22| Uma Cortesia dos Crawford's.

1K 82 166
                                    

Hot like the summer and mean like a childWho keeps crying till she gets her wayQuente como o verão e cruel como uma criançaQue chora até conseguir o que quer"Lana Del Rey, Because Of You"

Oops! Questa immagine non segue le nostre linee guida sui contenuti. Per continuare la pubblicazione, provare a rimuoverlo o caricare un altro.

Hot like the summer and mean like a child
Who keeps crying till she gets her way
Quente como o verão e cruel como uma criança
Que chora até conseguir o que quer
"Lana Del Rey, Because Of You"

     SEMPRE TIVE AMARGURA das coisas que eu não conseguia ter, como por exemplo, um Natal em família. Não precisava ter uma mesa farta de biscoitos e aquelas tortas muito elaboradas, ou uma árvore cheia de presentes em seu pé, mas só uma mesa com pessoas de verdade, sem me sentir como um boneco de cera, e me sentia quase sempre assim com Greta e Bruce.

     Todas aquelas luzes natalinas sempre me lembravam que mais um ano, mais um dia qualquer de dezembro, não seria mágica para mim. Eu tinha a amargura do Natal.

     Ethan e eu éramos os que sobravam na mesinha das crianças choramingando por atenção dos pais. Mas a Greta, minha mãe, era vaidosa demais para fornecer um minuto sequer de atenção para seus filhos, pois isso significaria deixar de falar com suas amigas sobre aquela droga da Associação de Pais e Mestres onde era a vice-presidente. Enquanto meu pai, era um escroto e psicopata que conseguia tudo o que queria com suas armas da persuasão. Demorei muito pra entender que ele, por muitas vezes, embebedava algum outro proprietário de bens opulentos e pedia para assinar um contrato em troca dele dar uma garrafa de bebida.

     Eram os Natais que eu conseguia enxergar o quão nunca iria ser como as outras crianças, que comemoram o aniversário com a família, que jogam futebol na escolinha enquanto escuta os pais vibrando, ou quando caem da bicicleta, e espera a mãe ajudar com um curativo.

     E ali estava alguma coisa pra me lembrar das coisas que não iria ter, me lembrando que o Natal estava próximo demais, uma ligação de Ethan. Ele quase nunca me ligava, e quando isso acontecia, era pra saber se poderia dar cobertura a ele para pegar o carro do Bruce escondido.

     Às vezes tinha inveja de Ethan, parecia mais perspicaz de uma forma incansável - de uma forma que nunca consegui ser. Ele conseguia ter uma vida dupla, uma que agradava o Bruce, e outra vida que agradava a sua própria alma. Ethan é três anos mais velho que eu, e usou a sua sabedoria para tirar notas excelentes, esconder as suas saídas no meio da noite, esperava dar uma festa enquanto nossos pais estavam viajando, e era o número um no time de hóquei dele. Enquanto a mim, não tinha muita paciência para encobrir algo que fazia. Na verdade via aquilo com um determinado prazer, era inefável para todas as células do meu corpo.

     E acabou resultando naquilo, Ethan sendo o primogênito filho, o hercúleo exemplo da família, sendo o herdeiro de sua empresa, já que cursa administração em uma das faculdades mais almejadas do mundo e era um ótimo atleta - não que também fosse tudo isso, mas não esforçava tanto. Era desse poder que Bruce precisava para me colocar em sua lista de erros: ter um segundo filho.

     "Oi, Ethan" - minha voz saiu mais enfadonha do que planejava, porque uma ligação dele não poderia significar coisa boa.

     "Matthew. Tem tempo para conversar?" - naquele instante eu não havia elaborado muito bem o que iria fazer hoje, mas tinha planos para procurar emprego depois do almoço, no centro da cidade. Talvez se mostrasse que era um Guinever, sairia hoje com a carteira assinada.

Às Vezes (Não) Tão DoceDove le storie prendono vita. Scoprilo ora