Capítulo 44

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O estômago cheio de carne me dava uma sensação de triunfo, saber que não vamos ficar com fome pelos próximos três dias, me conforta. Em parte, o calor do sol ajudou a capturar duas corças no amanhecer. Assim que terminamos de comer, tomei um banho e subi na árvore próxima do nosso chalé. Sempre que tenho oportunidade subo no galho mais alto para observar o entardecer.

Minha adaga fez um barulho satisfatório quando raspei ela no tronco, desenhando com traços equiparados cada linha da constelação de Órion, decalcando meu nome logo embaixo como uma assinatura de posse.

— Então ela é condenada a dormir para sempre. — Nestha decretou levantando sua boneca de pano, sorrindo maldosa.

Elain fez um biquinho e ergueu seu boneco vestido de príncipe.

— Mas com um beijo de amor verdadeiro dado pelo príncipe, a maldição é quebrada!

— Não Elain, isso é ridículo! — Nestha riu correndo com sua boneca "em coma" — Esse paspalho não vai beijar minha princesa.

Elas gargalharam se divertindo, me arrancando uma pequena risadinha enquanto negava com a cabeça.

— Como o príncipe sente amor por alguém que nunca viu na vida? Isso existe? — Sussurrei com ceticismo, mas por dentro estava ansiosa para ver se a princesa da Nestha acordaria com o beijo milagroso.

Meu olhar recaiu na porta de freixo do chalé, que num baque foi aberta por minha caçula, toda suja com o ponche de morango que comprei usando as moedas restantes. Quando viu nossas irmãs brincando, ela sorriu correndo na direção delas.

Me inclinei atenta a cena se desenrolando, limpando as flepas da minha adaga na bota. Feyre é persistente em tentar entrar na bolha que Nestha e Elain criaram apenas para elas, no final nós duas sempre acabamos machucadas, mas eu não demonstro por puro orgulho. Sempre enfrentando Nestha com aquilo que ela mais odeia; sarcasmo.

Irmãs! Irmãs! — Fey gritou animada. — Posso brincar com vocês?

Elain continuou ajeitando as roupinhas de seu boneco, agindo como se Feyre fosse uma mosca zumbindo. Nestha se virou de cara amarrada, me procurando nas redondezas, deitei a cabeça de lado a encarando seriamente.

— Não temos mais bonecas, vá ficar com a Dusti.

— A Dusti está cansada, eu quero brincar com vocês. — Feyre segurou a barra do vestido amarelo. — Não me importo de ficar sem boneca.

— Nem teria graça. — Nestha negou virando-se.

— Mas... Mas... Eu não tenho ninguém para brincar.

— Brinque sozinha então! — Nestha bufou impaciente. — Apenas saia e não atrapalhe.

— Bruxa chata! — Reclamei com toda raiva que uma menina de doze anos poderia ter. — Me desculpem bruxas...

Feyre saiu chateada, segurando o choro. Antes que ela entrasse, arremessei um pequeno galhinho em sua cabeça, ela gritou tropeçando para frente assustada. Ri pronta para jogar outro.

— Eu sei que foi você! — Ela caminhou até o pé da árvore, olhando para cima com as mãos na cintura. Ainda sim, não conseguiu me achar. — Dustina?

— Olá, pequena insolente. — Forcei uma voz grossa, escutando sua risadinha mais alegre.

— Você é a raposa? — Ela perguntou entrando na brincadeira.

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