Capítulo Três - III

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Capítulo Três

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Alguns dizem que o prefácio da vida é a fase gestacional.

Jungkook não achava que, de modo geral, a vida tivesse um prefácio. Não existia um resumo sobre o que cada indivíduo iria viver, não tinha uma introdução, o começo era apenas o começo e com as primeiras linhas ele não podia definir o desenvolvimento e muito menos o final. Contudo, nos últimos dias ele começou a achar que sua vida fosse também um meandro do tecido espacial, uma possibilidade nova e inimaginável a senso comum e crítico, algo lírico e talvez poético. Talvez ele tivesse burlado as leis da existência, talvez ele tivesse vivido um prefácio longo demais, quase que uma construção para o desenvolver de uma vida completamente diferente de tudo o que viveu antes. E ainda, talvez prefácio não fosse a melhor definição. "Segunda chance" parecia mais aceitável, mas ele tinha uma sensação impotente sobre o conceito, para ele "chance segunda" ainda era pouco para o que tinha acontecido-o. "Piedade divina" parecia mais convincente, até porque aprendemos desde novos a dar créditos às divindades a respeito daquilo que somos incapazes de explicar e compreender. Assim, viver seu milagre parecia uma boa forma de seguir com aquilo e seguir com aquilo significava guardar sua alta junto aos seus documentos e conferir se tinha ou não guardado todos os seus pertences.

O Universo às vezes tinha propósitos estranhos, mas que de alguma forma, no fim, parecia fazer sentido. Foram meses dentro de uma clínica psiquiátrica, fazendo tratamentos químicos, artísticos e práticos. Quase um ano tendo seus pedaços costurados um a um. Quase um ano para perceber que era muito mais amado do que imaginava, um ano para entender que não tinha controle de tudo e que estava tudo bem perder a linha às vezes, porque sempre que errava ou era tomado pela fragilidade da impotência e depressão, tinha braços erguidos em sua direção, prontos para acolhê-lo.

E, aprendeu que acolher alguém não significa aprovar seus erros. Acolher fazia parte da construção humana. Quando foi abraçado por sua família, não estava tendo uma permissão para continuar errando, estava apenas tendo um lugar seguro para repensar e se autoavaliar sem o medo de ser julgado e pressionado para escolhas e ações súbitas que a maioria sempre nos força a tomar.

Já era dezembro e a neve ainda não tinha caído. Era também um fato curioso, no ano anterior a neve chegou mais cedo do que os outros anos e naquele ano em si estava atrasada. Talvez o tempo estivesse esperando-o. Foi quando a neve começava a querer cobrir a superfície sob seus pés que ele viu Jimin na praça, talvez ainda existisse algo que ele precisava fazer antes da neve cair de novo.

Nunca foi de pensar muito sobre coisas com aquela, mas agora ele gastava parte de seu tempo fazendo perguntas sobre tudo. Perguntas e perguntas. Tantas perguntas o fazia querer saber mais e mais, o fazia considerar o que era benéfico ou não e principalmente, estava se tornando crítico sobre o tratamento que permitia receber. No fim, Jimin tinha razão. Na verdade, ele tinha um palpite sobre Jimin sempre ter razão. Eram as perguntas.

Porque agora entendia.

Agora entendia porque Jimin sempre perguntava tanto. Foram às perguntas que nos trouxeram à civilização. Foram as perguntas que fez tudo o que existe hoje. O Jungkook que ele estava construindo era um Jungkook cheio de perguntas, estava tudo bem não ter respostas à princípio, porque a dúvida já era o bastante para não manter-se o mesmo, constante.

O Delator de Copas - JikookWhere stories live. Discover now