Capítulo 6: Medo

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Amberly

Representante. Que coisa ridícula.

Tive que comprar um terno barato, acho que nunca tinha me vestido tão formal na minha vida, nem no funeral de Janet. Peguei uns videos na internet para me ajudar a como colocar uma gravata, já que nunca tinha usado nada assim na vida. Ficou meio torto, esses sites de vídeos ainda são horríveis, mas dá pro gasto, ninguém notaria a diferença. Me preocupava se estava masculina demais pro meu gosto, mas me disseram que é essa a imagem certa que eu tenho passar. A imagem de uma mulher que sabe o que quer, uma mulher que daria medo, o sentimento ideal que eu tenho que passar. Medo, eu era um monstro na visão deles, uma assassina a sangue frio, uma lunática. Mas também com razão.

Um monstro que matou dezoito de seus homens, sou isso que eu sou na mente deles. E do meu irmão, se ele já tiver sido consumido por todas essas mentiras que essas pessoas pregam. Amberly VanCite, uma assassina sem perdão. Talvez Amberly Johnson seja mesmo o nome sem uma longa lista de atrocidades, um nome ideal para uma nova vida.

Mas pena que esta vida está longe de ser verdadeira.

─ Amberly ─ Kane me chamava na porta do banheiro, quase socando a porta com sua força. Ainda precisava de mais tempo para me arrumar, mas sabia que não haveria mais tempo para isso. Abri a porta para ele e quase olhei para o teto em busca de seu rosto. ─ Você amarrou isso aqui vesga parece ─ ele desamarrou toda a minha gravata. Para ele isso parecia fácil fazer, mas eu nunca tinha feito isso em toda a minha vida. Bufei com o xingamento e cruzei os braços, esperando-o amarrar uma gravata que em dez segundos fez melhor do que eu em dez minutos.

─ Por que você me escolheu como representante? Qualquer um faz isso melhor do que eu ─ argumentava diminuindo-me. Poderia funcionar, eu não queria ir, mas mesmo assim tinha que ver meu irmão, tira-lo das garras daqueles selvagens mentirosos. 

─ Porque eu confio em você, garota. Você demonstrou mais confiança em mim do que qualquer outro homem que eu já tive ─ realmente eram muitos homens, e apenas homens, era difícil ver qualquer mulher que aqui tivesse. Confio nele porque sei que ele vai me devolver quem preciso, uma mulher com um fim doloroso demais, um fim injustiçado. Independente de qualquer coisa, ruim ou boa, que eu faça para ele, sei que no fim vai ter valido a pena. ─ E tem que se lembrar de trazer seu irmão para cá, já que agora temos um acordo de passagem livre entre os dois santuários. Temos que aproveitar isso enquanto durar ─ "enquanto durar", uma expressão estranha para quem assinou um acordo que prometeria o fim da rivalidade entre os dois mundos. Quando ele terminou de amarrar minha gravata, saiu pedindo para que eu não me atrasasse mais. 

Ele tem uma certa obsessão pelo meu irmão, mas isso não interessa mais agora.

Sem que eu percebesse, ele deixou um papel na minha mão com o endereço do local. Não sei como falar, não sei como agir, só sei que tenho que desempenhar um papel principal: aparentar de que sei o que estou fazendo. No papel parecia um endereço normal, mas tenho que lembrar que as passagens entre os santuários podem ser mais estranhas do que aparentam ser. O local dava num hotel de luxo, eles são ousados. Deveria ter alguém que me ajudasse a entrar no lugar, já que eu não tenho uma passagem ainda, não que eu vá me aliar a eles de verdade.

Depois de me teleportar, o que eu faço agora sem nenhum problema, me dei de cara com a entrada de um dos hotéis da Ritz-Carlton, um dos mais caros da cidade. Existem várias outras sedes do hotel em outras cidades, mas essa é a mais misteriosa de todas, por ser também o único local do mundo que é uma porta para a Comissão, minha maior inimiga por meses. Mas agora eu estava indo representar um tratado de paz, uma nova esperança para os dois mundos. Apenas tomara que eles não acabem comigo por vingança.

─ Srta. Amberly ─ um homem de terno me chamava de dentro. Ele era magro e bem arrumado com o cabelo talvez exagerado no gel. Típico de um mordomo. ─ Me acompanhe ─ ele praticamente me puxava para dentro com suas palavras. Eu já estava curiosa para ver como era por dentro, então nem hesitei em entrar. Um estilo rústico revestido com um papel de parede vermelho com desenhos de mandalas em um leve tom de vermelho-claro repetidas. Quadros de todas as pinturas decoravam o lobby junto a algumas poltronas brancas e outras num tom de azul-bebê. Apenas depois de um tempo fui lembrar que estava em território inimigo, ficando alerta a tudo que vier.

No elevador as coisas já começaram a ficarem secretas. Um botão escondido camuflado no meio do papel de parede ativava um detector para o olho. Apenas com o olho dos funcionários já era possível fazer a impressão. Se eu tivesse que entrar escondido aqui, já sei como entrar. Talvez precisasse arrancar um olho, quem sabe.

Já logo que saí em outro lugar, um completamente diferente do antigo hotel, um homem barbudo e alto já me esperava no meio do corredor que saía do elevador. Tinham diversas pessoas aqui, homens, mulheres e até alguns adolescentes e pessoas sem um gênero definido. Tudo parecia estranho, o certo parecia estranho. Não... Kane está certo nessa história, e eu vou fazer o que precisar para defendê-lo.

─ Permito-me apresentar ─ o barbudo chegava perto e de uma hora para outra já estendia a mão para me cumprimentar ─ Sou Norman, vamos nos ver bastante a partir de agora.

I Think We're Alone Now - Temporada 3 (CONCLUÍDA)Όπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα