• just go with it •

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Kyra parecia chocada, o encarando com a boca entreaberta e os olhos escuros curiosos, como se não acreditassem no que ele havia dito. Alan pigarreou. "caham, me empolguei, né"

"Não, tudo bem, eu..." Ela franziu o cenho "Eu nem lembrava da minha roupa até você comentar sobre a cor"

Ele sente o sangue correr para o rosto ferozmente, as bochechas logo queimando. "D-desculpa, eu..."

"Alan, não precisa se desculpar por isso, eu só... Fiquei surpresa. É... Fofo que você se lembre, na verdade"

Ele desvia os olhos. Não podia contar que lembrava porque a beleza de Kyra o havia desestruturado e feito ele reparar numa mulher pela primeira vez desde que havia ficado viúvo. Isso era informação demais. Mas... Uma coisa ele podia contar.

"Sabe porque que eu estava tão aéreo naquele dia?" Ela faz que não com a cabeça e ele suspira. "Eu tinha acabado de tirar a aliança pela primeira vez, meses após a morte da Roberta."

Alan não sabia ao certo porque estava contando isso pra Kyra, mas havia... escapulido. Naturalmente. Nem a Alexia sabia daquele detalhe.

"Eu sinto muito"

"Não, tudo bem, eu só..." ele a encara. Se ele não tivesse resolvido tirar a aliança naquele dia, ele teria saído um pouco antes do banheiro, e eles não teriam se esbarrado. Da mesma forma que eles não estariam alí se não fosse pela aliança da Roberta. Era um tanto irônico que os anéis que simbolizavam sua união com a falecida esposa de alguma forma tivessem acidentalmente aproximado os dois. Duas vezes. "Deixa pra lá"

Esse havia sido também um dos motivos de ele não levar a sério seu encantamento inicial por Kyra. Ele tinha acabado de tirar a aliança ao se esbarrar com ela, e calhou de ser uma mulher muito bonita. Era tudo muito simbólico e na época ele estava crente que era psicológico. Não deixou de fazer com que ele se sentisse culpado por reparar em outra mulher tão rápido, mas foi mais um motivo para ele sequer considerar a possibilidade pensar num envolvimento.

Ele só não fazia ideia que, anos depois, Kyra continuaria ainda mais encantadora. Nem que seu encantamento iria muito além do rostinho bonito e sorriso perfeito.

"Bom..." ele continua, notando que Kyra parece um pouco perdida em pensamentos, como se processasse o que ele havia dito. "Fica combinado assim então?"

Ela assente, parecendo acordar de repente. "Fica sim, aniversário do Tarantino e da Alexia. E a ideia da viagem foi realmente pra eu me aproximar ainda mais das crianças"

"Isso." Ele assente "E taria funcionando, porque elas já te adoram"

Kyra sorri sincera. "Eu fico feliz com isso, de verdade. Eu adoro eles também... Inclusive, eles já dormiram?"

"Que nada, tavam jogando uno com o Tarantino e a Bia quando eu cheguei. Bem acordadinhos"

"É, eu deixei eles prontos mas estavam bem agitados ainda. Eu nem sei de onde eles tiram tanta energia" Ela da uma risadinha.

"Obrigada por isso, a propósito. Arrumar eles e... Enfim, todo apoio que você tem dado"

"Não precisa agradecer sempre, a gente combinou, não foi? Fora que você ta de férias também, Alan. Eu sei que você quer aproveitar pra passar esse tempinho com eles, lógico, mas não dói dividir um pouquinho do trabalho, né?"

Ela estava certa, mas Alan percebe que ele já tinha até esquecido como fazer isso. Aquilo tudo estava sendo um bom lembrete... Mas ele tinha medo de estar abusando da boa vontade dela. Além de ele realmente estar muito grato pela ajuda.

"É, mas..."

"Sem 'mas'. Promete que vai parar de agradecer?" Ele ri sem jeito, e ela o acompanha "É sério, até porque você não vai poder fazer isso na frente da Petra. Nem do Rafael, né, que acha que eu sou a mãe das crianças! É bom que você vai treinando"

"Ta bom, vai. Sem agradecimentos, então" Seus olhares se encontram mais uma vez e Alan gosta muito do jeito que os olhos escuros de Kyra sempre parecem brilhantes. Ela era cheia de vida, cada partezinha, e de alguma forma tê-la por perto fazia ele se sentir mais vivo também.

