Capítulo 4

544 400 69
                                    

A gritaria era extrema de todos os lados.

Mal foi possível ouvir o vidro se despedaçando.

Agora a cabeça da menina estava na parte de dentro da sala tentando raivosamente entrar no recinto.

Não parava de morder o vento.

Baba ensanguentada escorria de sua boca.

Meus olhos não ousaram, nem por um segundo, se desviar daquela pele em um tom entre cinza e azul, como se sua corrente sanguínea estivesse esvaziada por completo, seus olhos eram fundos e escuros ao ponto de o branco da pupila ser inexistente, juntamente com os cabelos que pareciam sem pigmento algum e, por fim, seu cheiro era de mais absoluta putrefação, como se estivesse com a carne sendo rasgada lentamente por dentro da derme.

Odores que traziam uma ânsia extremamente intensa.

Seus berros competiam com o da turma.

O professor Júlio pensou que era apenas uma brincadeira sem graça dos alunos do primeiro ano, chamado comumente de trote de começo do Ensino Médio, contudo recuou no instante em que tentou tocar a face daquilo, que algum dia foi uma garota, e quase teve sua mão direita mordida por inteira.

Ele pediu silêncio para poder falar enquanto cobria o nariz por causa do cheiro.

Batia seu pé constantemente em um tom de impaciência.

- Para com isso Leia! – pediu o professor.

Em vão...

- Pare já com isso, Leia, se não terei que levá-la a coordenação – pediu outra vez.

Outra vez em vão.

As pancadas que ela estava dando nas portas estavam ficando cada vez mais fortes, à medida que os seus gritos aumentavam, ao ponto que eram visíveis suas cordas vocais quase explodindo dentro do seu pescoço.

Recuei mais e puxei Rana comigo.

Ela ficou do meu lado.

Nós dois estávamos abismados.

O restante da turma, com exceção de Davi, rapidamente se moveu para o lado mais extremado da sala, bastante próximo da minha carteira, se mantendo num amontoado de puro pavor, sendo o professor o único mais perto da porta.

O barulho da madeira se quebrando.

Aquele pedaço não iria aguentar por tanto tempo e assim estaríamos com ela aqui dentro.

Meus pensamentos se aceleram com as opções do que eu poderia fazer para me proteger de ser mordido por aquilo, porque não será uma experiência muito agradável.

Olhando ao redor.

Somente carteiras, mochilas e cadernos.

Havia a cadeira do professor atrás da mesa próxima a mim.

Estou a encarando neste exato segundo pensando que talvez possa ser uma boa ideia utilizar de escudo para pelo menos tentar mantê-la afastada.

Júlio pede outra vez, dessa vez com raiva.

- Para com isso Leia! – esbravejou.

Nada adiantou.

Era como se nenhuma palavra pudesse ser entendida.

Por mais que fosse alto e claro o que estava sendo dito.

Contenção: O EstopimTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang