vinte e três | aithne

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A I T H N E

— Ainda não compreendi o motivo de estarmos aqui.

Notei algo de interessante nesses dias em que convivi com Myra. Ela está sempre reclamando de algo.

Não que eu esteja julgando isso.

Até porque eu resmungo xingamentos a todo momento.

Mas era interessante ver a mulher belamente silenciosa revirar os olhos e reclamar como uma criança de sete anos.

Caminhamos pelas lojas do shopping, observando as vitrines com preços injustos para muitos — não que eu precisasse me importar com isso agora.

Algo difícil de se encontrar no universo, era um vampiro sem dinheiro. Podíamos roubar dinheiro dos humanos como se fosse doce de bebê. Compulsão, força, agilidade, todos esses fatores dançavam ao nosso favor.

E os vampiros mais velhos, não perdiam tempo guardando relíquias e acumulando um capital enorme.

Foi isso que meu pai fez.

Acumulando a herança de Samael Delamort e a herança dos Whitewood, eu era proprietária de uma quantia de dinheiro que os humanos levariam mais de uma centena de anos para conseguir.

Essa soma da minha herança de dinheiro familiar, junto com todo o dinheiro que consegui matando algumas pessoas por puro prazer... bem, eu era rica, bem rica.

Logo quando acordei essa manhã, arrastei Myra comigo para o shopping com a desculpa de que precisava de novas roupas. O que não era totalmente mentira, desde que algumas das roupas que eu tinha estavam cheias de furos de tiros.

Porém, o real motivo dessa vinda ao shopping, era que eu precisava me afastar um pouco de Kyros. Mesmo que seja apenas por algumas horas.

A noite anterior fugiu totalmente do meu controle.

Totalmente.

E agora meus nervos se encontravam à flor da pele.

Na manhã anterior, eu acordei animada pensando nas maneiras em que iria torturar o novo cativo. Mas então, depois de algumas horas assistindo o tempo passar, a percepção socou meu rosto como o maldito Hulk.

Cinco anos que eles morreram.

Cada ano que passava não ajudava a dor a diminuir.

Apenas uma coisa poderia diminuir e aliviar a dor, mas essa também era a opção que tinha uma grande probabilidade de me deixar ainda pior.

E isso seria fazer o feitiço.

Aquele feitiço complicado que me daria a oportunidade de conversar com meus pais.

O feitiço não era apenas complicado. Ele exigia uma grande proporção de poder, e esse era o motivo de não ser usado muitas vezes. Mas graças a um grimório de minha avó, eu conhecia cada passo do feitiço e tinha mais poder do que o necessário para realizá-lo.

Ser uma bruxa do Coven Göldi tinha seus privilégios, sendo um deles o acesso à magia antiga — muito antiga. O coven não contava com muitos integrantes, e aqueles poucos integrantes estavam espalhados pelo globo. Mas ainda sim, o Coven Göldi era o mais temido de todo o universo sobrenatural.

E sendo neta da tão famosa Ameth Delamort, eu era a mais nova líder.

O coven era o grande motivo de meu pai conseguir se tornar um híbrido. Até porque ser um vampiro o impedia de praticar a natureza da terra.

E com isso os deuses ganharam eu como tribrida.

Uma morta viva que pratica magia e se transforma em lobo.

StygianOnde as histórias ganham vida. Descobre agora