Capítulo 5

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Bosque a oeste. Jovens arvoredos de bétulas. Galinhas abatidas. Armadilha de corda dupla. Água corrente.

Lucien me deu instruções precisas para que eu capturasse um Suriel, segundo ele, esse ser sabe uma resposta para qualquer coisa que eu perguntar. Nesse momento eu tenho uma lista de questionamentos do tamanho dessas árvores.

Feyre veio comigo para aprender que tipo de armadilha seria feita, ela está tão curiosa quanto eu.

Usando as galinhas, montei uma emboscada para o Suriel, minha irmã sumiu escondida por entre as árvores. Subi em uma distante, ficando contra o vento para mascarar meu cheiro.

Esperei e esperei. O sol subiu tão quente que temi ficar desidratada, camuflada naqueles galhos. Comi uma maçã batucando os dedos na coxa entediada.

Considerei a hipótese de Lucien ter me enganado com suas dicas sobre a captura. Mesmo sendo humana, ele superistima minhas habilidades de caça, me ver fracassando faria o dia daquele ruivo de araque mais feliz. 

Estava quase desistindo, então escutei um sussurro. Como se tecido arrastasse em cima de uma respiração faminta. O som é horripilante. Prendi o fôlego, posicionando a flecha no arco lentamente.

Houve um estalo, seguido de um farfalhar, um grito oco e maligno que fez meus lábios se curvarem em um sorriso gatuno. Peguei. Outro grito enfurecido cortou a floresta e minhas armadilhas rangeram ao segurarem o Suriel.

Feyre soltou um som de comemoração descendo da árvore. Saltei do galho caminhando até o ser curvado de costas, tentando inutilmente se libertar com os braços finos. Mantive a flecha apontada na direção dele.

— Espero que você seja um Suriel. — Comentei somente para chamar a atenção dele. O Feérico me encarou com seus olhos brancos, soltando a corda.

— Humanas. Montaram essa armadilha inteligente e maliciosa para mim? — A voz única, perguntou altiva.

— Aí está você, não? — Assenti estreitando os olhos. — Desculpe por tomar seu tempo, mas preciso de respostas.

— O que uma caçadora humana iria querer com um Suriel? — A risadinha cruel não me abalou, afinal, a criatura fofoqueira está aprisionada. — Faça suas perguntas, humana, contanto que me liberte depois.

— Existe uma forma de minha irmã e eu voltarmos para casa?

— Não, a não ser que queiram ser mortas e que sua família também o seja.

Minhas esperanças foram apagadas naquele instante, a realidade batendo na porta. Nunca mais estaremos em terras humanas, fadadas a morrer nas terras feéricas por causa de um tratado.

— Devem permanecer aqui com o Grão-senhor. — Concluiu o Suriel. Que ótimo.

Feyre esbugalhou os olhos surpresa com a informação. O Suriel voltou a sorrir, adorando saber que ela não tinha ideia daquilo. Fofoqueiro e perverso.

— Todos na Corte Primaveril estão presos com uma máscara, mas você não. — Feyre disse com cautela, se aproximando. — Você não é membro da Corte?

— Não sou membro de Corte alguma. Sou mais velho que os Grão-Senhores, mais velho que Prythian, mais velho que os ossos deste mundo.

Lucien não tinha me dito essa parte. Se um Suriel é tão velho assim e sabe de tudo, como pelos céus, ainda é capaz de cair nessas armadilhas? Não vou perguntar isso, talvez estivesse com muita fome, eu sei o que ela pode fazer com a mente das pessoas.

— Os Archeron do outro lado da muralha, estão bem? — Perguntei, aproveitando a oportunidade.

— Vivendo como nobres. — Suriel afirmou. Fiquei mais tranquila.

— O que pode ser feito... Quanto a essa praga que se alastrou por Prythian, roubando e alterando a magia? De onde ela veio? — Feyre perguntou.

