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Meu coração batia tão rápido que sentia como se ele fosse uma peça separada de mim, meus pés batiam firme no chão a cada passo largo que dava no corredor do hotel.
Quando cheguei na porta, respirei fundo lentamente organizando meus pensamentos antes de bater, bati três vezes na porta rapidamente ficando ali inquieta esperando. A porta se abriu e finalmente meus olhos encontraram ela, pareceu que eu desliguei por uns segundos e tudo que enxergava era apenas ela ali na minha frente tão brilhante com seus cabelos ruivos, usando essa camiseta preta e um moletom preto e cinza, me fez sorrir de leve ao ver que ela está descalço.
— Oi — Eu disse tão ofegante como se tivesse vindo correndo.
— Oi — Ela respondeu num sorriso tão vergonhoso e ao mesmo tempo inundado de felicidade.
Meio sem jeito fui pra perto dela e a peguei num abraço apertado tão apertado que seu corpo pareceu menor do que imaginava, senti com todo meu corpo o seu no meu fazendo meu coração se incendiar dentro do meu peito, ela passou os braços em volta do meu pescoço encostando seu rosto no meu ombro enquanto me apertava com força contra si.
Eu desejei isso mais do que imaginava, mais do que conseguia lidar, foram três longos anos de espera, três longos anos de relacionamento à distância, eu aqui em São Paulo e ela lá em Nova Jersey, tão distante e tão impossível, mas de alguma forma nós conseguimos, nós fizemos isso dar certo. E naquele momento eu finalmente tinha ela nos meus braços, mal conseguia assimilar isso.
Nos abraçamos por longos segundos sem dizer nada apenas ouvindo nossas respirações e sentindo nossos corpos. Me separei e não conseguia parar de sorrir um minuto e ela também não.
Sadie fechou a porta atrás de nós e me mostrou o hotel em que estava, ela disse muitas coisas naquele momento, mas minha cabeça já não se lembra mais tão bem, eu só conseguia olhar pra ela e analisar cada minucioso detalhe de seu rosto, suas sardas, suas sobrancelhas tão clarinhas sem maquiagem, as linhas da sua boca e nariz, tudo que eu nunca consegui perceber antes.
— Seu rosto... — Me aproximei dela que estava em pé ao lado da cama do hotel e segurei seu rosto com a mão.
— O que tem meu rosto? — Seu sorriso tão grande e seus olhos azuis me encararam.
— Eu só quero olhar pro seu rosto pra sempre — Acariciei levemente seu rosto com o dedão.
Sadie colocou sua mão na minha fechando os olhos, me aproximei dela sentindo todo tipo de ansiedade possível e nervosismo, seus olhos se abriram e aquele azul que tanto sonhei em ver pessoalmente um dia me hipnotizou me levando a sentir todo meu corpo tremer, a beijei como se fosse a última coisa que poderia fazer na vida.
Foi indescritível poder finalmente saber como era ter os lábios dela sobre os meus depois de tantas longas noites fantasiando como seria esse momento.
Ao terminar o beijo ela olhou pro chão escondendo o rosto com uma timidez que eu não esperava, quando voltou a me encarar com um sorriso apertado e o rosto tão vermelho eu não segurei meu sorriso bobo, ela era a garota que me fez chorar todas as segundas-feiras porque eu não a tinha perto de mim e a ter naquele momento parecia surreal.
Naquele dia trocamos mais beijos pra matar uma vontade reprimida de anos, almoçamos num restaurante que eu prometi milhões de vezes que a levaria e cumpri, pude decorar cada detalhe dela, como anda, como fala, gesticula e todos os detalhes que eu quero lembrar pra sempre, detalhes que vou revisitar incansavelmente depois que ela for embora.
Enquanto íamos de volta pro hotel no Uber, naquela cidade iluminada passando de fundo, nossas mãos dadas em cima da minha perna, eu olhei pra ela e parei meu olhar ali com a cabeça de lado encostada no banco do carro, encarando cada detalhe do seu rosto de lado, seu maxilar tão bonito marcado, suas sardas que eu amo tanto, seu olho que é lindo como muda de cor dependendo da iluminação, seu cabelo ruivo que eu não me canso de elogiar atrás de sua orelha que é muito mais pequena que a minha e isso internamente me causa risos sem motivo e seus lábios tão delicados e macios.
Ali eu senti todos os sentimentos bons do mundo, meu coração acelerou, mas de uma forma diferente, uma forma que parecia fogo no meu peito queimando tudo em um sentimento explosivo que eu queria gritar, gritar pro mundo que a amava, eu só queria ela mais do que era possível, ali eu senti amor, o puro e verdadeiro amor.
— O que foi? — Sadie me olhou sorrindo depois de longos segundos que encarei ela.
Eu não respondi nada, só consegui sorrir com o sorriso mais bobo e apaixonado que eu dei na vida, não ia parar de admirar seu rosto apenas mal iluminado pelas luzes da cidade fora do carro.
Ficamos nos olhando por longos segundos com sorrisos radiantes e cheio de sentimentos no rosto, me perguntava o tempo todo se ela estava sentindo o mesmo que eu, mas esperava desesperadamente que sim.
Naquela noite fizemos algo errado, achamos a porta que iria para as escadas que davam acesso ao topo do prédio e por sorte ou erro humano a porta estava destrancada e bastou subir poucos lances de escadas para acessarmos o ponto mais alto do hotel.
O terraço era vazio, monótono, cinza, barulhento por causa da caixa da máquina do exaustor e frio, naquela noite o vento gelado cortava o céu. Observamos a cidade por cima por minutos que eu lembraria pra uma vida inteira
— Isso me lembra muito aquela música a última noite do Jão — Olhei para Sadie que prestava atenção em mim com toda vontade enquanto permanecia encostada na beirada do terraço, seus cabelos voavam pelo vento deixando aquela cena mais bonita.
Ela combinava com São Paulo, combinava com o cinza estético e as noites de vento gelado da cidade que não dorme, combinava com cada esquina iluminada durante a madrugada toda, combina comigo que era completamente apaixonada por tudo isso.
— Me lembra a parte que diz, "uma noite no alto de um prédio vendo a cidade por cima". E agora eu percebo como eu amo olhar a cidade dessa forma, eu amo tudo isso, o céu me fascina e o céu que tem dentro dos seus olhos é o que mais me encanta — Eu disse tudo isso numa respiração descompassada e num medo irrealista de que eu talvez estivesse falando demais.
— Você me mostrou essa música, eu lembro dela — Seu sorriso fechado me fez ter alívio, ela sempre disse que eu nunca falei demais, mas eu sempre achei que não era verdade — Só espero que essa não seja a última noite.
Sadie me olhou sorrindo aberto e eu ri soprado imaginando que aquilo seria inviável, nos parecíamos a maior certeza do mundo naquele momento, ali olhando a cidade por cima com ela a mulher que foi o motivo de eu esperar tantos anos só pra ver ela pessoalmente, eu definitivamente não estava cogitando jogar todos esses anos fora e seu sorriso após dizer aquilo também denunciava que ela não queria que fosse a última noite.
Não seria a última noite.
Mas foi.
...
Bom, esse imagine é bem diferente dos padrões que tem aqui, mas eu queria fazer algo inspirado em alguma coisa que aconteceu de verdade comigo e eu tive que escolher justamente essa história porque ela tinha um ar romântico e melancólico.
