vinte e dois | kyros

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K Y R O S

O corredor está silencioso quando piso fora da sala, fechando a porta atrás de mim.

Os choramingos, gritos e pedidos de socorro são todos impedidos pela grossa porta de metal.

Retiro um lenço branco do bolso, esfregando-o em minhas mãos sujas. O sangue vermelho mancha o pano como um anjo sendo corrompido pelo inferno. A cor branca do lenço logo se torna escarlate.

Passo por varias outras salas de tortura em meu caminho, todas elas sendo inutilizadas no momento.

Uma pena.

A estrutura do subsolo do castelo foi feita para esse tipo de situação. O acústico impetuoso do lugar impedia que qualquer som saísse desse andar.

Porém, eu não utilizava muito essas salas de tortura. Não que eu não gostasse de usá-las, longe disso, mas, geralmente — ou seja, sempre — , eu apenas matava as pessoas sem pensar duas vezes.

Passo pelos corredores vazios da casa, observando a luz do sol sumir pelo horizonte e a escuridão começar a tomar de tudo. Pelas grandes janelas, consigo ver a cor arroxeada e azul se misturar como uma tinta pintando o céu.

Após um banho tomado e com uma roupa limpa, passo no quarto de Aithne, apenas para encontrá-lo completamente vazio.

Aithne não havia se aproximado da sala de tortura, ela nem mesmo tentou me influenciar a deixa-la participar.

Paro no quarto vazio, me dando conta de que não a vejo desde ontem.

Pego meu celular no bolso, e com uma ligação descubro onde ela se encontra e me transporto.

Observando em volta, tudo o que vejo é uma casa isolada. Árvores de vários metros cercam a propriedade. Uma casa de dois andares que rodeava a terra em minha frente. Madeira vermelha escura e pedras.

Uma casa na montanha.

Passei os olhos por todo o terreno, e tudo que se podia ver eram árvores e mais árvores. Isso e montanhas ao redor.

Com a noite já estando em seu ápice, a casa aparenta acolhedora.

Luzes amareladas brilham por trás das grandes janelas, denunciando que alguém estava lá dentro.

Subo as escadas, erguendo a sobrancelha para o jardim bem cuidado.

Abro a porta de madeira requintada da frente, entrando sem ser convidado — graças ao lado demônio dentro de mim. As luzes estão todas acesas, e percebo que o interior da casa, assim como o exterior, é muito bem cuidado. Nem um único grão de poeira se encontra nos móveis.

Olho de relance para os outros cômodos com conceito aberto, todos com decoração rústica mas muito bem moderna ao mesmo tempo. Mas meus olhos travam em uma das paredes da sala.

Um grande quadro ocupa o centro da parede.

Estando próximo a espaçosa lareira, era impossível deixar de reparar no quadro ali. Outros objetos estavam decorando a sala, mas eu não me importava com eles.

Me aproximo com cuidado, como se a qualquer momento as pessoas na fotografia fossem pular para fora e me atacar.

Em meu estado atual de choque, eles me matariam sem se esforçar.

Um casal estava posando para a foto, sorrindo abertamente. Os olhos dos dois demonstravam uma felicidade que eu nem mesmo conhecia.

Uma felicidade que era de tirar o fôlego.

StygianWhere stories live. Discover now