59 - Apanemo

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AMORA

Chegamos ao Aeroporto de Santorini na tarde de sexta-feira. Tentava ficar animada para a viagem como Dani e Mahmoud, mas pensamento rodava em mil e uma situações, mas no final, sempre acabava focando em Henrique.

Até que reservar um hotel com as diárias mais caras da ilha, e comprar roupas em excesso aliviou um pouco à dor que percorria em meu corpo ao passar a mão na testa e sentir os chifres. Mas logo voltava, porque, sinceramente, não conseguia entender o porquê daquilo. Não fazia sentido algum.

Mas já não me importava mais com isso. A viagem vai servir para acalmar meus ânimos, e assim que voltasse ao Brasil, nem ia me dar ao trabalho de falar com Henrique. Como sou advogada, eu mesma daria entrada em meu processo de divórcio, e foda-se ele. A única coisa que me fazia pensar duas vezes sobre isso era nossa filha. Mas logo lembro de como foi péssimo ver minha mãe sofrer ao lado de meu pai na época que ele despirocou das ideias.

Meus amigos falavam empolgados sobre como seria o máximo ficar no melhor hotel da região, e tentavam levar minha animação junto. Fingi felicidade, não por sentir o mínimo, mas sim em agradecimento ao esforço dos dois.

- Amora, você parece uma lesma, garota! - diz Mahmoud, regredindo até minha posição. Antes, estava com as mãos vazias, mas agora estava com dois carrinhos de transportes para mala. Meu queridíssimo marido vai ficar tão feliz ao olhar a fatura do cartão.

Reviro os olhos e apoio minhas malas na parede.

- Vocês que andam muito rápido! - cruzo os braços, emburrada - Eu estou cansada, e o chifre começando a pesar - debocho de minha própria desgraça.

Mahmoud ri como resposta, e Daniele vem correndo em nossa direção.

-O traslado já nos aguarda gente! - sorri e dá uns pulinhos animados - Vamos, pelo amor de Deus, estou ansiosa!

- Nunca fui em um lugar tão chique na vida! - Mahmoud fala, empolgado.

Dou um sorrisinho de lado e sigo os dois, que andam saltitando.

- Qual o nome do hotel mesmo? - pergunto, mesmo já sabendo a resposta. Queria mais uma vez ver o brilho no olhar de meus amigos.

Os deixei escolher o local com toda a liberdade do mundo, com apenas um adendo: teria que ser o mais caro, ou um dos mais. Eles optaram por um lugar maravilhosamente impecável, que oferece massagem, SPA, café da manhã com comidas típicas... Dentre mil e uma coisas super atrativas. Queria morrer por conta da merda que minha vida estava, mas admito que gostaria que o incidente aconteça enquanto eu estiver estirada em uma cama, enquanto um homem gostoso massageia minhas costas com óleo de avelã.

- Apanemo! - os dois dizem juntos.

O motorista era alto, forte e tinha olhos mais azuis que os meus. Senti um leve calor alcançar minha calcinha, o que acabou me deixando bastante empolgada. Não aceito julgamentos, pois, por mais que ainda estivesse casada com aquele filho da puta, e pior, o amasse incondicionalmente, chifre trocado não dói. E, sinceramente, me conheço bem o suficiente para saber que transarei com no mínimo seis pessoas para contribuir com a digestão daquele enorme sapo que estava preso em minha garganta.

Percebo que o deus grego me examina de cima a baixo, o que acaba arrancando alguns arrepios de meu corpo. Tinha esquecido como era boa a sensação de ser desejada por um desconhecido. Quer dizer, só o fato de perceber que tinha alguém querendo meu corpo, já era o suficiente para me deixar animada. Esse é o resultado de ter um marido traidor filho da puta que negligência o casamento.

Faço questão de entrar no banco ao lado do motorista, o que deixa meus amigos desconfortáveis, pois sei que perceberam nossas trocas de olhares. Dani nem tanto, mas Mahmoud me conhecia bem o suficiente para saber quais eram minhas pretensões em relação àquela aproximação com o estranho magnificamente gostoso.

Doce como Amora ✔️Onde as histórias ganham vida. Descobre agora