Capítulo 39: Sentimento Familiar

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Andrew

Acho que fazia parte do meu trabalho carregar minha irmã de lá pra cá. Quem nos visse assim, comigo carregando-a em meu ombro, pensaria que sou algum sequestrador ou coisa do tipo. Por isso preferi mantê-la longe dos olhares de outras pessoas.

Enquanto eu a levava para uma cela, fingia que minha perna sangrante não ardia. Eu sei que meu machucados cicatrizam rápido, tem toda aquela história sinistra que Janet tinha nos contado, então eu não poderia ficar reclamando. Mas sim, eu sinto dor mesmo que não pareça, principalmente agora com toda essa minha resistência. As facas de Amberly não são normais e me atingem profundamente, provavelmente uma espada ou faca normais sejam mais fáceis de lidar do que elas. Por isso tento manter minha irmã sempre minha aliada, para evitar minha desgraça.

A Comissão estava vazia, todos lutando por uma causa maior. Não me impressionaria se Janet nos atacasse do nada. Desse jeito realmente cogito a hipótese de não estarmos sozinhos nesse lugar e que Janet estaria realmente aqui. A cada passo que eu dava, mais minha respiração ficava presa, não porquê algo diferente estava acontecendo, mas sim porque eu estava ansioso e com medo. Pensava nas mil formas de como tudo poderia ir por água abaixo e realmente não fez muito mal pensar nisso.

Até a luz se apagar, até que tudo realmente desse errado. Prendi a respiração, estava com medo, minhas pernas estavam trêmulas. Se qualquer um me visse, pensaria que sou um fracote, um frango, por isso tive que mudar isso. Ajeitei a postura e arrumei minha irmã que estava apoiada no meu ombro.

E então alguém apareceu no meio da escuridão, me dando uma forte porrada no estomago e me fazendo cair sobre minha irmã. Pensei ser coisa da minha cabeça até essa pessoa me pegar pela cola da camiseta e socar meu rosto, não era uma pessoa normal para me fazer desmaiar.

Era Janet.

Amberly

Acordei com uma dor infernal de cabeça além da minha barriga sangrando. Merda, o que Janet tinha feito comigo? Coloquei a mão direita sobre o corte e tentei me levantar devagar. Ao levantar a blusa, o corte estava com sangue à mostra. Criei uma adaga e cortei uma parte da minha roupa, ficando parecido com um cropped, porém com a barriga vermelha de sangue. Amarrei o tecido sobre o corte e continuei com a mão sobre ele, andando devagarinho, um passo atrás do outro, para não piorar a minha situação.

Se os zumbis fossem reais eu acho que faria todos acreditarem que era um deles, ganhando um grande tiro na fuça, mas esse lugar está vazio demais para ganhar um tiro do nada. Foi tudo tão estranho. Uma hora eu estava com Janet, ela brincando dentro da minha cabeça, fazendo coisas comigo que eu não entendia, e agora eu estava aqui, com a barriga sangrando e um mal estar do caramba.

Foi como se eu perdesse o controle do meu corpo por um instante e acabar nesse estado, com as consequências dessa pessoa. Eu não sabia como voltaria, apenas desejava que nunca mais acontecesse de novo. Eu tenho dois filhos para cuidar e as pessoas que estão com eles estão começando a ficar de saco cheio, eu não poderia dar mais nenhuma desculpa para não cria-los. Como eu falaria para Nora o que eu estava passando? "Desculpe, Nora, é que eu tenho uma louca dentro da minha cabeça"?

Até que eu encontrei minha luz no fim do túnel, uma sala com a luz acesa era a única que tinha aqui, além da luz piscante do corredor. Quando me aproximei meus olhos demoraram para se acostumar, fazendo com que eu parecesse alguém que acabou de acordar. Porque eu realmente acordei de um sono pesado onde minha mente estava dormindo, porém meu corpo não.

