Capítulo 16: Isso é Uma Guerra

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Amberly

O tic tac do relógio era infernal.

Sinceramente, eu prefiro levar uma porrada no rosto do que ficar presa nessa cela solitária, pequena, fedorenta e irritante ao mesmo tempo. Aquilo estava testando a minha paciência e parecia que eu poderia arrancar os olhos do próximo que entrasse aqui. Eu não sou assim, eu nunca fui, mas eu mudei para uma pessoa mais forte do que isso. Não vai ser um reloginho que vai fazer minha paciência se acabar tão rápido, isso só fortaleceria o ego da Kaley em me ver acabada, e eu odiaria ter que ver ela se aproveitando da situação.

Parece que os soldados daqui têm mais prazer na dor física do que qualquer outra coisa. Se tem uma coisa que eles se sentem honrados e orgulhosos seria dar um soco no rosto do inimigo. Querem demonstrar suas força superior e como podem derrotar pessoas da Magnum tão facilmente. Se eles estivessem presos como eu estou, eu também me sentiria assim. Talvez fosse errado pensar na vingança, perder meu tempo pensando em como seria divertido tortura-los de volta e esse pensamento estava me consumindo cada vez mais. A cada dia, a cada hora, a cada minuto eu penso em arrancar suas unhas uma por uma e depois subir para os olhos. 

Sentia raiva de Andrew por ter feito isso para me capturar. Mesmo sendo meu irmão, mesmo tendo feito tantas coisas por mim dentro da resistência e durante a gravidez, eu pensava em tortura-lo também. Se não fosse por ele eu teria voltado para a Magnum com ele e teria trazido Janet de volta rápido como um estalar de dedos. Mesmo não sabendo como isso vai funcionar, confio no Kane que ele irá fazer isso por mim, além do mais ele é um homem de palavra. Tudo seria mais fácil se eu deixasse Andrew para morrer nas mãos de Kaley, o que ela obviamente não faria.

─ Você não deveria julga-lo ─ a única coisa que não tiraram de mim foi a droga que Kane me dá. Kaley quer me matar e só assim adiantaria o processo, ela não deve ligar para o jeito em que me mato aos poucos. Pelo menos tinha Janet ao meu lado, ou pelo menos a imagem que eu tenho dela na minha cabeça. ─ Família não simplesmente desiste um do outro, ou pelo menos não por completo ─ era até estranho ver um conselho assim dela, mas parecia que já tinha enfrentado isso. Se tivéssemos tido mais tempo talvez eu perguntaria sobre seu passado, mas agora tudo que eu poderia fazer seria conversar com ela e não fazer perguntas que eu mesma não sei responder. Ela estava no meu consciente, não realmente ao meu lado.

─ Família não trai uma a outra, Janet ─ me virei para ela. Tentei evitar olhar diretamente para ela, caso contrário pensariam que eu estava louca, o que não é tão mentira. Tentei falar o mais baixo que pude, além do mais os guardas daqui parecem não gostar nem um pouco do barulho. ─ Ele vai me deixar aqui apodrecendo até que seja impossível eu me virar contra qualquer um.

─ É melhor do que morrer tentando matar Kaley e os outros ─ respirei fundo e um silêncio constrangedor se instalou no ambiente. Acho que essa é a única maneira de não enlouquecer. Pelo menos não estava só. Ela não estava errada, era melhor eu apodrecer aqui dentro do que morrer numa tentativa de assassinato. ─ Deixe seu ego de lado por alguns dias pelo menos ─ era estranho, mas eu conseguia senti-la mesmo não estando aqui. Enquanto ela se aninhava no meu ombro, pensei no que tinha dito. Tenho que deixar Kaley fazer isso, ou não chegaria a lugar nenhum. Uma vez Janet me disse que meus traumas me deixam mais forte, talvez esse seja o momento de provar isso. 

Meus únicos minutos de silêncio e sossego, tanto com o relógio quanto comigo mesma, foram interrompidos por uma inesperada invasão à minha cela. Eu reconheceria essa porta abrindo de longe, fazendo o máximo de barulho que puder. Talvez seja um sistema de segurança, ou seja, quem entrou fazendo esse barulho tinha que sair fazendo o mesmo. Funcionava como um alarme irritante e bem estratégico. Sempre disse que a Comissão era selvagem, mas nunca burra. Talvez apenas Kaley fosse.

