• just go with it •

• one single thread of gold tied me to you •

Ela só precisava decidir se seria essa mesmo a sua escolha final.

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Rafael sempre foi um cara que costumava prestar muita atenção aos detalhes.

Desde muito novinho, o moreno era muito organizado, asseado, curioso e detalhista. Ele gostava de se atentar às pequenas coisas, ler nas entrelinhas e analisar pessoas e seus comportamentos. Era algo que Rafa fazia naturalmente, e costumava ser muito útil tanto em sua vida profissional quanto pessoal.

Ás vezes, no entanto, a ignorância parecia uma bênção.

Desde o dia anterior, que haviam passado na praia e no hotel, a dinâmica entre Kyra e Alan havia chamado sua atenção. Das primeiras vezes que Rafa estivera com os dois havia sido bem mais rápido do que um dia inteiro juntos, e eles pareciam estar se tratando mais formalmente. De maneira amigável, claro, mas havia uma certa distância cordial entre eles que parecia não estar mais lá agora. Estava tudo nos pequenos gestos - o jeito como eles normalmente estavam próximos e frequentemente mimicavam as posições um do outro, os toques que pareciam extremamente naturais, a forma como um sempre fazia o outro rir, a dinâmica com as crianças, na qual eles nem pareciam precisar de palavras pra se entender... Isso pra não falar nas coisas específicas, como o momento em que ele havia ajeitado o cabelo de Kyra após Mosquito roubar seu chapéu, como se fosse algo super comum, ou quando ele havia sido a primeira pessoa que ela abraçou ao conseguir marcar seu primeiro ponto no boliche do hotel.

Isoladamente, nada daquilo significava muita coisa. Mas tudo junto era um pouco... Desconcertante.

Ainda assim, Rafa tentava ao máximo deixar pra lá e tranquilizar a si mesmo. Os dois haviam sido casados, era normal que houvesse uma certa intimidade entre eles, principalmente ao redor das crianças, com quem eles eram acostumados a terem uma rotina. O empresário não devia ficar pilhado com isso - afinal, ele mesmo havia adorado o fato de eles terem uma relação tão boa e tão próxima, não é? Seria hipocrisia e ridículo de sua parte sentir ciúmes e se incomodar. E a última coisa que ele queria era que, mesmo sem querer, ele interferisse nisso de alguma forma e acabasse afetando os baixinhos.

Mas algumas coisas eram difíceis de engolir. Como os dois de mãos dadas do lado de fora do hotel, no almoço, depois soltando dando risinhos envergonhados. Ou a dança na cozinha, em plena madrugada, também em meio a risadas. Kyra sempre foi uma pessoa leve, mas Rafael poucas vezes a vira com os olhos brilhando daquele jeito. Não havia sido fácil silenciar seus pensamentos e cair no sono naquela noite.

E, agora, o dia mal havia começado e Rafael já estava a ponto de explodir.

Observar a rotina matinal que eles haviam criado já tinha sido estranho – era como ver uma família completa, feliz e fechada, que funcionava muito bem e não possuía uma brecha sequer, muito menos um lugar pra ele. Ele provavelmente não se importaria tanto se não fossem os acontecidos do dia anterior, mas nas atuais circunstancias, qualquer coisinha alimentava as minhocas na sua cabeça. O grupo seguiu para o café da manhã do hotel, Kyra de mãos dadas com Mosquito, que segurava a mão de Queen, que segurava a mão de Alan.

Uma perfeita família feliz.

Ao chegarem ao local, mais uma vez, a dinâmica já era estabelecida, como Rafa já tinha visto no dia anterior. Mas hoje, especificamente, ele estava se sentindo cada vez mais estranho. O estopim foi quando Queen tentou dar um pouco de geleia ao pai e acabou melando seu rosto, e então, é claro, Kyra imediatamente pegou um guardanapo e limpou o a bochecha e o canto da boca do advogado. Quase automaticamente. Mais uma vez, como se fosse a coisa mais natural e certa do mundo.