— Busquem eles dentro de vocês, humanas. — Aconselhou o Suriel, sem fazer sentido algum. — É tudo o que podem fazer. Ficarão seguras. Não interfiram; não saiam em busca de respostas depois de hoje, ou serão devoradas pela sombra que paira sobre Prythian. — Ele me fitou profundamente. — O Grão-senhor vai protegê-la jovem; então, fique perto dele e tudo se acertará. — Em seguida apontou Feyre: — É tarde demais para você ser abraçada pela luz, já cruzou o caminho da escuridão.

O que ele quer dizer com isso? Não poderia ser um pouco mais específico? Eu passei horas embaixo do sol, não consigo pensar direito com essa dor de cabeça.

— Ajudou muito. — Resmunguei.

— De onde veio a praga? — Feyre murmurou.

Aqueles olhos leitosos se semicerraram.

— O Grão-Senhor não sabe que vocês vieram aqui hoje, sabe? Ele não sabe que suas fêmeas humanas vieram prender um Suriel porque não pode dar a elas as respostas que buscam. Mas é tarde demais... Para o Grão-Senhor, para vocês, talvez para seu reino também...

O suas fêmeas humanas me fez engolir o protesto, as pessoas nos tratam como bichinhos de Tamlin e isso já está me tirando do sério.

Mas o Suriel continuou, ignorando meu olhar exasperado.

— Do outro lado do violento mar oeste, há outro reino feérico chamado Hybern, governado por um rei cruel e poderoso. Sim, um rei — Afirmou o Suriel, escutei atentamente. — Não um Grão-Senhor; lá, o território não está dividido em cortes. Lá, ele é a própria lei. Humanos não existem mais naquele reino, embora o trono seja feito de ossos humanos.

Trono de ossos... O sangue sumiu do meu rosto e minha espinha tencionou. Feyre grudou em meu braço, ela faz isso desde pequena quando está assustada.

— Faz tempo que o rei de Hybern tem se sentido insatisfeito com o Tratado que os outros Grão-Feéricos governantes do mundo firmaram com vocês humanos, há séculos. Ele se ressente por ter sido forçado a assiná-lo, por libertar seus escravos mortais e permanecer confinado à ilha verde e úmida no fim do mundo. Então, há cem anos, ele enviou os comandantes de mais confiança e lealdade, os guerreiros mais mortais, sobreviventes dos antigos exércitos com os quais um dia navegara até o continente para travar guerra tão brutal contra vocês humanos, todos eles tão famintos e cruéis quanto o rei. Como espiões, cortesãos e amantes, eles se infiltraram nas diversas cortes, reinos e impérios de GrãoFeéricos pelo mundo durante cinquenta anos, e, quando reuniram informações o suficiente, o rei forjou seu plano. Mas há quase cinco décadas, um dos comandantes o desobedeceu. A ardilosa. E... — O Suriel enrijeceu o corpo. Ouvi galhos se partindo. — Não estamos sozinhos.

Procurei nas redondezas o foco daquele barulho que aumentava cada vez mais.

— Humanas, devem me libertar e fugir. — Disse o feérico, com aqueles olhos cheios de morte se arregalando. — Corram para a mansão do Grão-Senhor. Não se esqueça do que contei hoje, jovem arqueira, fique com o Grão-Senhor e viva para ver tudo se acertar. E você criança assustada, tente enxergar a luz que a protege.

— O que é isso? — Grunhi mirando em pontos cegos.

— Os naga, feéricos feitos de sombra e podridão. Liberte-me! — Ele se desesperou, raspando as unhas amareladas na corda que o segurava.

— Solta ele, Feyre. Eu te cubro. — Fiquei na frente deles, esticando a corda do arco com força, esperando os naga aparecerem. — Mais rápido.

— Estou quase!

— Eles chegaram. — Suriel avisou.

CORTE DE PAIXÕES E SACRIFÍCIOS | ʳʰʸˢᵃⁿᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora