Capítulo 4

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Batidas na porta de meu quarto foram o único aviso antes de Alis entrar carregando uma bandeja cheia de frutas. Não desci para jantar com os outros, sinto-me dentro de uma armadilha invisível sempre que olho para Lucien e Tamlin.

Os últimos dias foram tranquilos, confortáveis e cheios de nada para fazer além de colher flores com Lucien e tentar ensinar minha irmã a ler. Não estou acostumada com tantas regalias, muito menos um homem me cortejando. Tamlin trata Feyre e eu, como verdadeiras rainhas.

Já deixei claro que não quero me envolver com ele, não depois dos maus bocados que passei com Harry Tompson. Se minha irmã quiser entrar nessa fria, fica sob critério dela.

— Coma menina, estou vendo mais saúde em seu rosto, podemos tê-la em plena força com essas frutas maduras. — Alis empurrou a bandeja contra minhas pernas.

— Estou sem fome, mas vou comer pela gentileza de me trazer.

Alis cruzou os braços em cima do avental branco. A fumaça saía de seus ouvidos enquanto me analisava pensativa.

— Eu não matava por prazer, Alis. Era necessidade, não podia deixar minha família passando fome. — Expliquei, aposto que ela está com isso na mente desde que chegamos, ouço os criados fofocando quando passo por perto.

— Com quantos anos começou?

— Fiz minha primeira caçada com dez anos.

Demorei umas seis horas para pegar os coelhos e chorei quando vi os coitadinhos sem vida, entretanto, fiquei orgulhosa por manter minhas irmãs de barriga cheia no fim do dia.

— E Feyre? — Sondou curiosa.

— Aos dezesseis, ela ficou me perturbando até ganhar uma aula para manusear as armas. — Bufei.

— Quantos anos você tem agora?

— Vinte um.

Ela empalideceu levando a mão ao peito, negando com a cabeça. Pena brilhava em seus olhos feéricos adornados pela máscara.

"Tão jovem e já uma assassina habilidosa." Lucien disse em nossa última refeição juntos.

Pelo caldeirão, lamento que tenha passado por isso tão nova, senhorita Archeron.

— Sem formalidades, você pode me chamar de Dusti. — Corrigi sorrindo pequeno. — Obrigada pela comida. Onde está minha irmã?

— Caminhando no jardim com meu senhor. — Respondeu sugestiva. — Eles estão se entendendo melhor.

— É, espero muito que ele não faça nada que vá se arrepender. — Murmurei enfiando uma uva na boca. — Seria uma pena deixar essa corte sem Grão-senhor.

Alis arqueou a sobrancelha.

— Você não pode com um de nós, morreria antes de piscar.

Que falta de crença, eu só precisaria de algo afiado e uma armadilha gigante, Tamlin não é muito estrategista, mas eu sim. Inteligência é um dos maiores pilares para um sobrevivente.

Alis foi ajudar as outras criadas na cozinha, me deixando sozinha com o livro sobre as artes de guerra que peguei na biblioteca.

Quando vai parar de ser tão chata e séria? — A voz de Lucien ecoou atrás da minha porta.

Quando vai parar de ser tão babaca? — Feyre rebateu tão afiada quanto uma lâmina.

Escondi o sorriso divertido que nasceu em meus lábios e fechei o livro no colo. Esses dois vem renovando minha rotina ultimamente.

CORTE DE PAIXÕES E SACRIFÍCIOS | ʳʰʸˢᵃⁿᵈWhere stories live. Discover now