Capítulo 36: Sotaque

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Andrew

Já faziam alguns dias sem sinal de Janet.

Nem nossos espiões encontraram algo, ela deve estar tão ocupada que nem sai direito, mas eles também não procuraram se informar. Única coisa que podemos ter certeza era de que havia algo grande acontecendo, com ela e com minha irmã. Também não tenho sentido-a e tem sido difícil entrar na mente dela com Janet ao seu lado, era impossível ter informações.

Então eu decidi buscar informações por mim mesmo.

Não era uma missão fácil e Norman estava sabendo disso, mas mesmo assim já era hora de colocar essa força extra em prática. Eu era agora uma arma. Meu maior medo é usar isso contra alguém que eu amo, contra minha irmã. Janet está com ela agora, eu tenho certeza mesmo sem provas, eu sei que Janet está fazendo alguma coisa com ela. Não, minha irmã é cabeça dura, ela pode resistir a tudo isso e eu sei que pode. Pariu três crianças, não é possível que minha irmã perca para uma mera telepata como Janet.

Mesmo assim, eu não deveria subestima-la.

Eu deveria me infiltrar no meio deles, pegar uma vestimenta dos homens de Janet e fingir que sou um deles. Coloquei uma maquiagem sobre os olhos, passei um spray preto sobre o cabelo e uma máscara cirúrgica sobre a face, de longe era impossível me identificar. As vezes tinha saudade do meu cabelo castanho, não por causa da cor, mas sim porque eu era uma pessoa diferente, um adolescente que sua única preocupação era entrar numa faculdade. O cabelo branco foi o inicio da mudança, foi quando minha vida virou de cabeça para baixo. Talvez um dia eu faça mais uma mudança, talvez eu pinte de loiro, não acho que ficaria ruim. Meu cabelo já foi loiro quando eu era pequeno, bem criancinha, Amberly também já teve e aos poucos o cabelo dela volta a cor original, deixando apenas algumas mechas castanhas escuras.

Não foi difícil abater um homem e roubar suas roupas. Eu não o matei, apenas o desacordei e não acho que ele vá acordar muito cedo. Kaley desligou as câmeras por algum tempo, seria o suficiente para me trocar e esconder o corpo. Não deveria ter sido tão difícil para Janet se infiltrar na fortaleza dos purificadores, quando Stryker ainda respirava. Ela salvou minha irmã e a trouxe de volta para casa do jeito mais simples possível, parecia que ela já tinha feito isso muitas vezes. É até impressionante de como as coisas viraram. 

─ Connor, está aí? ─ ouvi o som do walkie-talkie presente na roupa do homem que tinha acabado de roubar. ─ Que barulhos foram esses? ─ o homem que falava ficava cada vez mais esquentado a cada pergunta.

─ Estava apenas afastando um guaxinim ─ respondi como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não sabia que o walkie-talkie estava ligado, muito menos como explicar que barulhos foram aqueles da maneira mais inocente possível. No fim, apenas respondi o que teria feito se minha tia tivesse me perguntado isso anos atrás, falado que era um guaxinim.

─ Sua voz afinou de uma hora para a outra, está tudo bem? ─ nessa hora eu parei e pensei: como ele ainda não suspeitou de nada? ─ Quer que chame Spencer? ─ não fazia ideia de quem era aquele cara, mas era melhor manter o máximo de distância possível de outros. Pior de tudo era saber que minha voz estava fina demais comparada a de outros.

─ Não, não! Deve ser um problema no áudio, ele estragou quando corri atrás do bichano ─ meu coração estava a milhão, não sei como consegui uma desculpa tão esfarrapada assim. 

No fim das contas consegui me livrar dessa pedra no meu sapato logo. Não sei se ele acreditou, provavelmente sim, e agora estava pronto para continuar minha aventura adentro da Allianz. Esse lugar era um pouco diferente da Comissão ou da Magnum, enquanto ambas preservavam suas origens com certos traços medievais, a Allianz parecia um escritório do século XXI. Todos os corredores eram iguais. Por um momento me imaginei na resistência mutante pela primeira vez, um lugar feio e repetitivo que eu chamava de lar.

Fiz questão de tirar a plaquinha com o nome de Connor, além do mais ficaria muito óbvio que eu era um invasor, não sou burro. Mesmo que as pessoas suspeitassem sobre minha identidade, ninguém queria realmente saber sobre isso, ninguém queria ir atrás de um homem que nunca viu na vida.

Aos poucos fui entrando em salas diferentes, salas nas quais não tinham tanto movimento e eu não sabia o motivo, talvez nem essas pessoas saibam. Tinha tudo para ser aterrorizante, mas a cada passo que eu dava dentro da escuridão me fazia perceber que estava chegando perto de Amberly, ou como queria chamar uma discreta atenção.

Sem que eu conseguisse revidar, algo atrás de mim me fez cair, como se tivesse chutado meu poplíteo, a parte que fica atrás dos joelhos. Até tentei me virar para trás para tentar ver quem era, mas não era rápido o suficiente para isso. Quando levei um chute no rosto ainda no chão, não tentei lutar para ver quem era, mas sim deixei-o brincar comigo. Eu já tinha tudo planejado e mesmo se fosse Janet no lugar de Amberly, ou vise-versa, eu ainda tenho meu plano em mente.

─ Eu não esperava você desistindo tão cedo, gêmeo albino ─ aos poucos eu tentava identificar quem estava falando. Não era Janet, isso eu tinha certeza, parecia minha irmã, mas havia um sotaque que eu não conseguia prestar atenção. 

Quando a figura se revelou era difícil de ter realmente certeza de quem era, mas não precisei de muito para acabar com tudo isso. Uma certa dose de alguma coisa que Kaley me deu foi o suficiente para fazê-la parar de falar, para fazer minha irmã parar de falar, se é que era realmente ela. Não sei o que tinha em mãos, mas quando injetei a dose nela com uma agulha, fez Amberly desmaiar e assim pude tirá-la dali.

Ela tinha me derrubado, ela me deu um chute, isso não era coisa da Amberly, isso era coisa de Janet.

I Think We're Alone Now - Temporada 3 (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now