Capítulo 4: Carta

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Amberly

Uma reunião do conselho, e eu nunca participava de reuniões, não desde a morte de Janet. Essa organização, as expressões das pessoas, tomar decisões, tudo me lembrava dela. Tenho evitado o máximo possível tudo que a lembre, mesmo tendo ela ao meu lado sempre.

No meu subconsciente.

Kane era um homem esperto, talvez o melhor que já tivesse conhecido. Ele conseguia interceptar seus inimigos e defender o melhor que pode seu santuário. Santuários não possuem uma localização exata, não podemos simplesmente entrar lá e fazer o que quisermos, apenas pessoas autorizadas podem entrar. Apertando um botão escondido em um elevador de um prédio comercial, éramos levados ao santuário, como se nada estivesse acontecido.

Temos recebido ameaças discretas da Comissão, um santuário de pessoas sem coração, um lugar onde pegam o que querem e destroem o resto. Eu nunca tive contato direto com eles, mas pelo que dizem são inferiores ao pessoal de Kane, à Magnum, o nosso santuário. Mesmo assim, são uma pedra no nosso sapato. Eles levaram Andrew, meu próprio irmão foi pego por eles. Não sei quão aterrorizante deve ser ficar dia e noite perto de Kaley, aquela vadia mau-humorada, com aquele sotaque ridículo, que adora acabar com meu dia.

E agora tinha que lutar para que eles não nos dominassem, para que não virássemos seus servos ou pior.

Na mesa virada em meia lua com a cadeira do meio de cara com a entrada, fiquei na penúltima cadeira antes do fim da esquerda da meia lua. Janet ficava atrás de mim, mexendo no meu cabelo e me acalmando de tudo que poderia vir. Desde que a tivesse aqui comigo, nada mais importa. Devem suspeitar que eu esteja chapada, mas realmente não ligo, é mais provável que capote no meio da reunião de cansaço depois de levar um tiro de raspão. Foi a primeira vez que baixei a guarda e a única vez que conseguiram me ferir. No total eles sempre tiveram mais baixas, eu assassinei alguns deles. Suas mortes não ficam mais na minha cabeça como meses atrás. Agora eu conseguia matar sem me sentir mal, quantos menos deles melhor era o que eu repetia.

Kane chegara atrasado, uns quinze minutos no mínimo, deveria estar conversando com o homem que vinha ao seu lado, um velho barbudo, grisalho e mais musculoso do que deveria. Não conhecia nem metade das pessoas daqui. Kane se ajeitou em sua cadeira ao meio da meia lua enquanto deixava o paletó de seu smoking na cadeira, ficando apenas com sua camiseta branca fechada por botões por baixo. Sua cicatriz que cortava seu olho esquerdo era um charme, sorte dele que não ficou caolho. Nunca tive coragem de perguntar como isso aconteceu, mas sei que um dia ele acabaria falando sobre isso.

─ Depois de séculos em guerra, a Magnum recebeu um tratado de paz vindo de nossos maiores inimigos ─ a atenção de todos virou para ele. Seria possível? O ego deles ter acabado de uma vez? Não poderia ser tão simples, eles nunca fariam isso. Eles seriam vistos como fracos, como perdedores de uma guerra de séculos, nunca teriam respeito como nós e eles sabem disso. ─ Por mais de dez séculos vivemos em guerra. Vidas foram perdidas, amigos, irmãos, pais, filhos e companheiros ─ Kane lia a carta recebida, tanta tecnologia e ainda escrevem cartas. Impossível, eles não se importam com nada disso. É apenas mais um truque para nos manipular, para nos atacar e para matar Kane pelas costas. ─ Em meio a essa guerra nós esquecemos quem realmente somos e porque estamos aqui. Justiça, necessidade e vingança costumava ser a nossa bandeira e agora temos interesse em reergue-la ─ justiça, necessidade e vingança. A Magnum representa vingança, a Comissão representa a necessidade, mas e a justiça? ─  a Comissão, comandada e fundada por Norman Fox, propõe um tratado de paz e o livre arbítrio entre os dois santuários como era feito antigamente ─ os olhos de quase todos na sala se arregalaram com a audácia do pedido. Livre arbítrio seria como pedir por um ataque ou uma invasão, nunca poderia dar certo, mas nós poderíamos fazer um ataque também. ─ Se unificarmos, ficaremos mais fortes. Poderemos evoluir e deixar a guerra de lado. Os dois saem em benefício. Estamos abertos para negociações ─ e assim finalizava a carta. A sala ficou percorrida de cochichos e conversas em tom baixo. Tudo que eu queria saber agora era o que Kane iria responder. Janet estava perplexa, desacreditada, com tal informação. Se ela estivesse aqui e agora, estaria sendo encarada por todos ao seu redor por causa de tal reação.

─ Excelência ─ um militar, com roupas de militar, chamava a atenção de Kane. ─ Como sugere que aceitamos um tratado de paz depois de tanto tempo? 

─ Assinaremos o tratado ─ enlouqueceu? Todos viraram para ele, mais confusos do que nunca. Ele nunca faria uma idiotice dessas sem pensar, vamos todos morrer se confiarmos na Comissão. Tenho que confiar no Kane, tenho que confiar em tudo que ele fizer. Oferecer minha confiança.

─ Andrew ─ Janet dizia atrás de mim. Andrew, com o tratado eu poderia tê-lo ao meu lado, eu poderia usar nosso poder para trazer Janet de volta de verdade. 

Agora parece melhor assinar o tratado, mas ainda estava confusa. Depois que trouxesse Janet de volta, abandonaria esse lugar ou ajudaria em sua luta como na resistência? Não estava preparada para me colocar em outra causa, não poderia começar a lutar novamente. Eu pegaria Janet e ambas de nós fugiríamos de tudo e todos, viveríamos a nossa vida como merecíamos, seríamos ambas rainhas.

─ E como pretende apertar a mão de Fox em território inimigo? ─ o homem continuava. Kane sempre parecia ter tudo na ponta da língua. Não estava despreparado quando perguntou isso.

─ Amberly Johnson representará nossa aliança ─ Kane apontava sua mão para mim enquanto a audiência se virava em minha direção. Eu estava tão espantada quanto os outros, ainda mais por ele ter me chamado pelo sobrenome de meu pai. ─ Por isso está aqui, porque é um papel fundamental para a aliança ─ temo o que ele esteja aprontando, ou que a Comissão esteja. Se eu for pega, vou ser torturada até morrer. Matei dezoito de seus homens, é o mínimo que têm que fazer comigo.

Assine esta merda logo, Magnus.

I Think We're Alone Now - Temporada 3 (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now