Após alguns segundos ela acaba desviando o olhar e checa o horário no celular "Mas... já ta ficando tarde, né? Era bom que eles fossem dormir logo pra conseguirem aproveitar amanhã"

"É verdade." Ele diz, se levantando, e os dois seguem de volta para a parte interna, onde as crianças seguem acordadas brincando com alguns brinquedos que haviam levado. Bia cochilava apoiada em Tarantino, que mexia distraidamente no celular.

"Meus amores, agora ta na hora de dormir" Alan diz, já pegando Queen no colo. Elas protestam, dizendo que não estão com sono, e Alan tenta covencê-los enquando Kyra acorda Bia delicadamente, instruindo-a a ir para o quarto dormir. Ela eventualmente desperta e concorda, e  Tarantino também pede licença para ir pra cama, os olhos já meio pesados também.

"Crianças, porque a gente não assiste um filme então?"

"Que filme?"

"Ah, não sei... Pode ser uma animação. Algum da Disney... Ou um musical! Ou as duas coisas, tipo High school musical!"

Eles franzem o cenho. "O que é isso?"

Kyra parece genuinamente chocada. "Vocês nunca assistiram High School Musical?!" Eles fazem que não com a cabeça e Kyra se vira para Alan com falsa indignação. "Alan, que tipo de infância você está proporcionando pros seus filhos? Isso é um absurdo!"

O advogado não resiste a uma gargalhada. "Kyra, você é uma figura"

"Não é pra rir, high school musical é um clássico! A gente vai resolver isso agora, vamos!" Ela diz, já pegando o controle e entrando em sua conta de streaming. Alan pede licença pra tomar um banho rápido e Kyra o tranquiliza, dizendo que tem tudo sob controle.

Quando ele finalmente volta, os três estão deitados no sofá-cama já assistindo ao filme. Mosquito já está mais dormindo que acordado, com a cabecinha repousando no ombro de Kyra. Queen já parece um pouco mais desperta, recostada nos travesseiros e comentando sobre como 'Sharpay parecia ser um ícone' enquanto Kyra lhe faz cafuné. De repente ela parece notar sua presença.

"Vem papai, assiste com a gente!" ela pede, e é impossível para Alan resistir. Ele aceita o convite e deita do lado oposto a Kyra, Queen e Mosquito posicionados no meio dos dois. Sua filha se aninha mais nele quando ele chega e o garoto segue sonolento e agarrado a morena. Alan é um homem grande, e por isso o sofá é um pouco pequeno para ele, seus pés ficando um pouco pra fora, mas nada muito desconfortável para assistir a um filme. Ele nota que na rearrumação para que ele deitasse, Kyra havia parado de fazer cafuné em Queen, sua mão repousando no sofá, mas logo a pequena, sem dizer nada, pega a mão da decoradora e leva de volta a sua cabeça. Um pedido silencioso e um pouco adorável para que continue. Alan observa encantado a reação meio abobalhada de Kyra, que se derrete num olhar amoroso e sorriso doce diante do gesto. Ele precisa se esforçar para voltar seus olhos para a tela, e mesmo assim não consegue prestar muita atenção.

Quando o filme passa da metade, Alan nota que tanto as crianças quanto Kyra acabaram adormecendo. Mosquito ainda agarrado a Kyra, Queen usando o braço dele como travesseiro, mas com uma das mãos repousando sob a da morena. Uma vozinha na sua cabeça alerta que ele provavelmente devia acordá-la para que ela fosse pra cama, mas a verdade é que Alan não tem coragem. A cena a sua frente é tão adorável, tão.... familiar. Deixa o coração dele aquecido. Por esse motivo, ele acaba decidindo pelo menos esperar até o final do filme.

O que Alan não percebe é que estar ali com os três fez com ele se sentisse tão em paz que foi quase impossível sentir o sono se apossando do seu corpo. Já completamente sonolento, ele sequer nota quando Kyra se mexe de leve e suas mãos acabam se encontrando. 'Como seria bom...' é seu último pensamento, já tão embargado de sono que ele sequer o conclui, adormecendo logo em seguida ao som de Breaking Free.