Capítulo 24

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Minha mão esquerda apertava o cabo da faca com força.

            Os meus joelhos estavam semiflexionados.

            Estratégias e mais estratégias rondavam a minha consciência.

            Podia sentir o suor escorrer pela lateral de minha face enquanto percebia que poucos centímetros me separavam do perigo que me encarava com um olhar difícil de identificar os seus sentimentos internos.

            Isso me assustava mais.

            Não saber o que se passava pela cabeça dele.

            Ou melhor, inferir.

            Essa foi uma das maiores lições que tive com os meus mestres e com Eva, de que sempre devemos olhar para os olhos da outra pessoa, pois assim conseguiremos decifrar o sentimento que a alma está tentando colocar para fora.

            Aquele famoso ditado.

            Os olhos são a janela da alma.    

            Nada é capaz de ser secreto quando as pupilas gritam.

            O meu olhar encarava o homem, ou melhor, o jovem garoto, com idade semelhante à minha, que vestia um terno preto bem ajustado em seu corpo relativamente esguio, com a presença de alguns músculos evidentes, com duas espadas posicionadas em sua cintura, de forma a ser fácil retirá-las da bainha.

            Eu pensei que era o cara de mais cedo.

            Estava equivocado.

            Isso apenas torna a situação muito pior.

            Notando a sua cor de pele, uma mistura de flocos de neve suaves unidos à uma coloração de mel intenso, enquanto as suas pupilas eram de uma escuridão completa que parecia uma tormenta sombria.

            Seu cabelo era curto na mesma cor das írises.

            Sua postura era ereta de forma impositiva.

            Imponente ao ponto de fazer as pernas tremerem.

            No meio de toda essa adrenalina, pude perceber que em sua bochecha esquerda havia uma pequena cicatriz, enquanto na sua mão direita carregava uma pequena bolsa na cor azul marinho.

            Eu podia ouvir meu coração batendo em disparada.

            Não tinha para onde fugir.

            Se tivéssemos que lutar era certeza que seríamos derrotados.

            Mesmo tendo lutado vezes suficientes para saber me movimentar numa luta com espadas, na situação que se apresentava não tinha muito o que fazer porque eu não tinha uma espada e estava há uns bons anos sem lutar contra ninguém, nem mesmo de brincadeira.

            - Podem soltar essas facas – o jovem disse.

            Eu engoli em seco.

            Contudo, ele continuava no mesmo lugar.

            - O que você quer? – encorajei-me a dizer, mantendo a posição de defesa.

            - Apenas fazer uma visita em nome de uma pessoa.

            - Visita? Que pessoa o mandou? – eu questionei.

            No momento que ele disse que estava vindo em nome de alguém, todos os meus pensamentos se focaram no tal Karayan que tinha escutado mais cedo naquele atentado que derrubou o prédio do governo da cidade.

Contenção: O EstopimWhere stories live. Discover now