• just go with it •

• the best of times, the worst of crimes •

O caminho no carro foi tranquilo, com Kyra repassando direitinho tudo que haviam combinado para que as informações não desencontrassem. Como o Ibirapuera era longe de sua casa, deu tempo de sobra para falar sobre tudo e ainda ouvir algumas das dicas de atuação de Queen.

"Eu tava vendo uns vídeos no youtube sobre improviso, e a moça disse que a coisa mais importante é não dizer que o outro ta errado ou mentindo!"

"Mas isso é óbvio, Queen" Mosquito pontua.

"Parece óbvio, mas quer dizer que se alguém falar alguma coisa que não tava combinada, todo mundo tem que agir como se fosse a mais pura verdade e ir improvisando na hora"

"Ahhh, entendi" é Kyra quem comenta "Foi mais ou menos o que aconteceu quando eu concordei que tinha filhos"

"Isso! Assim é mais difícil de alguém desconfiar que é tudo mentira"

"É, mas vamos evitar ficar inventando um monte de coisa porque se não depois fica difícil lembrar de tudo e não se contradizer" Alan avisa, e Kyra não deixa de notar a tensão em sua voz.

"Ih, parece que alguém ta nervoso" ela provoca sem saber ao certo o porque, quando viu já tinha pulado da boca. Alan aperta os olhos em sua direção, surpreso, mas aparentemente não de um jeito ruim. As crianças também parecem gostar, dando risada.

"Deve ser porque foi ele que estragou tudo da ultima vez." Mosquito solta, e até Kyra da risada.

"Todo mundo tirando uma com a cara do papai, né?" Alan pergunta, com falsa indignação na voz "Pois saibam que dessa vez eu vou ser o melhor ator de todos"

"Vai nada, eu que vou!"

"A melhor sou eu que vi as videaulas, vocês são amadores" Queen pontua, num tom que faz jus ao seu nome – mas definitivamente não a sua idade e estatura.

Em meio a risadas e provocações leves, Alan finalmente estaciona o carro e os quatro saltam, Kyra com a cesta de piquenique nas mãos. As crianças correm de um lado pro outro, cheias de energia, e lideram o caminho sem se afastar muito graças aos avisos do pai, que caminha calmamente ao seu lado.

"Ai Alan, eu espero que não tenha sido muito trabalho pra sua tia... Eu podia ter providenciado a comida"

"Imagina, a tia Grazi adora cozinhar, ela que se ofereceu. Ela não sabe da farsa toda, mas ficou feliz em saber que eu ia passar uma tarde com os meninos aqui no parque. Ela sempre reclama que eu trabalho demais."

"A Alexia comentou que você é muito ocupado mesmo, mas eu imagino como deve ser difícil... Sustentar três filhos sozinho"

"É... Eu sempre tive um volume de trabalho grande, mas tive que praticamente dobrar quando... eu fiquei viúvo"

Ela sorri em simpatia. "Pelo menos eu to ajudando de alguma forma proporcionando esse momento em família pra vocês. Ou quase em família"

Alan da uma risadinha, colocando as mãos nos bolsos. "É, não deixa de ser. Eu só espero que eles se comportem e não estraguem tudo"

"Olha, eles até que parecem bem animados, viu? Bem mais do que eu esperava... Mas fica tranquilo que eu sei bem do risco. E não é como se eu tivesse outra alternativa"

Ele assente. "Você deve ser mesmo muito apaixonada pelo Rafael. Essa é a maior loucura de amor que eu já vi alguém fazer por outra pessoa"

Os intensos olhos verdes fazem a constatação ter um efeito estranho dentro de Kyra que ela não sabe ao certo definir. Pra sua sorte, o seu celular toca, impedindo que ela vagueie mentalmente sobre isso por mais tempo. Rafael. Ele diz que já chegou e compartilha sua localização, a qual eles alcançam após alguns minutos de caminhada.