20| Por trás da Catedral.

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I saw you creeping around the gardenWhat are you hiding?Te vi andando estranhamente pelo jardimO que está escondendo?"Lana Del Rey, Big Eyes"

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I saw you creeping around the garden
What are you hiding?
Te vi andando estranhamente pelo jardim
O que está escondendo?
"Lana Del Rey, Big Eyes"

      NÃO PRECISAVA DE muito para entender a jogada de Candice. As cartas no meio da noite, as pistas sem nenhum sentido. Tudo arquitetado para seguir a linha de tempo dela. O problema era esse, era a sua linha de tempo, colocando sempre os empecilhos e momentos nossos que foram importantes para Candice, e talvez não para mim. Não tinha como ir direto ao ponto em que ela queria. Não sei como será quando me entregar a última pista, se a gente vai se encontrar, ou se ela vai simplesmente sumir, o que não é tão impossível pensar assim, já que vive no mundo das sombras.

"Você estava tão bonitinho roncando que tive pena de acordar você.
Me pega às 19h na minha casa amanhã : )"

A questão é a seguinte, desde que me entregou a carta que mostrava o bilhete para eu buscá-la na casa dela quando terminasse o seu expediente, um encontro de dois anos atrás, eu não recebi mais nenhum direcionamento, mais nada que dissesse que eu deveria ir para a direita ou para a esquerda. Ficaria estagnado esperando mais outro vento frio atravessar a janela da pousada Batchelder e soprar em meu rosto se não quisesse saber onde isso tudo iria terminar. Mas não era o caso.

Lembro que ela não tinha colocado onde era o endereço da sua casa, nem nada do tipo que constatasse onde iria buscá-la, e o que eu fiz foi procurar a sua residência no sistema do Franklin's. Não foi tão difícil, porque eu simplesmente eu tinha subordinado Edmund em relação às suas refeições livres que fazia escondido atrás da cozinha, e ameaçando contar para Oscar se ele não me passasse o maldito endereço.

Ela sabia que eu ia me esforçar até achá-la, queria saber até onde iria, até onde estaria a minha determinação para sair com ela. Lembro que desde aquele tempo, sempre me deu sinais de que era uma completa incógnita, nunca mostrou todas as cartas na mesa de uma vez só, era tudo calculado e sutil. Deve ser por isso que aquele Matthew de dezoito anos estava tão obcecado por ela e sua perseguição. Nunca antes jogara assim com ninguém, entretido no jogo que queria ganhar, e que ao mesmo tempo não sabia as regras dele, nem se era um jogo de estímulos o qual inventou na cabeça ou realmente era algo real entre os dois.

Faltavam apenas duas semanas para o Natal, e estava disposto a passar a ceia em algum bar por aqui perto. Não podia fazer nada, estava sem emprego, sem dinheiro, e então minha véspera esse ano seria escutar as conversas dos homens insatisfeitos com a vida no Velho Jack enquanto escutava "Feliz Natal" do barman em uma voz enfadonha e pouco excitada com a televisão ligada passando aquela música "Jingle Bell Rock", que só vou esquecer da letra em janeiro. Mas era o que acontecia quando se não tinha nenhuma família para passar o frio da época natalina.

Meus dias estavam contados por aqui em Berkeley. Não havia como me manter sem a poupança do Bruce, o que era muito enfadonho sempre ter dependido do dinheiro dele todos esses anos, e agora com o cartão bloqueado, era quase impossível não ter uma vida simples aqui, uma vida que nunca tive antes. Passei alguns dias procurando trabalho nas ruas da cidade, e seria até fácil se dissesse que era sobrinho do Oscar, ganharia ofertas de serviços em um instante. Mas essa era a vida real. Nunca tive um contato muito realista com as crises que pessoas normais têm, de pagar contas atrasadas, esperar receber o salário no final do mês, ou contar as moedas do bolso e não gastar com coisas banais. Até agora não tive nenhuma promoção de nada.

Às Vezes (Não) Tão DoceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora