Capítulo 13

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Estava alta, irreversível e inegavelmente ferrada da cabeça aos pés em todos os níveis existentes.

Faz poucos segundos que despertei, não consegui abrir os olhos por causa do inchaço doloroso. Sangue escorria da minha boca a cada respiração que eu soltava. E o corpo em frangalhos, totalmente agredido, não continha nenhuma das armas.

Seriam inúteis de qualquer forma, estamos em uma corva de leões mágicos.

— F-fey... Feyre. — Sussurrei rouca, forçando a garganta a funcionar.

— Sem pânico. — Ela balbuciou, gemendo com dor. — Dusti, acho que... Meu nariz está quebrado.

Toquei meu rosto, sentindo um corte aberto vazando sangue na bochecha, o líquido viscoso banhou meus dedos, chiei agoniada com a dor. Arquejei as costas engasgando, tomando ciência de outra lesão grave, os ossos da minha costela foram destruídos.

— Quebrou algo mais? — Perguntei tentando não surtar, engolindo o grito de dor que minha garganta quis soltar. Razão. Razão.

Aura e Clare sofreram assim? Talvez eu mereça tudo isso e mais um pouco, sim eu mereço, depois de tudo que elas passaram eu mereço isso. Mesmo tentando mudar as coisas, não anula o fato que elas morreram e eu fui culpada. Assassina.

— Meu rosto foi mais danificado que o corpo. — Feyre respondeu encostando a cabeça na parede em suas costas. Ela parece lidar com a situação melhor do que eu, isso me conforta um pouco. — E você?

Quebrada. — Não me movi do lugar para não piorar minha situação. — Mas não se preocupe comigo... Você precisa colocar seu nariz no lugar.

— Não consigo. — Ela negou baixo.

— Consegue... Você precisa... Se quiser que pare de doer. — Minha voz saiu falhando.

Os olhos se fecharam por um momento e um baque na porta me despertou no mesmo instante, agilmente a figura ruiva com máscara de raposa entrou.

— Lucien? — Esperança encheu a voz de Feyre conforme ele atravessava a escuridão.

— Pelo Caldeirão! — Ele estudou minha irmã preocupado e depois me encarou. Um abismo de emoções o tomando, Lucien não sabia qual tentar ajudar primeiro. — Vocês estão bem?

— Morrendo serve? — Tossi sangue, sarcástica, uma falha tentativa de acalmar os nervos.

— Perderam a cabeça? O que estão fazendo aqui? — Ele andou de um lado para o outro surtando a cada respiração.

— Vim por você, eu disse que jamais desistiria e não costumo quebrar minhas promessas. — Minha língua estava começando a ficar dormente. Falei arrastado: — Você é um irmão, amigo, chame do que quiser. Apenas aceite que estamos lutando pela mesma causa.

Lucien se ajoelhou perto do meu rosto e para minha surpresa, ele chorou. Seu olho de metal brilhando mais do que o normal, lágrimas escorrendo por baixo da máscara. Meu peito se apertou com as fungadas sofridas que ele soltava.

— Lucien... — Feyre sussurrou.

— Eu não quero perdê-las, não entendem o que está em jogo. — Ele interrompeu, embargado. — Como foi, como vieram parar aqui?

— Voltamos para a mansão... Alis me contou... me contou sobre essa maldição, mas a Dusti descobriu sozinha...

— Não vamos deixar que Amarantha continue os aprisionando.

— Vocês não deveriam ter vindo, nenhuma das duas! — Interrompeu novamente, em tom repreensivo. — Não era para estarem aqui. Não entendem o que Tamlin sacrificou para libertá-las?

— Alguém tem que acabar com isso!

— Não vocês! — Ele retrucou afiado. — Estão enrolando uma corda no próprio pescoço. Ela poderia matá-las lá em cima.

— Está tudo sob controle. — Feyre argumentou alto, perdendo a paciência.

— Sim, eu vi como essa espertinha conseguiu afundar ela nas próprias palavras, mas por quanto tempo acham que Amarantha vai jogar limpo com vocês? — Lucien bufou.

