Capítulo 8: Recepção de boas-vindas

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Amberly

Que coisa mais tonta.

Recepção de boas-vindas? Já não tinha interagido demais com ele? Parecia que estavam tentando me enrolar, tentando me manter aqui. Tinha que descobrir quaisquer que sejam seus planos, estava aqui para isso. Ninguém faz um tratado de paz de uma hora para outra depois de uma longa série de anos de guerra. Vingança, eu sou a vingança. Não... a Magnum é a vingança, eu não sou nada.

Norman Fox, aquele idiota querendo me deixar satisfeita, não consigo nem pensar de que foi ele quem criou tudo isso. Tudo que eu queria, ele dava, tudo que eu concordava, ele concordava, tudo que eu fazia ele queria deixar tudo perfeito, como se eu fosse um pedaço frágil de vidro que pode estilhaçar sempre que ficar insatisfeita. Não sou uma criança que vai dar chilique porque não consegui o que eu quero. Quero o meu irmão, e isso ele vai me dar.

Não sei se ele tinha medo ou se estava fingindo. Se for a primeira opção então acho que minha impressão deu certo. 

Estava sentada numa das cadeiras reservada especificamente para mim. Norman deixou claro que tudo estaria impecável, e realmente estava. Estava luxuoso como um salão digno de uma família real. O chão coberto por um porcelanato branco e as paredes rústicas com uma madeira escura. Tudo parecia sombrio de tão bonito, acho que nunca tinha entrado em nada assim. Pena que tinha que esconder minha admiração pela sala, tinha que manter minha postura autoritária e desnecessária. Eu estava representando Kane, a Magnum, se me vissem com um sorriso no rosto acho que me matariam. Também acho que se Norman deixasse, muita gente já teria acado comigo no segundo em que eu coloquei meus pés aqui. Matei dezoito homens, não são pouca coisa. 

Tenho completa consciência de que essas pessoas eram importantes para alguém, não poderiam ser facilmente descartadas. Assim como Janet.

Para meu desprezo, vejo uma mulher me encarando e vindo para se sentar na mesa. Não a olho de volta, mas tenho completa consciência de quem seja. Kaley sentava na minha frente do outro lado da mesa, com certeza para trocar farpas comigo. Tentava manter a postura superior e o contato visual, coisas que conseguem derrubar qualquer um. Ela também era boa nisso, sem que abrisse a boca já parecia que me xingava em todas as línguas possíveis. Sua cicatriz no olho esquerdo era bem marcada. Nunca pude olhar de perto até agora, já que quando nos encontrávamos normalmente estava vestindo um capacete. Uma linha reta na vertical, quem quer que fez tem um controle impecável.

Ficamos nos encarando até que Norman batesse a colher em sua taça, fazendo um barulho que ecoasse em todo o salão. Cada uma tinha um ego maior do que a outra que não nos deixava nem sequer piscar. Quem piscasse ou dispersasse o olhar, era como um ponto a menos, um ponto de respeito a menos. Não duvido que ela já tenha feito isso com outra pessoa, mas parecia que tinha vontade em me encarara assim desde que me conheceu. Nunca vou admitir em público, mas ela sabe muito bem o que faz e quase me derrubou. Se eu não fosse persistente acho que já teria me retirado a tempos.

─ Meus caros amigos. Hoje celebramos o fim de uma guerra milenar, onde abandonamos nosso ego e nossa ignorância por um bem maior ─ Norman declarava. Via um pouco de esperança em seus olhos, mas ainda assim não confio neles. Nada importa desde que eu consiga sair daqui viva e com meu irmão nos braços, ele é tudo que eu preciso agora. ─ Amberly Johnson está aqui representando Magnus Kane, o homem que assinou o tratado de paz. Amberly, tem alguma coisa para declarar ─ levantei, procurando as palavras certas. Kaley me encarava novamente numa tentativa de me desestabilizar, mas sem sucesso.

─ Eu declaro meu total apoio a vocês ─ dei um pequeno intervalo. ─ Eu tenho total consciência das vidas que eu tirei, dezoito no total, e essas pessoas vão estar sempre na minha mente.

─ Mentirosa descarada ─ Kaley se levantou na pressa, me encarando como se eu fosse uma aberração. Fingi uma expressão incomodada para ver se Norman me defendia, mas ele simplesmente deixou acontecer. ─ Você nunca se importou com ninguém além de si mesma. Você matou meu esquadrão sem piedade ─ ela se virou para Norman ─ Ela tem que pagar por seus crimes.

─ Menezes, estaria disposta a acabar com uma aliança que demoramos tanto para estabelecer? ─ senti o sangue dela ferver. Se eu estivesse em seu lugar, também ficaria assim, mas não posso assumir a responsabilidade de tudo isso, não antes de ter Janet de volta. ─ Srta. Johnson já tem consciência do que fez, já é o bastante.

─ Ela tem razão. Infelizmente não posso trazer aquelas pessoas de volta e sei o quanto vão fazer falta ─ dei uma pausa ─ Agora temos que lembrar deles, para que não sejam esquecidos, e só assim vamos poder nos consolar.

Kaley não aguentou a quantidade de merda que saía da minha boca e se retirou quase que urgentemente. Nem eu sabia mais o que estava falando, apenas tentando dar desculpas esfarrapadas para minhas atrocidades.

Mas como já disse antes, ainda não posso assumir esses crimes sem ter recuperado Janet. Depois que tudo isso acabar vou conseguir me consolar. Só depois que eu acabar com esse propósito vou viver minha vida com ela sem que ninguém mais nos interferisse. Iria do céu até o inferno procurando-a.

Pedi licença e me retirei, aproveitando a saída de Kaley. Não aguentava mais ficar ali junto a aquelas pessoas insignificantes. Quando acabava de sair do salão luxuoso, uma mão me puxou para trás segurando minha boca e meu nariz, sufocando-me enquanto a outra mão ficava ocupada por uma faca. A pessoa ia me movendo para trás do corredor, tirando-me do campo de visão das pessoas. 

─ Vou te cortar do mesmo jeito que cortou meus companheiros ─ Kaley sussurrava no meu ouvido, fazendo um corte profundo e grande que atravessava em baixo de meu pescoço de ponta a ponta. Não chegava a atingir meus peitos, um pouco para cima. Um corte lento e reto, como o de sua cicatriz. Ela deve ter feito aquilo em si mesma.

Me recompus com o tempo que tinha e, já sem fôlego, dei uma cabeçada em seu rosto, de costas, que tirou seu equilíbrio e fugi com resto de fôlego que ainda tinha. Antes que ela pudesse me tocar, me teleportei para a Magnum, fugindo dos braços de Kaley. 

Não tinha certeza do lugar exato em que teleportei, apenas sei que estava lá e Kane veio me ajudar. Caindo no chão, meu sangue se espalhou pela porcelana, contrastando a sala com papel de parede claro, muito esperançoso para uma vingança. Não conseguia ouvir Kane, estava fraca demais, cansada demais, para prestar atenção em suas palavras. Acabei desmaiando em seus braços, quase parecendo uma morta.

Mas não estava morta, não ainda.

I Think We're Alone Now - Temporada 3 (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now