─ Pensei que fosse demorar uma eternidade ─ era uma sala clara apenas com uma luz branca acesa, mas já era forte o suficiente para iluminar tudo. Janet estava lá, sentada em cima de uma mesa de escritório com cara de tédio. Em baixo dela estava meu irmão com o lado da cabeça sangrando e debruçado sobre a mesa. Como ela pôde? ─ Vamos logo ao assunto ─ ela se levantou da mesa deixando meu irmão um pouco mais livre. Eu estava lutando para não cair no chão de exaustão, mas continuava curvada com a mão sobre o corte na barriga.

─ O que você quer? ─ disse com o resto de força que ainda tinha. ─ O que você quer, hein? Você não me quer, você não quer nada disso, então por que faz isso? ─ dei uma leve pausa para recuperar o fôlego. ─ Você quer nos ver sofrer. Olha para ele, Jan ─ por um segundo hesitei em chama-la por esse nome, essa não era mais Janet. ─ Ele não aguenta mais e você não precisa dele. Então o que você quer? 

─ Eu quero fazer um teste ─ ela disse por fim. ─ Eu vou me entregar, Amberly VanCite ─ levantei uma sobrancelha, não achava isso realmente possível. ─ Você nunca mais vai ficar sabendo da minha existência, apenas das minhas consequências ─ ela riu baixinho como se fosse mudar meu ponto de vista sobre ela. ─ Eu quero ver a potência do seu poder, eu quero ver se eu posso combater vocês dois juntos e eu sei que posso. 

─ Não podemos, vamos destruir esse lugar.

─ Há metal resistente em volta, não há nada com que se preocupar. Eu planejei tudo isso.

Depois de um tempo Andrew se levantou ainda cambaleando para o lado. Só conseguiu se manter estável quando se apoiou na parede, soltando todo seu peso sobre ela. Seu rosto estava tão coberto de sangue quanto minha mão e minha barriga. Não hesitei em ir até ele mesmo estando tão machucada quanto ele. Quando segurei seu rosto eu vi que estava com raiva, seus olhos já diziam isso. Ele queria matar Janet, mas sabe o quanto ela significa para mim, ou pelo menos quanto a imagem dela significa para mim.

─ Temos que dar a ela o que ela quer ─ sussurrei em seu ouvido mesmo sabendo que ela ouviria. Acho que eu não tinha mais forças para falar em alto e bom som. Ele balançou a cabeça concordando mesmo com raiva, ele sabia que não poderia fazer nada.

Mesmo que eu estivesse com medo de incinerar Janet viva aqui mesmo nessa sala fechada, eu sabia que não tinha jeito melhor de sair dessa situação. Depois de tudo que vivemos juntas, agora eu finalmente entendo. Eu tenho que deixa-la ir, ela está morta e eu demorei muito tempo para me ligar disso. Minha Janet está enterrada naquele buraco de terra, não respirando na minha frente. É por isso que eu tinha que fazer isso e não fugir. É por isso que tenho que enfrentá-la.

Quando nossas mãos se tocaram aquele sentimento familiar renasceu dentro de mim. Faziam apenas alguns meses que fizemos isso da última vez. Andrew não pareceu se importar, sinto que no fundo ele até gosta, mas nesse momento particularmente não. No meu caso eu esperava ser a última vez que faria isso, a última vez que soltava essa quantidade de energia. Isso me gastava e no inicio dos meses anteriores eu sentia fraqueza até conseguir me recompor novamente.

De repente, os dois irmãos viraram um só e com o resto de nossas forças fizemos o máximo para jogar tudo em Janet, mas algo estava estranho. Janet estava com os olhos brilhando fazendo tudo que podia e estava conseguindo. Quando eu e Andrew soltamos tudo aquilo, tudo pareceu se conter em um só espaço. Aquelas quadras de destruição haviam afetado apenas uma sala de poucos metros e tudo parecia em perfeito estado.

Antes de cair no chão de cansaço, vi que Janet também tinha se cansado de todo aquele poder. Eu sempre soube que ela era mais do que aparentava ser, mas ninguém me ouvia, nem mesmo a mim mesma.

I Think We're Alone Now - Temporada 3 (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now