Capítulo 1: Conto de Fadas

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Andrew

Ser humano normal, como se tudo tivesse sido esquecido.

Jacob é um fofo. Durante os meses em que passei no apartamento do ex da Amberly, pai de seus filhos, pude me aproximar um pouco mais dele. Mas agora não tenho tempo, nem coragem, de ir visitar tanto Jacob quanto Taylor, me sentia constrangido em aparecer sozinho. Amberly se foi, apenas sumiu, e eu não faço ideia de onde ela esteja. Procurei em mapas, falei com estranhos, fiz tudo que pude e nada dela.

Talvez ela não tenha aguentado a dor desse lugar, a dor de viver sem sua alma gêmea, a dor de perder a mulher que amava. Talvez ela tenha se matado em algum lugar longe daqui que ninguém percebeu. Pensar em todas essas hipóteses me deixava louco, obcecado, e por isso não tive tempo para mais nada. Conversei com muitas pessoas e nenhuma delas tinha informações de minha irmã, gastei muito dinheiro com isso.

Já é Janeiro de dois mil e quatorze. Completava um ano desde que eu e Amberly nos trombamos, ela descobriu a gravidez e fugimos do governo para uma base mutante. Erik ainda era nosso aliado, nosso amigo, agora nem ele e nem Abigail são alguma coisa. Janet e Amberly não sentiam nada uma pela outra e nenhum de nós tinha feito nenhum amigo. Agora quando olho para trás são apenas lembranças de uma vida que eu já tive, uma vida com uma causa. Agora sou apenas um homem perdido, pensei que comemoraria meu aniversário de dezenove anos pela primeira vez perto de minha irmã gêmea, como estava enganado.

Tentei recomeçar, juro que tentei. Arrumei um emprego num mecânico e tenho ido muito bem na verdade. É como uma terapia, não estou fazendo por dinheiro e sim para parar de pensar nas milhões de coisas que podem ter acontecido com a minha irmã. Arrumei um apartamento que caía aos poucos de tão podre, porém seria mais constrangedor se eu continuasse a morar com o ex da minha irmã. Por mim tanto faz desde que eu tenha um teto pra ficar. 

─ Ei, pirralho ─ meu chefe, um velho sempre bêbado com uma voz rouca, me chamava. ─ Tem uma mulher toda arrumada querendo te ver. Arrumou namorada?

─ Não... não arrumei ─ deixei um pano cheio de graxa que segurava em cima de uma bancada e fui até a entrada na oficina. Não tinha ninguém querendo me ver desde que a resistência acabou, não sei porque agora vieram atrás de mim.

─ Oi, Andy ─ encarei-a duas vezes antes de conseguir tirar uma conclusão final. Minha irmã tinha voltado, e não parecia mais a mesma pessoa. Estava confiante, parecia ter superado a morte de seus amigos muito rápido, seus cabelos voavam com o vento leve que batia, fazendo com que uma mecha de cabelo ficasse sobre seu rosto. Vestia um terno preto que descia até os pés, parecendo uma capa, com uma calça preta formal e uma camiseta branca com gola por baixo. Estava mais bonita do que no dia em que a perdi.

Não tive vontade de responder, não queria explicações. Talvez eu me decepcionasse com qualquer coisa que sair da boca dela. Eu apostaria em outra namorada, alguém que ela pudesse esquecer o amor do passado, mas parecia mais importante com isso. Amberly não faria uma coisa dessas para superar Janet, acho que ela iria atrás de um jeito de a trazer de volta, para ter a vida que nenhuma das duas conseguiu ter.

─ Eu sei que te devo muitas explicações e... ─ antes dela continuar a falar a interrompi.

─ Claro que você deve, você sumiu sem me dar explicações. Me deixou com aquele seu ex que agora cuida do filho, diferente de você. Eu não sei o que encontrou por aí por estar toda... arrumada desse jeito ─ olhei-a de cima a baixo. Amberly estava mais magra que o normal e seus cabelos desbotavam um pouco da cor. Não quero nem saber o que aconteceu. Sua cabeça parecia funcionar a todo instante, como se não parasse nunca mesmo prestando atenção em mim. Nossa ligação me permite que sinta isso nela, mesmo que pequeno. ─ Não quero me intrometer na sua nova vida, pode continuar assim.

─ Andrew ─ me chamava, me fazendo voltar a minha atenção a ela. ─ Você precisa levar a sério tudo que eu dizer, ok? ─ do jeito que ela falava, parecia que ia contar uma história mirabolante de tão inventada, como um conto de fadas. Concordei com apenas um aceno com a cabeça e respirou fundo antes de começar. ─ Eu descobri um jeito de trazer todos de volta e preciso de você pra isso, mas eu não tenho tempo. Você tem que apertar a minha mão ─ ergueu a mão em minha direção como um cumprimento. Não estava entendendo o motivo de estar com tanta pressa e, pela primeira vez, sinto que minha irmã tem segundas intenções com esse aperto de mão. Se fosse certo ela não estaria tão ansiosa para que eu apertasse. Algo de estranho estava acontecendo com ela e eu não sabia o que. ─ Vamos Andy, aperte logo.

Dei dois passos para trás, me afastando dela. Uns segundos depois, antes dela conseguir me responder, um portal retangular e amarelo, grande o suficiente para sair mais de uma pessoa, se abriu ao meu lado transportando um grupo de atiradores mascarados. No susto, me afastei e me escondi adentro da oficina de volta. Minha irmã tentava se esconder, mas mesmo assim levou um tiro de raspão no braço e eu continuava apenas olhando. Ela se teleportou antes que os atiradores chegassem onde ela estava, deixando apenas um resto de poeira e fuligem preta pelo ar, devem ter feito isso mais do que imagino.

Minha irmã era uma criatura que precisava ser capturada. Saí da oficina, me mostrando para eles, que atiraram um tipo de tranquilizante na minha perna. Tudo ficou zonzo, eu não deveria ter saído de onde estava. Agora estava envolvido nisso tudo.

Adormeci antes que pudesse saber o que iria acontecer pela frente.

I Think We're Alone Now - Temporada 3 (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now