Capítulo 29: Carros

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Amberly

Paro para tentar me localizar, porque a janela do meu quarto dá para uma cidade, apenas não sei qual. Me pergunto se Trent, ou Ylleeth ─ me recuso a chama-lo de pai ─, foi quem decidiu a sede da Allianz. Talvez eu pudesse perguntar a Janet assim que ela acordasse de um sono profundo, apenas não tão profundo quanto a meses atrás. As vezes tenho pesadelos de seu cadáver dormindo ao meu lado, com a pele esverdeada, dentes a menos e já no processo de decomposição. Quando acordo tenho dificuldade para diferenciar o pesadelo da vida real, torcendo para que aquilo não seja verdade e que eu esteja transando com um cadáver. Me dá mal estar apenas de pensar num crime desses.

Ela era linda dormindo e eu nunca tinha parado para olhar, eu teria perdido isso se tivesse desistido dela. Estava apenas com roupas íntimas e um roupão por cima, apenas caso alguém entrasse sem estar avisado. Cruzava os braços enquanto olhava pela janela, uma movimentação de carros no meio da noite com os postes iluminando seus caminhos. Me pergunto como deveria ser a vida daquelas pessoas, talvez uma enfermeira saindo tarde do plantão ou um jovem da minha idade saindo de uma balada. Já estava tarde demais para essas pessoas estarem por aí com seus carros, e quantos carros.

Me perguntava se tinha feito a escolha certa. Dado tudo de mim para trazer uma única pessoa de volta à vida e agora ela faz uma decisão por mim. Agora eu ascendi um santuário desocupado de séculos atrás. É meu direito de nascença, mas mesmo assim não faço ideia se estou do lado certo. Quando não estava traçando seu plano pela minha vida ou invadindo a minha mente, Janet parecia um anjo na cama. Com os cabelos negros jogados do seu lado da cama e seu rosto sem expressão nenhuma, totalmente relaxada, sem etiquetas ou imagem. Nada mais importa enquanto ela estiver dormindo.

Mesmo tudo isso sendo estranho, eu queria ficar com ela para sempre, até o fim dos tempos. Não acho que meu coração bateria tão rápido quando estou com ela do que com qualquer outra pessoa. Eu até pensei seriamente em propor para ela, mas o tempo de namoro é tão pequeno que eu fico sem graça. Será que já tivemos tempo o suficiente ou precisaria de mais? As vezes eu não queria conhece-la mais do que isso, queria que ela continuasse daquele jeito sem mais mudanças. Antes eu queria me casar com aquela que me apaixonei na resistência, mas agora tudo isso parece distante.

Não cheguei a conhecer muitos dos homens que vieram dos outros santuários, apenas um bonitinho, com o maxilar marcado, chamado Spencer e que tinha certa experiência na medicina. Não tive muito tempo desde que Janet tem me ensinado estratégias de guerra e essas coisas de um comandante. Eu tive muito tempo com ela na verdade, mas quanto mais tempo passávamos juntas, mais eu queria ter recusado tudo isso.

Observar os carros me dava certa tranquilidade, um certo silêncio dentro de mim. Costumava ver vistas assim em cima de prédios quando eu conseguia subir até seus terraços. Nunca tive medo de altura, por isso sempre ficava sentada na ponta com as pernas para os longos metros de distância entre mim e o chão. Quando Zayne não estava comigo eu ia sozinha e ficava observando os milhares de carros de Nova York. Até hoje me pergunto como os seres humanos criaram tantos carros a ponto de lotar cidades gigantes como Nova York, mas talvez pela cidade ser grande já é um motivo para superlotação.

Devagar eu sentia que Janet vinha até mim não sei com que roupa, pode ser que nenhuma. Por fim dando um beijo demorado no meu pescoço, foi quando percebi que tinha se vestido no meio do caminho. Seus um e setenta não atrapalhavam nada entre nós.

─ O que ta fazendo de pé a essas horas? ─ me perguntava constantemente atrapalhada me dando beijos tanto no pescoço quanto nas costas, me causando arrepios. ─ Lendas precisam dormir e descansar ─ nesse momento senti que ela estava na minha cabeça tudo de novo. O pouco de sossego que eu tive sem ela nos holofotes tinha acabado de ser extinto.

Me perguntava o quanto isso iria continuar até que alguém intervisse. Não esse momento, mas sim esse santuário. Quanto tempo demoraria para a Magnum e a Comissão atacarem a inofensiva Allianz? Sei que não duraria muito, além do mais já estavam se armando para defesa. Eu também tinha que manter essa postura inofensiva até que uma bomba exploda e tudo vá por água baixo. Se eu queria a Comissão destruída, tinha que me virar contra ela, tinha que virar a Magnum contra ela. Janet tem me ensinado isso, seus planos, estratégias e defesas. Está tudo em sua mente e ela vem passando isso para mim. Sei que vai ser útil no futuro se eu quiser me tornar a melhor.

─ Estou apenas pensando. Vamos voltar para a cama ─ puxei sua mão comigo e me deitei de volta a cama, uma das maiores e melhores que já dormi na minha vida.

As vezes eu podia reconhecer a Janet que eu conhecia nessas situações em que ela está tranquila. Isso me lembra o quanto a amo. Se ela estivesse criando um mundo só para nós, então massacraria todos que entrarem na sua frente.

Isso incluía a Comissão, a Magnum e o meu irmão.

I Think We're Alone Now - Temporada 3 (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now