Capítulo 27.

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Queimando o passado.

Pov – Louis.

Acho que nunca me senti tão ligado a ele, deixar que saiba quem eu sou e como me sinto, nos aproximou. Chorar, apenas deixar acontecer, as lágrimas, a dor e todas as coisas que sempre escondi, deixei que viessem à tona e não teria feito se não fosse Harry. Só diante de Harry, eu poderia me mostrar por inteiro pela primeira vez, desde... Desde sempre.

Agora as lágrimas se foram, me sinto de algum modo, leve e inteiro, consciente das minhas perdas, triste por elas, mas sem culpa, sem dor e principalmente com vontade de caminhar para frente.

Estamos abraçados na frente da pequena casa, que ainda é a recordação do meu passado, mas agora acho que posso apenas aceita-lo.

─ Desculpe por esse momento insano.

─ Este momento? ─ Ele sorri, como só Harry pode sorrir nesses momentos. – Está insano há alguns dias.

─ Então me desculpe por andar insano esses dias.

─ Nem pensar. ─ Harry me abraça. – Adoro isso e detesto rotina, adorei que simplesmente enlouqueceu um pouco, acho que foi bom para você.

─ Isso porque é maluco. ─ Eu brinco, caminhamos para varanda e ele se senta.

─ Ainda não acabei de beber, pega lá dentro a bebida.

Faço o que ele quer, estamos tranquilos e por alguma razão, não temos muitos zumbis.

Harry dá uns goles na bebida, está sorrindo, é um sorriso melancólico e um tanto marcado por nossas perdas. É mais uma tentativa de se sentir feliz, do que realmente um sorriso de felicidade.

─ Está anoitecendo. ─ Eu digo, brincando com minha faca e ele olha para o céu.

─ Temos teto ─ Ele diz.

─ Como se sente, não está passando mal?

─ Não, agora entendo porque Ethan e Chase... Porque Bob se entregava, acho que queria me sentir assim o tempo todo.

─ É um bêbado feliz. ─ Eu brinco com ele, que me sorri.

─ Já você, é um cretino quando bebe. ─ Harry diz, a sinceridade dele me faz rir.

─ Eu fico um chato quando bebo. ─ Admito, sempre foi assim, fazia tempo que não me dava a chance de simplesmente beber e extravasar.

─ Me conta. ─ Harry me pede, olho um instante para ele, depois fixo meus olhos na faca e nas lascas de madeira que retiro do piso, enquanto passo minha faca, me decidindo se Harry ainda vai gostar de mim ou não. – Chega de guardar, quero saber quem você era, nunca me importou, mas acho que faz diferença para você.

Harry está certo, faz diferença para mim e quero dizer quem eu era, nunca disse antes, ninguém nunca soube ou quis saber, mas sempre me senti inferior e agora que o apocalipse nos igualou, quero contar.

─ Merle tinha um traficante, um desses amigos dele. – Começo a contar, me deixar ser visto. – Era uma manhã qualquer, estávamos na casa dele, bebendo e assistindo desenho. Merle era difícil, nunca se controlava, começou a rir e fazer piada com o programa, os dois brigaram. Era o desenho favorito dos filhos do traficante, dei um soco no homem e ele me apontou uma arma, fiquei ali com uma arma na cabeça e todo mundo gritando. – Olho para Harry, busco algum tipo de olhar de recriminação, mas é apenas meu Harry, sem julgamento e me ouvindo atento. – Achei que iria morrer.

─ Que bela encrenca. ─ Ele sorri. – Como saiu dessa?

─ Ele me deu um soco, eu vomitei e os dois começaram a rir, se esqueceram. ─ Fico mudo um instante, Harry é paciente, está silencioso, ouvindo e me dando espaço e tempo. – Quer saber o que eu era? Eu era só o cara que seguia o Merle, que fazia o que ele queria, eu era um nada, só um caipira imbecil.

Caminhando Entre os Mortos | larry versionWhere stories live. Discover now