foi minha culpa. Foi minha culpa. Eu não queria matar ninguém, eu não queria... — Meu rosto estava tão molhado, que mal sentia as lagrimas escorrendo, apenas quando pingavam em meu pescoço.

— Respire! Foi um pesadelo. Você não tem culpa. Está tudo bem, você está em casa, Velaris. Ainda pode ver as constelações. — Rhys sussurrou, sua respiração irregular.

Mas eu não conseguia parar de me remexer e tentar sugar algum resquício de ar. Escuridão serpenteava pelo quarto em redemoinhos densos, tossi o fogo ardendo em meu peito, como se o órgão pulsante fosse composto pelas chamas. Aquela quentura vigorosa correndo por minhas veias.

Rhysand suava, seus cabelos escuros grudando na testa. Eu enxergava apenas ele naquela confusão obscura que nos rondava.

— Pela Mãe! Acalme seu coração de fogo. — Se afastou rapidamente quando fumaça emanou junto com as minhas tentativas desesperadas de respirar. — Imagine que está se apagando como uma vela.

CORTE DE PAIXÕES E SACRIFÍCIOS | ʳʰʸˢᵃⁿᵈحيث تعيش القصص. اكتشف الآن