• one single thread of gold tied me to you •

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De repente, Rafael se sentiu sufocado.

"Gente eu... Vou precisar fazer uma ligação pro Renzo, coisa de trabalho. Mas já terminei de comer, então vocês me chamam quando acabarem, ok? Espero vocês lá fora" Disse e, sem esperar por uma resposta, saiu do restaurante do hotel em busca de ar puro.

Ele caminhou um pouco pelo deck da piscina com as mãos nos bolsos da bermuda até chegar a um bar de coquetéis, onde escolheu um banco para se sentar. O atendente perguntou se gostaria de alguma coisa mas ele negou, apenas aproveitando a brisa do mar e respirando fundo, se sentindo levemente melhor, mas não muito.

Com o pensamento longe, ele mal ouviu quando alguém pediu uma bebida há alguns passos de distância, mas não demorou até que a voz o tirasse de seus devaneios.

"Ah não. Não é possivel isso! Rafael, fala a verdade: você ta me seguindo, né?"

Ele se virou no susto, mas assim que seus olhos encontraram a expressão provocativa de Júlia, já tão familiar, ele imediatamente abre um sorriso incrédulo.

"Claro que é você" Rafa ri alto. "Deixa eu adivinhar: Você também ta hospedada aqui?"

Ela riu de volta, se aproximando, e ele não conseguia deixar de achar a situação hilária. Era quase como se o destino tivesse tirando uma com a cara dos dois. "Olha, a sua sorte é que você conseguiu mudar minha opinião sobre você, ta? Porque se não eu ia estar jurando que você é um stalker" A advogada apoia o cotovelo no balcão, virando bem de frente pra Rafa. "Pior que estou, sim. Foi esse o hotel que a Micaela escolheu pra gente ficar. Inclusive, olha ela ali"

Júlia indica um grupo de mulheres que riem em uma das mesas perto da piscina, todas parecendo meio altas e vestindo maiô da mesma cor, com exceção de uma. Só então ele nota que o modelo de Júlia, um pouco escondido pela saída de praia meio aberta que ela usa por cima, é o mesmo das meninas – azul marinho, onde se lê "squad", enquanto a morena baixinha veste um branco com a palavra "bride" estampada no lugar. Rafa acha graça.

"Faz sentido." Ele volta a olhar para a morena à sua frente, cuja pele contrastava gritantemente com o tom escuro do maiô e da saída. "E porque você não ta la junto com elas?"

"Vim pegar uma bebida. Mas, pra ser sincera, eu não conheço quase ninguém ali além da noiva, então... Acho que fico meio deslocada, sei lá"

Pela forma como ela compartilhou essa informação tão facilmente, Rafa acredita que ela provavelmente já bebeu algumas taças.

"Logo você? Duvido. Você tem cara de que sai entrosando e virando amiga de todo mundo em 10 minutos"

"Disse o cara que me odiou quando me conheceu" Os dois riem. "Mas e você, ta sozinho porquê? Cadê a namoradinha do colégio?"

Rafa suspira, desviando os olhos. "Ta com o resto do pessoal lá dentro, tomando café da manhã. Eu... Saí pra tomar um ar."

"Tomar um ar?" A advogada franze o cenho. "Aconteceu alguma coisa?"

"É... Complicado" Ele hesita, e bem nesse momento o barman coloca a bebida dela no balcão "Mas não quero te encher com isso, Júlia, você ta se divertindo. Vai aproveitar sua despedida, vai"

"Não, agora eu fiquei curiosa. E você ta com cara de quem precisa desabafar" Ela finalmente senta no banquinho ao seu lado "Além do que, eu também não to muito a fim de ouvir as meninas tentarem arrancar detalhes da vida sexual da minha priminha, então qualquer desculpa pra adiar esse martírio é válida"

Rafa ri, mas assim que tenta achar as palavras para explicar sua situação e volta a pensar em tudo que aconteceu, sente os ombros caírem em derrota. "Ah, Júlia... Sei lá, eu não quero soar como um babaca paranóico ou ciumento... É que... Não sei se é coisa da minha cabeça, mas..."

"É o ex, né?" Pergunta, delicadamente, seus olhos azuis focados o tempo inteiro nele.

O moreno suspira. "É. Ele é gente boa, não me entenda mal. Mas eles parecem... Próximos demais, sabe?" Ela assente em resposta "Eu imagino que quando a separação é amigável isso deve ser normal, são anos de convivência né, existe uma intimidade ali que... Que eu obviamente não tive com a Kyra nos últimos anos. Mas..." Rafa encara Júlia, balançando a cabeça em negativa "O jeito que eles se olham..."

Ela sorri triste, solidária. "Você acha que essa viagem pode ter reaproximado eles?"

"Acho. Mas não faço ideia do que fazer." Confessa "Eu sinto que... Que to perdendo a Kyra, bem diante dos meus olhos, e que to de mãos atadas"

Júlia franze o cenho.

"De mãos atadas porquê?" Questiona.

"Ah, sei lá... Não sei o que fazer pra impedir isso. Fora que eles dois tem filhos juntos, Júlia. Que tipo de cara eu seria se ficasse no meio de uma possível reconciliação dos pais de duas crianças?"

"Olha... Admito que é meio fofo você se preocupar com isso." Ela lhe oferece um sorriso de lado, estranhamente doce para os padrões da advogada, e o empresário meio que gosta disso. "Mas Rafa, eles se separaram por um motivo. E se você realmente gosta de uma pessoa, você luta por ela. Mesmo que você não saiba o que fazer, você da um jeito, descobre, faz o que seu coração mandar... A única coisa que não dá é desistir sem antes ter tentado"

"Obrigado por isso" ele sorri de volta "De verdade. Eu vou seguir seu conselho, só preciso descobrir como vou fazer isso"

"Bom... Você disse que eles parecem próximos, tem intimidade... Provavelmente essa convivência deles dois aqui na viagem fez ela lembrar dos bons momentos que eles tiveram juntos durante o casamento. Mas vocês dois também tem história, né? Porque você não faz a mesma coisa então?"

Rafa pondera por um momento. "Relembrar os momentos bons da gente... Nossos sonhos... Claro! Júlia, você é sensacional!"

"Eu sei" ela da um risinho convencido, bebendo um gole da sua bebida colorida. Rafael pega sua mão livre e deixa um beijo agradecido, que parece pegar a advogada de surpresa.

"Obrigado mais uma vez. Fico te devendo uma" Ele diz, antes de sair correndo de volta para o restaurante. Quando está quase na porta, ele escuta a já conhecida voz feminina gritar.

"Eu vou cobrar, viu?!"

Rafa ri consigo mesmo. Claro que vai.

Ele não tinha dúvidas disso.

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