Capítulo I: Não há manhã gloriosa

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Londres, agosto de 2022.

O vento frio batia no rosto de Zayn quando ele saiu de dentro de seu carro, reconhecendo o manobrista que apareceu em sua frente como o mesmo de todas as outras vezes.

— Obrigada. — Disse estendendo as chaves para ele e se afastou do veículo. O cachecol em volta do pescoço aquecia um pouco, o pesado casaco de botões dourados também. Ele colocou a mão dentro dos bolsos e partiu para dentro da mansão a sua frente atravessando o chão de pedras brancas e depois subindo os pequenos degraus da entrada.

Ele passou pela dupla porta de madeira tirando uma das mãos do bolso para empurrá-la e então chegou a recepção, um grande balcão de madeira tomando conta do espaço com uma placa dourada escrito Casa de Cuidados e Repouso London Senior, mas aquilo ali ele já tinha lido mil vezes. O que chamou sua atenção foram as flores recém colocadas no vaso quando se aproximou da recepcionista.

— Olá. — Zayn chegou colocando os dedos no balcão.

A mulher sorriu para ele, já devia ter mais de 50 anos, e era elegante em todas as vezes que Zayn esteve ali nos últimos anos, especialmente nos últimos meses.

— Zayn, como está? — O cumprimentou se levantando da cadeira onde estava e dando a volta pelo balcão, os saltos batendo no piso de porcelana e ecoando por toda a entrada silenciosa.

Do outro lado havia uma lareira em uma grande sala de estar, poltronas vermelhas tinham pessoas conversando em cima, médicos e mais familiares, Zayn observou. Haviam alguns livros em estantes na parede, de repente um enfermeiro passou caminhando, e então a atenção de Zayn se voltou para a mulher novamente. Ela estava na frente do espaço onde a visão de Zayn podia ver a

— Bem, obrigada, Evelyn. — Era o que ele respondia todas as vezes. — Vim visitá-lo. — Ele disse, era uma coisa que também sempre falava, mas era o esperado já que era o único a estar lá todas as vezes.

— Claro, acho que ele está no jardim. — A mulher assentiu positivamente e ela e Zayn começaram a caminhar para cruzar a extensa sala e passar pela grande porta que dava para o gramado.

Eles foram em silêncio até lá e ao chegarem do lado de fora os olhos de Zayn correram por todos que estavam ali. Por mais estranho que parecesse, ele até se lembrava de algumas pessoas ali. Alguns idosos e idosas que também passavam a tarde acompanhados por enfermeiras ou pelos integrantes da família que ainda se importavam com visitas, não apenas em pagar a mensalidade e achar que estava tudo bem por se tratar da melhor casa de descanso para idosos.

Alguns eram mais saudáveis, outros menos, uma vez a um ano Zayn tinha escutado pelos corredores enquanto caminhava com seu avô até o quarto dele que um homem em cuidados paliativos havia morrido de madrugada enquanto dormia, mas ele não parou para escutar mais, câncer era uma coisa maldita o suficiente para que a idéia de seu avô assombrado por algo como aquilo o deixasse aterrorizado. Não que Henry estivesse completamente saudável agora.

Pensar em câncer e Alzheimer como qual das duas opções eram menos piores não era uma coisa que deixava Zayn feliz. Mas já fazia muito tempo que ele tinha desistido da felicidade como algo palpável que ele poderia apreciar em sua vida.

— Robert? — Henry pareceu surpreso como se tivesse acabado de notar Zayn ali, mas já fazia alguns segundos que Zayn tinha se aproximado com a mulher que o recebeu. Os dois estavam olhando enquanto uma enfermeira vestida com um uniforme branco e verde explicava a Henry sobre o remédio que ele estava tomando. — Robert — O senhor completamente grisalho continuou. — Eu já disse tantas vezes para você não se encher de tatuagens dessa maneira.

— Oi, vovô. — Zayn se abaixou ao lado dele na cadeira de rodas e segurou suas mãos com um sorriso gentil e iluminado por vê-lo, o contraste severo de suas mãos jovens e tatuadas com as frágeis e completamente enrugadas do avô fazia o tempo se materializar entre eles, fazia Zayn sentir seu coração apertado por constatar toda vez que a vida era finita e que por mais que você amasse uma pessoa com tudo de si, aquilo ainda assim não era suficiente para fazê-la viver para sempre. As duas mulheres se afastaram por um momento para deixá-los a sós. — Não sou Robert — Zayn balançou a cabeça devagar sem tirar os olhos dos de Henry. — Sou Zayn, seu neto, lembra? — Por favor, que ele se lembrasse pelo menos mais uma vez...

Against The Time | Zayn MalikWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu