61 - Quem ela pensa que é?

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- Amora, meu deus - levanto-me também, meio desnorteado com todas as acusações -, me escuta! Ela me convidou para vir à Grécia fiscalizar um restaurante que quer comprar... e decidi usar a oportunidade para te fazer uma surpresa!

"Por favor, acredita em mim", implorei mentalmente.

Ela fica em silêncio, raciocinando sobre minha afirmativa, e então sorri. Pude perceber em sua forma de agir que não havia acreditado em uma palavra que tinha saído de minha boca, e, mais uma vez, aquilo acabou por dentro. Se Amora estava agindo daquela forma, a culpa era única e exclusivamente minha.

Juro que nunca serei capaz de me perdoar se perder essa mulher.

- Nosso casamento já não vai bem há um tempo. Quer dizer, você não tem tempo para estar comigo, e eu até que me acostumei com sua ausência - passa a mão no rosto, demonstrando exaustão -... mas inventar essa história para justificar uma traição, é um pouco demais, não acha?

Balança a cabeça em negação, como se tentasse fugir de suas próprias palavras.

- Amora, eu sei que tenho estado ausente - me aproximo, deixando poucos centímetros de distância entre nossos corpos -, e é justamente por isso que topei essa viagem. Queria te surpreender e mostrar que estou disposto a melhorar... por nós. Eu errei, deixei as coisas esfriarem... - coloco a mão em seu queixo - mas posso acertar as coisas, basta você aceitar.

- Se isso é verdade - afasta a cabeça -, qual a porra da lógica daquela mensagem que Ingrid mandou para o seu celular? Te chamando de gostoso? - pergunta com desdém.

- Eu não sei qual é a dela, Amora... Não sei! Ela disse que era brincadeira, mas porra, foda-se, eu só quero me resolver com você!

- Como se fosse fácil deixar isso de lado, né? - respira fundo, nervosa.

Aproximo meu rosto do seu, e ela me encara fixamente, tentando decifrar se aquilo era verdade ou não. Por mais que fosse difícil, Amora teria que confiar em mim. Porra ela tinha que acreditar, até porque, assim que possível, nossos amigos iriam confirmar a história.

Quando nossos lábios estavam prestes a se tocar, o elevador dá outro solavanco e volta a descer. Ela se afasta, passa a mão no rosto e vira para o outro lado.

Fico um pouco desnorteado por conta do calor de nossos corpos. As coisas esfriaram, mas nosso contato ainda causava choque.

Antes que eu pudesse tomar qualquer atitude de me aproximar dela novamente, a porta se abre e Amora sai correndo.

AMORA

Corro como se não houvesse amanhã, e completamente sem destino. Eu estava com raiva de tudo, e de todos. Meus amigos não tinham o direito de me arrastar para um país distante sem contar os motivos por trás. Se é que tais "motivos" fossem verdadeiros mesmo.

Juro que se teletransporte fosse possível, nesse momento, já estaria no Brasil, nos braços de minha filha.

Minha cabeça estava a mil, e, ao mesmo tempo que pensava em tudo, nada se mantinha ali por muito tempo. A realidade é que estava mergulhada em um emaranhado de dúvidas.

"Henrique estava mesmo falando a verdade?" Era a frase que me rodeava por todo caminho.

Saio do hotel, sem ao menos me importar com os olhares me seguindo. Quando me dou conta, já estou na areia da praia e, antes que pudesse parar para respirar e colocar a cabeça no lugar, esbarro fortemente em um brutamontes.

Era Ícaro ao lado de Lara, que, em meio a tantas confusões, descobri ser sua irmã. Estavam tomando conta de um grupo de turistas que aguardavam por sua vez em um "banana split".

- Ah, toma cuida... - começa a falar, mas ao perceber que a mulher que tinha acabado de cair de bunda no chão era a mesma que provocou um corte em seu lábio inferior, fica quieto.

Mesmo constrangido, ergue o braço em minha direção, oferecendo ajuda para me levantar.

- Ah, obrigada! - agradeço, tentando me manter de pé. A porrada realmente tinha sido forte. Ícaro repara meus olhos vermelhos, e não se contém em perguntar.

- Entrou areia nos seus olhos? - pergunta, me encarando mais de perto.

- Antes fosse... - dou uma fungada, lembrando do motivo da vermelhidão de meus olhos.

Lara se aproxima ao notar minha presença. Tudo indica que estava querendo fugir de novos problemas.

- O que está acontecendo aqui? - pergunta a loira, deixando seu sotaque bastante evidente.

A semelhança entre os dois era absurda. Loiros, olhos azuis...

- Vocês são gêmeos? - pergunto, apontando para um de cada vez.

A garota revira os olhos com a pergunta e assente. Pelo que pude perceber, a situação de mais cedo realmente havia lhe perturbado. Ao perceber que não receberia a resposta de sua pergunta, resolve questionar novamente.

- O que está acontecendo aqui? - cruza os braços.

- É que... - não consigo segurar as lágrimas -, o meu marido me traiu com a ex-esposa, e ele jura que não, mas sei que está mentindo... - dou uma fungada - foi tanta luta para ficarmos juntos, e ele me troca por aquelazinha... Meu deus!!!! - as lágrimas descem cada vez mais amargas.

Lara se comove com meu choro, vem em minha direção e me envolve em um abraço. Só percebi que precisava daquilo quando recebi.

- Olha - ela afasta meu corpo do dela -, quer vir até nossa casa - aponta para o irmão com a cabeça - para relaxar a cabeça longe de seus amigos?

Fico em silêncio durante um tempo, refletindo se seria certo ou errado aceitar aquilo. Acontece que já não importava, pois como já sabia, a porra do meu casamento foi para a puta que pariu.

- Ei - Ícaro chama minha atenção -, pode ficar tranquila. Nós somos pessoas de bem, apenas queremos ajudar. Trabalhamos aqui desde a adolescência... Meio que herdamos os cargos de nossos pais. Portanto, saiba que não é a primeira que precisa de nossa ajuda.

Lara dá um sorriso sincero, exalando confiança.

- Pois é! E sempre somos os funcionários do mês! E caso se sinta mais segura, pode vir conosco para o espaço dos funcionários no Hotel.

- Não quero parecer rude, mas - dou um sorriso forçado - prefiro que me levem até a área dos funcionários. Algum problema?

- Jamais, minha querida! - Lara sorri - Você só precisa colocar essa cabecinha no lugar!

Ícaro vai andando na frente, nos guiando, enquanto Lara conta sobre a vida dos dois naquela ilha.

Fomos andando enquanto conversávamos de tudo um pouco, o que fez a caminhada aparentar durar bem menos do que deveria. Assim que Ícaro abre a porta dos fundos, que era por onde os funcionários entravam, uma surpresa.

Música alta, risadas, bebidas por todos os lados e pessoas dançando. Os funcionários estavam festejando sabe se lá o por quê.

Doce como Amora ✔️Where stories live. Discover now