Capítulo 34

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LORINE
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Sempre gostei de voar com Rekie pelas montanhas de Likajhi.

Não me importava com o frio. Não me importava com o vento forte. Eu estava acostumada com tudo isso, e amava. A melhor parte era sentir aquela adrenalina no sangue, principalmente quando uma nevasca surgia e eu tinha que ficar um tempo em alguma caverna esperando ela passar. Meus pais ficavam malucos quando eu sumia por horas, então tive que começar a informar para eles a direção que eu ia e só seguir por ela, sem desvios, para caso algo acontecesse comigo. Ainda bem que nunca aconteceu. Eu sou esperta e todos os tutores me treinaram bem.

Nunca senti medo das histórias de terror, então não tinha medo de ficar um tempo em uma caverna. Eu não pensava nenhuma bobagem enquanto ficava lá. Era até interessante ficar rodeada apenas pelo som da nevasca, era calmante, por isso eu me deitava bem perto de Rekie e tirava uma soneca.

É claro que eu sabia que a caverna de Mount Shingcal não seria nada como as cavernas das montanhas de Likajhi, mas eu estava muito ansiosa para entrar nela. Era ali que estava as pedras que iríamos usar para derrotar os deuses, então é mais uma coisa para se estar ansiosa. Estou louca para ver, e talvez tocar, em uma dessas pedras.

Jonny encontrou a localização em um dos livros antigos da família de Eudora. Confesso que fiquei impressionada como conseguiram preservar um livro tão antigo. Eu não iria conseguir, sou péssima com isso. Para a nossa sorte, a caverna estava enterrada bem longe das casas da aldeia e dos olhos curiosos, e bem perto do final da barreira que protegia todo esse local.

Não sabia o quão grande é essa aldeia até ter que cavalgar bastante para encontrar o local exato da caverna. Dá para construir muitas coisas ainda por aqui.

A barreira desse lugar é bem poderosa mesmo, é impressionante que ninguém nunca tenha encontrado a aldeia. Eudora nos contou que uma pessoa já foi embora daqui com raiva e voltou com algumas pessoas, mas eles não conseguiram encontrar nada. A barreira os confundiu para eles não se aproximarem.

P o d e r o s a.

Se não fosse por Jonny e Eudora, teríamos andado em círculos por horas até descobrir onde cavar para encontrar a caverna. Sabíamos que estávamos no lugar certo por causa de uma árvore. Uma árvore grande, com flores amarelas. Era igualzinha a que estava desenhada no livro. Tinha várias outras árvores com as mesmas flores, mas tinha algo diferente nessa...as flores "brilhavam" mais. Era impressionante. Demos dezesseis passos atrás da árvore, como o livro indicava, depois vinte e um para a esquerda e trinta e quatro para frente. Uma doideira.

Depois disso, começamos a cavar no ponto que paramos.

Na verdade, eu, Jonny e Eudora começamos a cavar. Caswell ficou afastada, lendo o diário de Eloá que ela ganhou. Queria brigar com ela — ela estava grávida, mas podia cavar pelo menos um pouquinho, não é mesmo? —, mas então ela revelou que estava procurando um feitiço que tinha lido um dia desses. Um feitiço que iria nos ajudar a tirar toda essa terra, então não teríamos que nos sacrificar ao cavar tanto, por tantas horas cansativas.

Demorou um pouco, mas ela conseguiu encontrar o feitiço.

Graças a Caswell, encontramos a caverna bem rápido. E eu descobri que estava errada.

Eu amava as cavernas de Likajhi, mas odiava essa. Era beeem debaixo da terra, escura, apertada e claustrofóbica. Eu a odiava. Odiava o que ela me fazia sentir. Não era uma ansiedade nada boa. Mas tive que enfrentar esse sentimento, porque eu ainda estava muito curiosa para ver as pedras. E valeu muito a pena ter entrado nesse lugar horrível.

Vingança DivinaWhere stories live. Discover now