Capítulo 5: Encontra-la

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Andrew

Esquiva, esquiva, soco. Esquiva, esquiva, soco. E segue a ordem.

A miserável da Kaley tem tentado me ensinar técnicas de combate. Mesmo que não seja meu forte, tenho tentado ao máximo aprender. Minha especialidade não é bater, e sim, construir, montar aparelhos. Luta é coisa da minha irmã. Mas mesmo insistindo várias vezes que sou péssimo e nunca usaria no meu trabalho, todos têm que ter pelo menos o mínimo de treino, nunca se sabe quando terá uma invasão e terá que se defender. Mesmo assim, só tenho levado porrada não importa quanta vezes decore a formação.

Esquiva, esquiva, soco. O único problema é que esse sistema falha.

─ Vamos, palito, se esforça ─ Kaley falava com um sotaque espanhol. As vezes eu percebo que os apelidos vão ficando piores, mas pior disso tudo é ter que lembrar de Abby. Acho que nunca conseguiria ser apelidado de algo estranho sem lembrar dela, a mulher que me chamou de "albino esquisito" no primeiro dia em que nos conhecemos. Nem parece que faziam meses, logo um ano, em que nos conhecemos.

Não poderia ficar remoendo o passado, não mais. Mesmo assim, os cadáveres de meus amigos nunca sairão da minha mente não importa quantas vezes tente apagar.

─ Me desculpa se não sou o mestre das lutas, madame ─ debochava. Isso já estava acabando com minha paciência. Ela não respondeu, não esperava por uma resposta, mas sei que ela ouviu e escolheu ignorar.

─ De novo ─ ela levantou as luvas gigantes que cobriam mais que toda sua mão, um alvo para eu acertar. Nunca tinha usado luvas de boxe, essa era minha primeira vez, e são mais pesadas e grossas do que imaginava, fazendo minhas mãos suarem mais a cada segundo.

Desde que resolveram me deixar fora de uma cela a maior parte do tempo, tenho ocupado minha mente com isso. Eu ainda tinha que voltar para a cela para dormir, mas apenas para isso. Agora eu tinha o direito de interagir, mas não ficava sabendo de qualquer boato por aí. Só queria saber se minha irmã está bem, se a veria de novo. Lógico que iria, nossos destinos sempre vão estar ligados.

Ainda sim, eu só queria fazer parte da engenharia.

Aquela minha sede de sangue que tinha até meses atrás desapareceu. Devo ter visto tantos corpos mortos na minha frente dentro daquela fortaleza, que tudo que eu quero agora é ficar longe da morte, mesmo que seja impossível evitá-la.

─ Você conhecia Janet ─ esquiva, esquiva, soco. Soco, esquiva, soco. ─ Eu vi você no funeral.

─ Deve ter me confundido com algum parente da sua amiga ─ ela usava desculpas procurando demonstrar quanto menos emoções. Tinha certeza que era ela no funeral.

─ Sua cicatriz é a mesma, no olho esquerdo ─ percebia ela ficando cada vez mais irritada, como se descobrisse cada vez mais sobre um segredo profundo. ─ Conhecia Janet?

─ Conhecia, ok? ─ ela abaixava os alvos, cansada das minhas perguntas. ─ Éramos conhecidas.

─ "Éramos"?

─ Não interessa para um mero idiota como você ─ finalizou com um soco em meu rosto ainda com as luvas. Não doía tanto por ser almofadado, mas mesmo assim incomodou até um certo ponto. Arrancou as luvas de suas mãos e as jogou no chão, deixando-as ali mesmo. Talvez eu tenha tocado num assunto ainda muito sensível a ela. O que quer que seja de Janet, não acabou nada bem, e ela se arrepende. 

Fiz o mesmo que ela. Arranquei minhas luvas e as larguei no chão, crendo que alguém viria buscá-las. Enquanto Kaley sentava num banco para beber água, um homem alto e forte entrou na sala, mais sério do que eu estou acostumado. Normalmente em alguma notícia boa ou ruim, as pessoas demonstravam suas intenções antes mesmo de falar a novidade. Aqui já parece algo mais autoritário.

─ Magnus aceitou os termos ─ o homem anunciava, fazendo com que Kaley mudasse de expressão completamente. Termos? Que tipo de termos? Provavelmente alguma decisão política feita antes de eu chegar aqui, não era da minha conta. Ela estava incrédula, isso nunca deveria ter acontecido. Eu precisaria ficar sabendo de tudo para entender a importância disso, mas, por enquanto, é só mais uma notícia qualquer. O homem se retirou o mais ligeiro possível, sendo quase impossível ouvi-lo.

Kaley me dispensou, sem ao menos me levar diretamente para minha cela. Estava indeciso, voltaria para cela ou a seguia para descobrir esses termos? Se ela não me visse, talvez daria para ver o motivo de sua urgência e voltar a tempo para a cela sem que ninguém suspeitasse. O que os olhos não vêem, o coração não sente, não é?

Enquanto ela saia junto ao homem, procurei fazer o menos barulho possível, antes que me notassem e me colocassem de volta para a cela. Poucas pessoas passavam por esses corredores e quase ninguém me conhecia de verdade. Não teria como avisassem Kaley que eu era um fugitivo. Silencioso, fui andando ligeiramente procurando dar quantos menos passos. Ela estava distraída demais para me ver, o que era estranho já que nunca deixava uma pessoa tão importante quanto eu para o lado por causa de uma mera notícia.

Quando sentia que estava chegando perto da sala, algo fazia barulho atrás de mim, um vulto passando, tirando toda a minha atenção. Quando olho para frente, Kaley e o homem não estão mais lá. Sinto que já passei por aqui, que já tinha visto aquela mesma saída de ventilação, talvez esteja andando em círculos. 

─ Não deveria sair andando por aí, prisioneiro ─ uma voz feminina desconhecida ecoava atrás de mim. Me virei para trás e não tinha absolutamente nada, alguém estava brincando comigo. Não parecia como coisa da Kaley, ela nunca tentaria brincar comigo numa situação dessa, ela com certeza me prenderia levando uma porrada na nuca. ─ Melhor voltar para onde está ficando ─ me virei para trás e me deparei com uma garota de cabelos ruivos e cacheados um pouco mais baixa que eu. ─ Vamos logo ─ segurava meus dois punhos tão forte que nem tinha vontade de me soltar, num lugar bem no fundo eu sabia que seria pego de qualquer jeito.

Quem é essa menina e por que ela me prendeu de novo? Não sei, teria que descobrir. Mas ainda assim queria saber quem era Magnus e que termos ele assinou. Minha irmã poderia estar envolvida nisso e, se estiver, vou conseguir ir atrás dela.

Queria que alguém me ajudasse a encontra-la.

I Think We're Alone Now - Temporada 3 (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now