Capítulo 37

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Sinto Eva abraçar o meu braço com medo.

            As palpitadas em meu coração eram intensas.

            Porque havia apenas uma saída...

            O estalo finalmente veio trazendo o seu sabor tão amargo ao ponto de ser integrável, pois, quando o plano toma ainda mais forma em minha consciência percebo que a melhor alternativa seja eu me usar de isca, distraindo aqueles monstros enquanto o pessoal adentra pela floresta podendo sumir completamente do campo de visão daquele homem que controla os mordedores.

            Eu serei o estímulo que distrairá, ao menos por um tempo.

            Tempo suficiente para que as pessoas que amo escapem com vida.

            Provavelmente o meu destino será ser devorado por completo, mas dane-se.

            Eu olho a faca guardada em meu bolso para logo após colocá-la em minha mão, apertando o seu cabo com força, e em sequência me viro em direção a Eva de forma que seu abraço acaba se desvencilhando, trazendo uma sensação de vazio.

            Seus olhos encaravam os meus.

            Eu ainda quero ficar.

            Mas tento não derramar as lágrimas sobre a minha face.

            - Eva... – eu disse testando a firmeza do meu tom de voz e ainda tentando demonstrar força.

            Ela me encarava.

            Com ansiedade evidente.

            No fundo, ela sabe que não tem muito mais o que ser feito.

            O silêncio me engolia de tal maneira que parecia que todas as cordas vocálicas do meu pescoço tinham sido completamente destruídas, mas não podia voltar nenhum centímetro atrás na minha decisão.

            - Eu vou distrair os mordedores enquanto vocês fogem para a floresta – usei toda a força que me restava.

            O desespero ficou evidente nela.

            Ela não tentou guardar seu sentimento.

            - Não, você está louco! Você não pode fazer isso! – ela disse com pressa.

            Calmamente as lágrimas desceram o seu rosto.

            A dor era escancarada em sua janela da alma.

            - Nós conseguiremos achar uma solução para todos nós podermos chegar inteiros na casa de Davi como tínhamos prometido – ela continuou dizendo enquanto tocava em meu braço – Iremos cuidar de você, eu mesma irei cuidar de você! A mordida nem foi tão profunda assim, então pode ser que você consiga ficar conosco por muito tempo – mesmo falando rápido era evidente o desespero em sua voz.

            Toquei em suas bochechas com as minhas mãos frias.

            Sua voz cessou.

            Colei a minha testa na sua.

            - Você já fez muito por mim – eu disse tentando manter a minha voz equilibrada.

            As lágrimas começaram a despencar copiosamente.

            Percorrendo a sua face e chegando a encostar em meus dedos.

            A derme fria dos meus dedos sendo aquecida pela lágrimas salgadas que derramam das pálpebras de alguém que me faz uma vontade incontrolável de permanecer, nem que seja somente por mais um segundo, o que traz uma mistura dolorosa entre o frio e o calor que cada um de nós está exalando neste breve momento.

Contenção: O EstopimOnde histórias criam vida. Descubra agora