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Tinha acabado de mandar mensagem pra Vinnie pra que ele ficasse lá, não era necessário que ele viesse correndo pra casa, eu estava deixando o clima de casa tão pesado que Vinnie merecia um momento de descontração com os amigos, se eu não tivesse certeza que poderia chorar a qualquer momento eu teria ido.
Eu confesso que não era mais uma boa companhia em casa e faz uma semana que piorou tudo, eu estava triste, chateada, num era pra menos meu pai ter aceitado a morte a tornava cada vez mais real, mais pedia pra aquilo demorar. Eu pensava em meu pai todo dia, eu tinha medo de toda vez que a ligação era da minha mãe, seria ela que me ligaria quando essa merda acontecesse.

Me levantei do sofá com Daisy no colo indo ao quarto dela pra trocar a fralda suja dela e antes mesmo de tirar a calça dela ouvi meu celular tocando, coloquei Daisy deitada no trocador e peguei meu celular no bolso e graças a Deus não era minha mãe, era chamada do meu pai, não era de vídeo, suspirei fundo e atendi colocando no viva-voz e baixei o celular ao lado pra conseguir conversar enquanto trocava Daisy.

_"Alo", falei ao atender.
_"Oi filha, tudo bem?", meu pai perguntou.
_"Tudo pai, e vocês como estão?", perguntei tirando a calça de Daisy e abrindo a fralda.
_"Estamos bem, sua mãe cortou meu cabelo mais tá todo ralo, estava pensando em raspar", meu pai disse e eu estiquei pegando o lenço umedecido.
_"Serio? Apoio pai, vai ficar um gato", falei, "Por que está me ligando por chamada? Quer desligar e fazendo por vídeo pra eu ver como ficou o corte?", perguntei limpando Daisy.
_"Não, não precisa", meu pai disse, "Como está minha neta?".
_"To aqui trocando ela, ela já não para mais pai, tem que ver o sacrifício que é pra conseguir trocar uma fralda", falei e meu pai riu.
_"Eu imagino, vi uma postagem de Vinnie ontem, ela tá linda", meu pai disse e eu olhei pro rostinho dela, ela estava mesmo.
_"E a mamãe?", perguntei.
_"Ela esta lá embaixo, fazendo uma torna holandesa", meu pai disse.
_"Serio? Uau...", falei.
_"Ela tá fazendo tudo que eu quero, se soubesse tinha ficado doente antes", meu pai disse rindo e eu revirei os olhos suspirando fundo, ele precisava brincar com isso.

_"Pai", repreendi.
_"Ta bom, desculpa, deixa eu perguntar e o estúdio, num tinha falado sobre inauguração antes de
Daisy fazer 4 meses? Ela faz 4 semana que vem já ne?", meu pai perguntou.
_"Sim, ela faz, a inauguração teve que sofrer uma mudança, Luke achou um erro lá e teve que fazer uma obra lá, então enquanto não ficar pronto nada feito", expliquei terminando de fechar uma fralda limo em Daisy.
_"Não vejo a hora de ver a inauguração", meu pai disse e um silêncio pairou 'nem eu', pensei, eu queria que ele visse a inauguração, quando fizermos uma festa de 1 ano de estúdio, quando fizesse 10, 20 anos de estúdio, queria meu pai pra sempre.
_"Sarah eu liguei pra te contar uma decisão que tomei", meu pai disse e eu parecia prever que vinha coisa ruim dali. Terminei de trocar Daisy e a peguei no colo e esperei parada ele me contar a decisão dele.

_"Sarah você deve imaginar o quanto a químio destrói com a gente, eu te disse o quanto tô passando mal, enjoado, vomitando, me sinto fraco, a medicação me derruba, eu não sinto nem vontade de levantar da cama, não está havendo melhora nenhum, pelo contrário, só pioro a cada dia...", meu pai falou e eu comecei a negar com a cabeça, não podia ser possível aquilo.
_"Não, não...", exclamei e meu pai ignorou e continuou falando.
_"Eu fico mais debilitado a cada dia que passa...", meu pai falava e agora era minha vez de ignorar o que ele falava, coloquei Daisy no bercinho, colocando o móbile pendurado pra tocar música e rodar pra entretela.
_"Você não pode suspender o tratamento pai", disse e meu pai ficou em silêncio do outro lado da linha.

_"Sarah já está decidido filha", ele disse cortando o silêncio, rezava pra ele estar brincando.
_"Não, não, o que tá acontecendo? É questão de grana? Não tá conseguindo pagar o tratamento? Eu pago só me fa...", perguntei e meu pai negou.
_"Não Sarah, não tem nada a ver com dinheiro, eu posso pagar você sabe", meu pai disse.
_"Pai, pensa, como você vai interromper o único tratamento que pode te ajudar a curar", falei.
_"Sarah eu não vou me curar...", ouvi meu pai falar mais o que me dei ou pela primeira vez sem ter o que dizer foi por que ele disse a última frase chorando.

Meu pai chorava, do outro lado da linha, e entendi o por que a chamada não era de video, eu olhava pela janela do quarto de Daisy e uma lágrima escapou de mim enquanto mordia a parte inferior dos meus lábios, ouvir meu pai chorando me doeu, como não tinha doído antes.
_"Sarah, eu vou morrer minha filha, fazer químio é um tratamento que não irá reverter isso, pra que preciso continuar fazendo?", meu pai falou e infelizmente eu não tinha uma resposta pra aquela pergunta. Eu só queria que a químio desse resultado.

Finalizamos a conversa depois de não conseguir dizer nada a ele, meu pai me acalmou, ou pelo menos tentou, me virei pra pegar Daisy e sorri surpresa por ela ter pegado no sono sozinha enquanto conversava com meu pai, fiquei ali em pé ao lado do berço observando Daisy dormir.
Sai do quarto indo pra cozinha pra preparar algo pra comer, ainda não tinha almoçado, decidi fazer um salmão, Dra Manuela disse pra ingerir alimentos que estimule a produção de leite e li em algum lugar que salmão ajudava, eu precisava continuar tentando dar mama, meu leite secar sem Daisy ter feito pelo menos 6 meses me doía, ainda mais secar a produção por estresse, minha vontade do aleitamento materno exclusivo era grande.

Almocei e ouvi o celular tocar ao longe, tinha esquecido no quarto de Daisy e corri pra buscá-lo, era uma chamada de Vinnie na tela, atendi.
_"Oi amor", falei forçando alegria ao atender.
_"Oi linda, como você está?", Vinnie perguntou, dava pra ouvir ao longe uma música.
_"Estou bem terminando de almoçar agora", falei.
_"Uhm que bom", Vinnie falou.
_"Como está as coisas aí?", perguntei.
_"Ta legal, tá cheio, está todo mundo aqui tipo todo mundo mesmo", Vinnie falou.
_"Thomas exagerou né?", perguntei.
_"Muito, isso aqui daqui a pouco vai ficar parecendo uma rave, um festival sei lá", Vinnie falou e eu ri.

Um silêncio durou um pouco até que Vinnie o cortasse.
_"Eu já estou voltando", ele disse.
_"Pode ficar mais amor, Daisy acabou de dormir, eu tô terminando de almoçar, vou arrumar a minha penteadeira, não precisa vim correndo", falei mais fui ignorada já que ouvi ele bater a porta do carro.
_"Vou passar na Butter", Vinnie disse e eu gostei da ideia, um doce seria bom.





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E SE ELA QUISER? • VINNIE HACKER Kde žijí příběhy. Začni objevovat