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Foi inevitável passear os olhos pelo corpo do moreno, mas ela logo focou sua atenção no que era realmente importante e puxou uma cadeira pra ele. "Senta um pouco, vai. Você claramente não ta bem"

"Não eu... Preciso ir pro quarto trocar essas roupas. É melhor"

"Realmente, é bom você tomar um banho quente pra não pegar uma pneumonia. Mas... Não sei se é uma boa ideia te deixar sozinho agora." Ela hesita "Rafa, eu... Não sei o que aconteceu com você, mas deve ter sido grave pra você ter ficado assim nesse estado. Eu sei que eu posso ser meio intransigente as vezes, mas... eu também posso ser companheira. Conta comigo, ta? Sempre"

Rafael deixa aparecer um sorriso bem leve, o que já é um alívio pra ela, e se aproxima devagar, acariciando seu rosto numa demonstração inesperada de... afeto.

"Cê sabe que... Eu sempre soube que por trás dessa postura durona... tinha uma mulher doce. Obrigada, Júlia. Mesmo." Ele deixa o sorriso crescer um pouquinho "E eu aceito a companhia, sim... Se não for te atrapalhar muito..."

"Imagina" Júlia sorri de volta "Eu vou lá com você e você me conta o que aconteceu... Se quiser"

Ele assente e os dois saem em direção ao quarto. Chegando lá Rafa se veste apressado e logo pega Júlia pela mão e a arrasta pra longe "antes que alguém aparecesse". Se ele não queria encontrar com ninguém...

Mau sinal.

Júlia sugere que eles sigam para um dos bares do hotel, mais afastados, assim tinham menos risco de encontrarem o grupo. Só quando eles chegam e se sentam na mesa Rafa consegue explicar toda a situação.

Júlia o fita séria após escutar tudo, respirando fundo.

"Eu sei. Eu fui impulsivo, apressei as coisas, não respeitei o tempo dela e fiz uma grande besteira. Por desespero e medo de perder, acabei só afastando a Kyra ainda mais de mim. Pode jogar na cara, eu mereço." ele da um sorriso irônico "E eu sei que é o que você está pensando."

Júlia inclina a cabeça. "É bem por aí, sim... Mas acho que você já está se martirizando o suficiente" Ela faz um sinal para o garçom, pedindo dois shots "Agora você precisa dar espaço e tempo pra ela pensar. E Rafael... Se me permite dizer, essa sua história com a Kyra é um tanto... Estranha"

"Como assim?"

"Bom, além de toda a viagem pra Cancun em família e da mentira maluca..." Júlia pontua "Não sei, vocês soam como... Um conto de fadas, sabe? Esse amor todo que você diz sentir por ela... Me parece que nem deu tempo ainda de você conhecê-la direito ainda, e que você ta preso ao sentimento que tinha pela Kyra adolescente. E eu entendo, ela foi muito importante pra você, e vocês tem uma história, mas..."

"Mas...?"

"Mas pra mim parece que ela ta se desprendendo do passado e tentando viver o agora, e você fica voltando e tentando puxar ela pra o que vocês viveram antes. Eu sei que eu mesma sugeri que você lembrasse a ela das coisas boas, mas isso foi quando a gente achava que ela e o Alan tinham sido casados. E olha, mesmo assim, nenhum relacionamento vive só de lembranças."

"É... Eu disse a ela hoje que a Kyra antiga nunca recusaria uma proposta de casamento, mas ela disse que continua a mesma, que o problema foi o timing"

"Pois ela claramente está iludida também. Se ela fosse a mesma, além de não recusar, ela não estaria dividida entre vocês. E honestamente, não é nem realista achar que depois de praticamente uma década vocês continuam os mesmos. As pessoas mudam, evoluem, amadurecem... E ta tudo bem"

Ele assente, devagar. "É... Eu acho que você ta certa. Eu só preciso aprender a lidar com isso"

"Eu sempre to certa." Júlia sorri e Rafa da risada "E sabe no que eu to certa também? Em achar que o senhor deve tirar a cabeça disso agora e se divertir um pouco"

"Ah, Júlia, eu não tenho nem clima..."

"Pois eu acho que sei como fazer você entrar no clima rapidinho." Ela aponta para um touro mecânico que havia ao lado do bar "Aposto que você não consegue ficar 10 segundos naquele troço"

"Que aleatório" Rafael ri. "Ta tentando apelar pra minha competitividade? Não vai funcionar, eu tenho plena consciência de que sou péssimo nisso"

"Ih, então pelo visto, não deve conseguir ficar nem 3 segundos..."

Rafa aperta os olhos e Júlia já sabe que o fisgou. "Não, peraí também. Três segundos eu consigo"

"Aposto que não. Valendo um shot de vodka, o perdedor tem que virar"

"Ta bom" ele cede, desafiador "Mas só se você tentar depois também"

"Não só tento como aposto que consigo pelo menos 5 segundos"

"Feito."

A noite acaba passando muito mais rápido do que ela esperava, com os dois se revezando entre os shots e as rodadas no touro mecânico, arriscando até irem juntos algumas vezes. Depois de algumas horas eles já estavam bem bêbados, achando absolutamente qualquer coisa hilária e rindo muito juntos, numa leveza que Júlia amava. Era estranho como as coisas pareciam sempre fluir bem com Rafael apesar do constante bickering dos dois, quase como se eles soubessem exatamente a maneira certa de se provocarem positivamente.

Quando já estavam exaustos do touro, seguiram caminhando de volta para o prédio principal do hotel onde ficavam os quartos, ainda em meio às gargalhadas e se apoiando um no outro. De alguma maneira o papo deles voltou mais uma vez para livro e Rafael assumiu uma expressão indignada.

"Eu ainda não superei que você não torce pro Darcy e a Elizabeth Bennet como um casal. É o maior defeito de Júlia Santamarina, sem dúvida alguma"

"Superou minha profissão? Uau" Ela gargalha, mas depois revira os olhos "Ta, eu vou confessar que... Talvez eu possa ter exagerado um pouquinho"

Ele franze o cenho e imediatamente para de andar. "Como assim?"

"Eu gosto deles como casal, sim." Confessa, virando de frente pra ele, mas mantendo o olhar ao longe "Shipo. É a origem do enemies to lovers da literatura, como não torcer pelos dois?"

"Então você me enganou? Bonito..." Ele aperta os olhos, assumindo uma falsa expressão de indignação enquanto se aproxima, o que a faz rir.

"Eu queria te provocar, ta? Fora que eu tinha feito uma..." A palavra some de sua mente nebulosa devido a bebida, mas logo volta "uma analogia, e não cairia muito bem a comparação. Eu não queria nem pensar no que aquilo implicaria" Ela finalmente o encara de volta.

"O que implicaria?" Rafa questiona, parecendo saber muito bem do que está falando, o olhar provocador. Quase como se estivesse desafiando ela a continuar "Que se você era a Elizabeth e eu o Darcy...?"

"Exatamente. Mas é claro que eu não ia querer dizer isso." Ela diz, seus olhos desviando dos dele para sua boca por apenas um segundo.

"Obviamente" Ela o observa fazer o mesmo, parecendo estar ainda mais próximo.

"De jeito nenhum"

E então, quando se da conta, seus dedos se afundam nos cabelos de Rafa e as mãos dele estão por toda parte percorrendo seu corpo, enquanto os lábios movem de maneira urgente contra os seus.