— Até vocês estarem em liberdade. Está feito, apenas sente sua bunda e espere essa merda acabar. — Grunhi em um fôlego, choramingando em seguida. Dor infernal, é como se houvesse uma viga de brasas rasgando minhas vísceras lenta e repetidamente.

Feyre estava prestes a xingá-lo, quando Lucien se sentou sobre os tornozelos.

— Bem, pelo menos não precisamos mais mentir para vocês, já que sabem de tudo. Vamos concertá-las e limpá-las um pouco.

Pontos pretos cobriam minha vista embaçada, fiquei mole contra parede entreabrindo os lábios para dizer algo, mas nada saiu. Quando reabri os olhos, consegui enxergar melhor, senti o cheiro metálico de magia na cela. Minhas costelas doíam menos, apenas um reflexo incomodo de antes.

— Curada e pronta para aleijar a outra asa do Attor. — Lucien acariciou meu ombro, depositando um beijo em minha testa. — Ah ele gritou por horas.

Gratificante.

— Obrigada, ruivo de araque. — Toquei as costas, dando-lhe um pequeno e fraco sorriso, mas não consegui sustentar por muito tempo.

— Acho que meu nariz está quebrado. Mas nada mais. — Feyre fez careta, o ruivo segurou suas bochechas estudando a lesão.

— Os guardas estavam bêbados, mas seus substitutos vão chegar em breve. — Disse ele, puxando as mangas de sua túnica verde, as veias saltadas do braço musculoso chamaram a atenção da minha irmã. Arqueei a sobrancelha observando. — Vou precisar colocar no lugar antes de poder curá-lo.

Me aproximei, arrastando o corpo até poder segurar a mão dela como apoio. Feyre se preparou, sugando respirações profundas. Estou orgulhosa do quão corajosa ela está sendo.

— Faça-o. Agora mesmo. — Ela pediu convicta. Lucien hesitou. — Agora, ande! — Ordenou Feyre ofegante.

Rápido demais para que ela acompanhasse, os dedos de Lucien puxaram seu nariz. O estalo baixo me deu agonia por ela, a dor tirou seus sentidos. Feyre afrouxou o aperto em minha mão, tombando a cabeça.

Acolhi seu corpo com um abraço.

— Você se arriscou por mim. — Lucien comentou de cabeça baixa.

— Teria feito quantas vezes fosse necessário.

— Por que? — Fiquei em silêncio. — Por que, Dusti? — Insistiu.

— Porque reconheço uma alma quebrada quando vejo, Feyre costuma dizer que semelhante atrai semelhante. Quando eu conheci você, sua verdadeira essência, especial e gentil, por trás do mecanismo de defesa que você usa para afastar as pessoas, eu confiei, decidi que valia a pena entregar minha lealdade.

— Obrigado. — Sussurrou. — Ninguém nunca arriscou a vida por mim ou depositou tanta confiança. Prometo que farei de tudo por você também, sempre. — Lucien negou com a cabeça e sorriu. — Não acredito que amo uma humana pirad...

Feyre se remexeu em meus braços. Se passaram alguns minutos, o suficiente para ela recobrar os sentidos. Lucien refletiu nossas palavras, enquanto Feyre despertava.

— Isso doeu.

— De nada, anã insolente.

— Vá se foder. — Ela retrucou, mas não parecia realmente brava com o apelido.

— Não pude curar vocês por completo, ou saberiam que alguém as havia ajudado.

Os hematomas e arranhões ainda decoram meu corpo, apenas as sequelas mais graves foram esquecidas. Em comparação, é um grande alívio.

— E meu nariz? — Feyre se aconchegou em meu corpo, tocando o próprio rosto exitante.

— Consertado, empinado e bonitinho como antes. — Lucien deu um risinho para ela. O gesto familiar causou a mesma reação em Feyre, deixando o ruivo petrificado. Oh, muito interessante. — Os guardas estão vindo, tentem não morrer, está bem? Já tenho uma longa lista de feéricos para matar.

— Vai dar tudo certo. — Eu espero.

CORTE DE PAIXÕES E SACRIFÍCIOS | ʳʰʸˢᵃⁿᵈTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon