trinta e tres | aithne

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A I T H N E

Meu corpo estava sendo devorado de dentro para fora. Como se uma chama estivesse consumindo cada partícula de mim.

Diferente de quando queimei os caçadores, isso queimava, doía.

Eu sentia a aflição dos ossos que me cercavam. Os gritos de quem eles um dia foram ecoavam nos meus tímpanos. Vozes raivosas, choramingando e bradando para mim.

Sangue escorreu por meu ouvido e nariz.

A cada segundo que se passava a dor se tornava mais insuportável. Tirando meu fôlego e energia.

Todos esses anos da minha vida, eu soube que era imortal. Não imortal como os outros seres sobrenaturais, mas realmente imortal. Nunca tive medo de morrer porque sabia que isso não era uma possibilidade para mim.

Nenhuma arma criada por deuses poderia me matar. Nenhuma arma criada por humanos ou sobrenaturais poderia me matar.

Mas agora, eu sentia a vida se esvaindo do meu corpo.

Engasguei com o sangue na minha boca, cuspindo o líquido avermelhado no chão, observei a grama antes verde agora vermelha com meu sangue cobrindo-a.

A dor dos meus ossos quebrando em minha primeira transformação era brincadeira de bebe comparada a essa que eu estava sentindo agora.

Eu sabia que se fechasse meus olhos agora eu nunca mais acordaria.

Um grito diferente daqueles ecoando no meu ouvido me chamou atenção.

Mesmo com os olhos entreabertos consigo ver sombras escuras tentarem se infiltrar na gaiola e falharem.

Alguém grita meu nome. E tem tanto desespero presente nessa voz, tanto medo explícito em seu tom.

A batida do meu coração decaiu, e consequentemente ouvi o espaço entre as batidas do coração do bebê também aumentar.

Se eu morresse ele não sobreviveria.

Se eu morresse, Kyros estaria perdido.

Uma raiva interior sobrepôs toda a dor que eu estava sentindo.

Ainda ajoelhada no chão, segurei nas grades da gaiola. Eram mesmo ossos. Senti todo o poder daqueles ossos nas minhas mãos. Um poder tão grande que eu nunca havia sentido antes.

Algo dentro de mim recuou com o poder dos ossos, mas a pequena magia que eu com o coven Göldi estava se remexendo para absorver esse poder novo.

Um fato desconhecido sobre o coven Göldi: os membros tinham a capacidade de absorver a magia de objetos e pessoas.

Sendo um coven discreto onde poucos sabiam qual bruxo era um integrante, informações como essa eram trancadas a sete chaves. Se as pessoas não sabem que você tem um trunfo, você será aquele que sairá por cima em uma briga.

Como se fosse uma criança ansiosa para devorar os cookies antes da janta, me permiti absorver toda a magia daqueles ossos. O poder correu por minhas veias, curando meu corpo e reanimando meus membros.

O gosto delicioso da magia presente nos ossos chegou a minha língua como puro açúcar.

Respirei fundo, sentindo toda minha força voltar a seu ápice.

Lambi meu lábio superior, limpando o sangue que estava ali.

Ergui meu olhar e a primeira coisa que vi foi uma bruxa de cabelos curtos, jovem e baixa. A garota me olhou com pavor evidente nos olhos. Suas mãos suspensas no ar como se ela estivesse ajudando a gaiola a me manter presa.

StygianOnde as histórias ganham vida. Descobre agora