Capítulo 30

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Um som uniforme se fazia presente.

            Gotas, pausadamente, espatifando em alguma coisa. 

            Não consigo perceber.

            Um breve lapso de consciência despertou em mim, fazendo com que acreditasse que tinha alguma goteira vindo do telhado e que somente consegui ouvir agora que tinha fechado os olhos perto de Eva.

            Quando simplesmente os abri, notei que era tudo escuridão.

            As vistas se irritaram com essa ausência de brilho.

            Nenhum palmo poderia ser enxergado.

            Escuridão e mais escuridão.

            Gradativamente pude sentir o tato do meu corpo retornando, causando um choque térmico quando algo tão frio tocou em meus dois pulsos, notei com dificuldade que eles estavam completamente acorrentados, somente agora pude notar o quão apertado está, ao ponto de me causar dor.

            Meus braços estão erguidos numa forma semelhante à da cruz.

            O meu sentimento nervoso tinha voltado outra vez.

            Podia sentir os estímulos elétricos carregando a resposta de dor.

            Eu tinha, simplesmente, fechado os meus olhos, aproveitando aquele singelo momento que tive com Eva depois de tanto tempo longe um do outro e, de repente, me encontro aprisionado em um lugar desconhecido no qual a escuridão é preponderante.

            Eu acabei adormecendo?

            Seria mais um pesadelo?

            Só pode ser...

            Mesmo que um pensamento tente invadir a minha mente, trazendo a possibilidade de que, sei lá, eu possa ter sido dopado ou sequestrado, não faria tanto sentido. O Thiago havia fechado o estabelecimento, era praticamente impossível alguém entrar sem que eu sequer ouvisse barulho.

            Mas, e se estivesse escondido lá dentro?

            Talvez vocês tenham sido seguidos...

            Seus amigos podem estar na mesma situação que você.

            Os pensamentos sombrios vão penetrando de maneira calma dentro das entranhas do cérebro inteiramente cansado, como se fossem pequenas farpas que se prendem na pele depois de tentarmos nos equilibrar com as mãos em um tronco de árvore.

            Sempre dando mais atenção ao lado ruim.

            Olhando para o copo meio vazio.

            Simplesmente jogando fora toda a água que o preenchia.

            Agora eu pude sentir genuinamente o pavor de não saber o que realmente está acontecendo, entretanto, ainda me mantenho firme, preso à ideia de que isso seja somente mais um pesadelo, já que eles sempre têm sido constantes desde pequeno.

            Eu me apego a essa possibilidade.

            Como se estivesse abraçando um pedaço de madeira boiando num oceano.

            Mesmo com o pavor.

            Só que, agora, parando para pensar melhor, percebo que simplesmente não consegui avisar o Thiago para trocar a guardar antes de me agarrar ao sono, o que deixa o ardor da tensão subir lentamente pela musculatura que segura a minha coluna vertebral.

Contenção: O EstopimWhere stories live. Discover now