Falando nela, foi a mesma que entrou chamando a atenção de todos com a porta. Lá estava ela, alta, já com certas rugas e seu sorriso orgulhoso. Cheirava a terra molhada e seu cabelo também estava, me pergunto por onde ela teve que passar num clima desses. O cabelo preto e grosso de sua descendência colavam em seu rosto com a água, é ridículo pensar que eu estou descrevendo ela molhada da água da chuva.

─ A cadelinha cansou de correr na chuva? ─ perguntei para ela que logo me puxou pela camiseta e me deixou prensada contra a parede no ar. Eu não tocava no chão. Estava completamente indefesa, porém tinha que fingir que estava tinha tudo sob controle.

─ O que você fez, Johnson? ─ eu? Eu não fiz nada! Estava apenas sentada conversando com a minha namorada morta dentro do meu sub consciente. Porque ela estava perguntando isso? Eu fiz alguma coisa de errado? A Magnum descobriu alguma coisa?

─ Pela primeira vez eu, infelizmente, não tenho ideia do que você está falando. Agora, se me der licença, eu tenho mais o que fazer além de olhar para a sua cara feia ─ me soltou com tanta força no chão que senti que tinha quebrado algum osso no quadril, mas nada muito grave aconteceu. Na verdade eu não tenho muito o que fazer, apenas prefiro ficar sentada no cimento duro e frio do que ter que enfrentar esse temperamento dela.

─ Então como os soldados da Magnum entraram aqui? ─ encarei-a surpresa, porém não confusa. Em algum lugar talvez teria um localizador, algo que Kane tenha implantado para me encontrar e entrar escondido aqui dentro. Kaley foi se aproximando de mim, desabotoando quatro botões da minha camiseta até a parte de cima ficar toda aberta, restando apenas um sutiã para me proteger dela.

─ Por aí que não entraram ─ revirei os olhos achando tudo isso uma perda de tempo, não saberia até onde isso iria chegar. Me sentia exposta demais para ela e para qualquer um que esteja em volta. Janet encarava Kaley com certo desgosto, com uma pontada de ciúmes e de provocação. ─ A que ponto você quer chegar?

─ Fica quieta ─ pegou uma faca de seu bolso e, com um cuidado maior do que da última vez, cortou a mesma linha de cicatriz do corte que fez em mim dias atrás. Tentei descobrir o que estava tramando e, para minha surpresa, foi mais simples do que imaginava. Foi Kane quem costurou o meu corte sem eu saber, eu estava desacordada, ele poderia ter feito qualquer coisa comigo nesse meio termo. Com seus dedos nem um pouco trêmulos e bem decididos, Kaley pegou um pequeno aparelho que tinha um formato de pílula, porém piscava duas vezes a cada segundo.

Kane tinha implantado um localizador em mim sem me avisar. Me pergunto se esse era seu plano desde o inicio, mas sei que tem um propósito e, por causa disso, agora estão vindo me buscar. Kaley me deixou ali mesmo, com um corte aberto na mesma região novamente, porém dessa vez ela mandou uma mulher de cabelos ruivos e enrolados cuidar do meu corte, não fazendo nada mais do que os pontos novamente. 

Eu ia ser resgatada desse lugar e iríamos vencer essa guerra, mas se Kane tiver vindo, a chance de morrer nesse campo de batalha são grandes. Tinha que salva-lo, servir como um escudo e não deixar com que Norman ou Kaley o matem. Eu só precisava saber se ele estava vivo.

─ Me desculpe por isso, mas é por uma boa causa ─ segurei o rosto da garota, que não deveria ter mais que vinte e dois anos, e quebrei seu pescoço na minha melhor velocidade até agora. Me escondi atrás da porta e agora tudo que eu precisava era de alguém que abrisse a porta e deixasse aberta para ver o corpo. Espero que ela entenda meus motivos, espero que ela me perdoe.

Mas isso é uma guerra, não espero que ninguém me perdoe.

I Think We're Alone Now - Temporada 3 (CONCLUÍDA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora