Capítulo 11

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Já era quase meio-dia.

Pela última vez que havia olhado o relógio.

Atravessamos três longas ruas completamente vazias.

Já estávamos praticamente próximos da ponte que nos levaria a atravessar para nossa segunda fase do plano, que é focar em encontrar uma farmácia e a loja de conveniência, porque achávamos que, após cortar o rio, as probabilidades de nos deparamos com os monstros seriam ainda menores, podendo nos levar a buscar suprimentos com mais calma.

Foi a única coisa que conversamos enquanto caminhávamos pela pista reta que havia ao fim da ladeira.

Num consenso silencioso nos organizamos com Thiago, ficando mais a frente, com o auxílio de Alice, que volta e meia iria alternando com Eva, para poder fazê-lo caminhar sem forçar tanto o joelho, enquanto eu ficaria mais distante, para que pudesse ficar de vigia em nossas costas e lados.

Atento a qualquer barulho.

Qualquer pequeno movimento.

Eu tentava manter minha atenção ao máximo.

Sinceramente, eu sentia o medo se aflorar sobre o meu ser toda vez que suspeitasse de algum movimento porque, naturalmente, me lembrava da situação de Jonas, que ainda percorria a minha consciência cansada.

Eu já havia me dado um mísero voto de compaixão ao repetir internamente que não havia muito o que ser feito, pois a culpa era da infecção que tomou conta desse mundo, contudo a palavra "assassino" ecoava nas vielas da mente.

Repetindo e repetindo.

Junto com mais questões.

Será que terei que matar outra pessoa?

Ou será que terei que matar aqueles que estão à minha volta?

Mesmo que o inferno tenha se colocado de forma presente em questão de instantes, deixando, a cada minuto que passa, um egoísmo ainda mais inflamado, a máxima de "eu antes deles", contudo, ainda não me sinto confortável com essa visão de estar disposto a sacrificar outra vida pela minha própria sobrevivência.

Eu ainda sou humano.

Minha pele não está na cor cinza azulada.

Não sinto vontade de morder gente.

Nem me movo por causa de barulhos altos.

Por mais irônico que seja, mas o que me diferencia desses monstros nos momentos em que a minha humanidade tem que ser sacrificada em segundos para ainda me manter como um ser humano?

Isso chega a ser sórdido de se pensar.

Nenhuma vida importa no desespero.

Somente a sua.

Sério mesmo?

Olhando para cada lado desta avenida, com o pavor percorrendo cada vértebra da minha espinha, fazendo eu me preparar emocionalmente para enfrentar qualquer tipo de ameaça que poderia surgir, sendo ela humana ou não.

Nós estávamos caminhando por uma pista reta, em que havia mato com árvores altas em cada lado, como forma de ocultar algumas casas que ficavam mais adentro, sendo este quarteirão denominado de Segredo justamente por esse motivo.

Esquerda.

Direita.

Costas.

Contenção: O EstopimWhere stories live. Discover now