19| O Lado Podre da Fruta.

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Maybe you ran with the wolvesAnd refused to settle down Talvez você tenha corrido com os lobosE se recusado a sossegar"Taylor Swift, Daylight"

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Maybe you ran with the wolves
And refused to settle down
Talvez você tenha corrido com os lobos
E se recusado a sossegar
"Taylor Swift, Daylight"

PARA FREUD, O SONHO constitui uma realização disfarçada de um desejo reprimido. Essa noite eu sonhei que estava fugindo com David para o Norte de Minnesota. Se isso realmente significa uma vontade reprimida, estava destinada a passar o resto de minha vida com o fato de ter abandonado a minha própria mãe enquanto ela apodrecia no calor da Califórnia.

Não que de alguma forma eu a detestasse, nada muito parecido com esse sentimento, mas uma certa indignação e turbulência em minha mente sobre o fato de que tudo ocorria errado comigo e com o papai quando ela estava por perto. Uma vez, David e eu planejamos passar o dia nas colinas de Berkeley, porque lá iria ter uma turma de escoteiros que ele havia nos inscrito. A atividade seria com a presença paternal, por conta do dia dos pais que se aproximara. Mas ela não quis autorizar a minha participação, e a autorização deveria ser deliberada por duas assinaturas. Enola disse que não tinha anticorpos o suficiente para suportar o ambiente silvestre. Ou quando no Clube do Livro que participara na nona série com as meninas da minha classe, não deixou que o livro da semana fosse um dos publicados do papai, porque dizia que não havia bom senso em ficar mencionando que era filha daquele "sujeito".

Mas tinha um dia, apenas um dia no ano que Enola não poderia colocar o seu dedo.

Vinte de Julho. Meu aniversário.

Acontece que o aniversário do papai era um dia antes do meu, dia dezenove. E desde que assinaram o papel de divórcio, era tradição papai e eu passarmos o seu aniversário juntos esperando dar meia-noite para ele me abraçar, desejar um feliz aniversário, dizer que me ama, e falar o nosso lema: "Você é a minha filha predileta", - mesmo eu sendo a única - era a nossa brincadeira.

Hoje era esse dia, o dia mais importante do ano. O dia em que a minha mãe preparava um café da manhã especial e enquanto derramava o mel em meus waffles, imaginava a grande surpresa que David faria para nós, seja passear de bondinho na cidade ao lado, ou ter um rodízio de pizza que ele amava no Root's Bendley, ou atirar pedras no rio do parque da cidade.

Acontece que alguma coisa dentro de mim me dizia que esse ano iria ser diferente. Não sei se seria uma diferença boa ou ruim, mas esse pensamento intruso acontecia em todos os anos depois que David saiu da nossa casa, como se fosse um receio enorme meu, um receio de que a cada ano que passa, mais as nossas memórias juntos ficam velhas e distantes, e quanto mais distantes, mais fáceis de serem esquecidas. Mas todos os anos nesse mesmo dia, no meio de julho, pensava isso e nada acontecera. Esse ano não seria diferente dos outros, nada iria mudar.

A primeira coisa que fizera quando abri os olhos, foi voar em direção à penteadeira e examinar o livro que estava a um passo de finalizar em cima da cadeira almofadada. Fiz à mão, e cada página me inspirei em algumas cenas de seus livros. David escrevia livros de romance, fantasia e mistério, o que provava ainda mais a sua habilidade na escrita independentemente do gênero, ele era um artista. Mas em cada página em que me inspirava em suas histórias, fazia a nossa versão, como se tivéssemos invadido os seus livros e roubado a cena de todos.

Às Vezes (Não) Tão DoceWhere stories live. Discover now