Capítulo 9: Símbolos

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Amberly

Acordei num quarto escuro, sem cor, sem luz, completamente morto.

A luz vinda de um poste do lado de fora iluminava meu rosto, me forçando a abrir os olhos. Era um quarto pequeno, porém completamente cheio de caixas, livros, quadros jogados no chão e móveis. A cama era pequena e confortável, mas tinha um nivelamento não esperado para um colchão normal, como se houvesse um buraco no mesmo lugar onde essa pessoa dormia todos os dias. Havia apenas uma janela com uma luz artificial batendo na cama. Estava de noite, a cidade já estava indo dormir, mas como eu estava na cidade se me teleportei para a Magnum?

Foi quando notei que não estava com a parte de cima da roupa, mas sim uma faixa envolta do meu peitoral parando antes de chegar no umbigo. Em baixo do pescoço, descendo para os meus seios e os cobrindo, a faixa ficava pintada de vermelho escuro. Sangue. Então tudo aquilo foi real. A recepção, Norman, meu irmão, Kaley me esfaqueando até eu teleportar para algum lugar que estava indecisa agora. Meu peitoral doía quando eu mexia meu pescoço e meus braços, então evitei muitos desses movimentos para me levantar.

Se foi Kane é difícil saber. Peguei uma camiseta cinza e duas vezes o meu tamanho com furos pequenos e vesti. Não ficou bom, mas seria melhor descer as escadas vestida do que parcialmente nua. Mesmo que não tenha mais nada que a pessoa que fez isso tenha visto. Foi um sacrifício apenas em colocar essa camiseta, quero ver como vai ser descer escadas abaixo para uma sala. Me segurei no corrimão e, segurando a respiração, desci tudo de uma vez só sem emitir muitos barulhos.

A casa inteira tinha tons de azul ciano e branco, parecendo um sonho. As escadas me lembravam a casa dos pais do Zayne, uma escada reta encostada na parede com uma virada para a esquerda no fim com um corrimão ciano e pilares que o sustentam brancos. As cores começavam a me cansar, por sorte o piso era de uma madeira escura que contrastava sobre o branco. Sentia cheiro de chá, chá de erva cidreira, outra lembrança, só que dessa vez da casa dos meus tios. Minha tia Kathryn costumava fazer de madrugada quando não conseguia dormir, nunca pude entender o porquê não dormia, e nunca vou conseguir.

─ Chá? ─ Kane me servia enquanto eu virava a escada. Ele não estava vestindo seu terno de sempre. Seu cabelo estava desarrumado e vestia uma roupa amassada, parecia que faziam meses que ninguém passava essa camiseta. Acho que é a primeira vez que o vejo sem estar no seu clima de trabalho e sim como um homem comum me oferecendo um chá no meio da noite.

─ Não, obrigada ─ recusava. Mesmo que quisesse, duvido muito que o chá conseguiria descer pela minha garganta com tamanha dor que sinto.

─ Que pena. Fiz para você ─ me sentei numa das cadeiras da mesa de jantar e sorri sem graça, cansada apenas de descer uma escada curta. ─ Lavei e costurei a sua roupa. Está em cima da mesa ─ ele apontava. Chegava a suspeitar, ele nunca foi tão bom assim comigo, além do mais seu codinome é "Vingança". Para alguém com esse nome não se espera tomar um chá e costurar roupas as duas da madrugada.

─ Ficou bom ─ peguei a camiseta nas mãos e a estendi no ar. Por incrível que pareça realmente tinha ficado. ─ Não sabia que você costurava ─ olhei para ele e o vi olhando para mim cruzando os braços. Agora ele não parecia mais um líder para mim, no momento ele era apenas um homem me dando uma oportunidade, dentre elas ressuscitar minha namorada.

─ Aprendi a muito tempo atrás ─ não duvidava dele, além do mais eu nem sabia quantos anos ele tinha. ─ Vá descansar, garota. De manhã vamos voltar ao trabalho, e preciso de você para relatar tudo ao Conselho ─ ele tem razão. Tudo ainda estava muito calmo, mas de manhã Kane provavelmente pensaria no tratado novamente. A Comissão me atacou, esse é um motivo para uma nova guerra.

Subi as escadas, dessa vez mais motivada do que quando desci. Aos olhos de Kane eu deveria parecer uma criança que se meteu numa briga feia, como o que um pai faria numa situação dessas. Tenho medo de Kane ter me observado desde o dia em que nasci, porque parecia que ele me conhecia bem demais. 

Ao entrar no quarto uma curiosidade sobre as coisas escondidas aqui emerge dentro de mim. Tenho vontade de procurar mais sobre o Kane, sobre sua vida ou até mesmo como ele sabe de tantas coisas sobre mim. Haviam papéis sem graça, caixas com mais arquivos e papéis, todos da história ou documentos da Magnum. Tentei deixar tudo do mesmo jeito que estava até, sem querer, derrubar uma das caixas pequenas, fazendo um barulho estrondoso que Kane deveria ter ouvido no andar de baixo da casa. De dentro da casa saía uma rocha plana como uma tábua que deveria ser antiga. Haviam três símbolos que não conseguia decifrar, e não faziam parte de nenhum alfabeto atual. Por que Kane estaria escondendo uma pedra com símbolos antigos? Não sei, mas ele deveria saber. Tirei uma foto com meu celular e devolvi a pedra para caixa o mais rápido que pude, antes que ele aparecesse na porta.

─ O que aconteceu? ─ ele apoiava seu braço na batente.

─ Só derrubei umas coisas ─ em fato não era mentira e ele não perguntou se eu tinha visto o que tinha dentro. Deixei as coisas onde estavam enquanto ele se despedia e saía do quarto, fechando a porta. Não acho que ele tenha suspeitado de algo, além do mais ele confia em mim.

Ele confia, e eu não posso perder essa confiança.

I Think We're Alone Now - Temporada 3 (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now