Capítulo 46

455 67 28
                                    

LORCAN
_________


As últimas noites em casa têm sido as noites que tenho dormido em paz, tenho tido um descanso verdadeiro, depois das Montanhas da Morte.

Eu não dormia antes, só cochilava e, confesso, tinha medo dos pesadelos que poderiam atormentar meu sono. Tive alguns pesadelos nas últimas noites, a maioria onde eu corria da criatura e suas garras pela escuridão para salvar minha vida, mas não acordei gritando, achando que eu tinha voltado para aquela tortura, acordava silenciosamente e sentindo uma sensação ruim no peito. Mas essa sensação passava logo porque eu estava em meu quarto. Eu estava em casa, e me sentia muito seguro, protegido.

Depois de conversar com minha mãe, um pouco do medo e um pouco dos pensamentos desapareceram.

Depois de contar tudo para ela, realmente tudo, que me aconteceu nas Montanhas da Morte, eu me sinto mais leve. Eu coloquei tudo para fora. Eu chorei. Gritei. Quebrei algumas coisas. E recebi muitos abraços e beijos dela. Ela me aconselhou, ela me ajudou a ficar mais forte para que eu conseguisse ficar em pé e com a cabeça erguida.

"Você está em casa, filho. Está em segurança. Nada vai te alcançar aqui. Estou ao seu lado. Você é forte e corajoso e isso não pode te quebrar, você consegue passar por isso, estou ao seu lado."

Quando meu peito dói e os pensamentos ruins voltam, eu lembro dessas palavras dela. Isso não pode me quebrar, eu sou forte.

Claro que as memórias não sumiram, mas eu consigo controlá-las, na maioria das vezes.

Preciso me lembrar várias vezes ao dia que eu não estou sonhando, que eu estou em casa, estou com minha família e meus amigos. E pronto para lutar incansavelmente para nunca mais voltar para aquela montanha, para nunca mais ser preso. Eu morreria antes de deixar alguém me prender novamente. Esse pensamento me assustava, mas era a verdade, eu tiraria minha vida antes de ser levado novamente para as Montanhas da Morte.

Não serei preso novamente naquele lugar, não serei.

— Querido, está me ouvindo?

Saio dos meus devaneios quando sinto o toque quente da mão de minha mãe em meu rosto. Não percebi que eu tinha deixado de ouvi-la e tinha entrado em pensamentos sombrios. É a sexta vez que isso acontece nos últimos dias e o brilho de sofrimento nos olhos de mamãe, que surge quando eu fico assim, é o que me quebra ainda mais.

Tento me lembrar do que ela estava falando para que assim esse olhar dela suma e ela não fique preocupada. Mas não sei do que ela estava falando. Estávamos conversando sobre Adrien e Aaron e a última viagem que ela fez para visitá-los, o quanto eles amadureceram em tão pouco tempo, mas me perdi em algum momento quando ela começou a falar sobre a irritação dos chefes das aldeias nas montanhas.

Eles estavam cansados de receber refugiados e não param de reclamar, querem que a gente pare de levar pessoas para lá, mas não vamos parar. Eles não podem desobedecer uma ordem direta do seu rei. Uma ordem que dei antes de sumir, uma ordem que Gael fez novamente. Tenho certeza que quando eles souberem que eu voltei dos mortos, vão parar com a reclamação.

— Deixei de ouvir, desculpe. — digo a verdade para minha mãe e dou um tapinha na mão dela. — Perguntou algo importante?

Ela abre um pequeno sorriso e agarra minha mão para fazer uma carícia.

— Perguntei se quer que eu planeje para você ir ver seus irmãos. Quando eles souberem que você voltou...vão ficar malucos e ansiosos para voltar para casa.

Abro um sorriso de canto. Estou morrendo de saudades dos gêmeos. Quando os novos refugiados chegarem ás montanhas levando a notícia de que eu voltei para Hemort...do jeito que eles são, vão tentar voltar para casa de uma forma ou de outra. Sei que preciso ir até lá e convencê-los que não é hora de voltar para casa, que ainda é perigoso e que eles precisam continuar em segurança.

Vingança DivinaWhere stories live. Discover now