DEZESSETE

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Play "We Don't Talk Anymore - Charlie Puth"

— Mãe? — Jade sussurrou quase que invisível diante a eles, que se encaravam como um duelo.

— Esquece isso, Mama. Não me chama assim. — Reclamou com desgosto.

— Filhos são ingratos mesmo, é de família. Se é que importa, mas eu também não ligo para você. É recíproco. — Deu passos de costas, até sumir na sombra e entrar na casa.

Jade encarou o menino, assustada. 

— O que? Nunca viu briga de família? — Lavandro caminhou pelas pedras. — Não sei se ouviu direito, mas Leravieve deixou bem claro que todos aqui são parentes. Ela é a minha mãe, irmã de Plonno, o ruivo é meu primo, tem uma irmã gêmea, e a Lera é prima deles. Os pais dos gêmeos morreram, o pai era irmão de Plonno, e a mãe de Lera não tinha parentesco com ninguém, era do Sul. 

Andando em silêncio com Florena adormecida, ninguém falou mais nada. Jade processava aos poucos toda a árvore genealógica. Então Lohan tem parentesco com Lavandro? Se a mãe de Lohan era madrinha da mãe de Lavandro. A Feiticeira tomou o lugar dos filhos da madrinha na explosão.

— O que acontece quando pessoas de diferentes lados casam? — Sussurrou quando o menino colocou Florena na cama.

— Ela passa a ser do lado do marido ao invés de receber o sobrenome. No caso, o Norte são os Ph, o Sul são os Aph, Leste é Gy, e nós somos D. Só D. — Trincou a mandíbula, indo na direção da porta.

— O dente de gorila da poção era do Vandro? — Jade indagou ainda olhando para a face angelical da loira.

— Sim. Por isso tirei ele de casa. — Afirmou com um biquinho nos lábios. A morena riu fraco e se despediu do amigo.

E Florena não teve mais nenhum sintoma durante a semana, deixava a casa e comida organizadas para quando Jade chegava cansada no final da tarde. Faltavam só dois dias para a chegada de Scarpane, a loira se perguntava se voltaria a ser como antes, vendo Felygis e J juntos. Ou se nesse meio tempo eles tivessem se separado. Se ele tivesse entendido que amava mesmo era Florena.

Mas Felygis e J tinham tanto em comum, eles eram lindos juntos, e Florena odiava admitir isso. Admitir que nunca passou de uma amiga para ele, que ele estava em busca de outro tipo de companheira. Ela sempre foi só uma irmã.

— Você… hmm, sabe o porquê dela estar com o coração partido? — Lavandro assustou a menina, entrando no estábulo com as mãos juntas atrás do corpo.

— E interessa?

— É ansiedade, tem gente que passa mal, sabia? — Quebrou o pescoço, cruzando os braços como uma criança dramática.

— Você perguntou se eu sei, e eu sei, contanto, já respondi sua resposta. Não tem mais fichas para outras perguntas, volte aqui amanhã ou dê banho nos dragões. — Jade sorriu com a troca.

— Justo. Dou banho na família cospe fogo. Pode me falar o porquê dela estar assim? — Pendurou-se na porta do cavalo adormecido.

— O menino que ela gostava está com outra, basicamente. Ela ama ele, amava, não sei… — Balançou a cabeça, perdida. Jade tirou a armadura de um dos cavalos e jogou sabão enquanto Lavandro ficava em silêncio.

— Então tem outro na jogada? 

— Qual outro? — Ligou a água da mangueira.

— Nada. — Lavandro pulou da pequena porta de madeira, acordando o cavalo com o barulho. Jade colocou as mãos na cintura e observou o garoto sair correndo do estábulo. 

Mais tarde, Leravieve se aproximou na companhia de Arizona. A filha de Plonno.

A menina parecia mais fechada, só que feliz por estar saindo do Castelo, era a única vez que Jade via ela saindo. 

Com os cabelos presos no mesmo penteado, solto com três lances de tranças finas atrás. Luvas sem dedos, vários piercings nas orelhas, uma jóia pequena no nariz e tornozeleira de prata.

— Olá!! Oi! Lembra de mim, né? — Lera cutucou os próprios dedos.

— Felizmente ainda não tenho alzheimer. — Riu fraco.

— Essa é a Ari, Arizona. — A platinada fez um trocadilho com a altura da menina, que era poucos centímetros mais alta que Jade.

Elas sorriram tímidas e apertaram as mãos. — Nós estávamos pensando em beber, tipo, agora. 

— Álcool? — Jade se esquivou disfarçadamente, cansada pelo trabalho.

— Bem fraco, é mais pelo morango. Quase não tem. — Arizona explicou civilizadamente, com a postura ereta.

— Olha, eu não sei… estou desarrumada. 

— Tem problema não, a gente passa no castelo antes de ir. Eu também quero tirar o uniforme. — Leravieve sorriu animada, dando alguns pulinhos antes de puxar as duas. Ari ria docemente correndo junto com Jade, a humana gargalhou também. Entrando às escondidas pelos fundos.

Passaram correndo pela cozinha no primeiro andar, Arizona abriu uma passagem secreta escondida nos armários, ajudando elas a subir. Andando pelo corredor apertado feito para emergência, elas caíram no closet inteiro branco. Jade pulou do armário, sorrindo animada. 

Leravieve jogou várias peças de roupa da amiga na cama, com a maior intimidade. Ari e Jade colocavam as roupas na frente do corpo esperando a avaliação da platinada, e vice-versa. No final, Jade estava com um vestido marrom curto, e uma jaqueta jeans clara. Lera optou por uma blusa branca colada e uma saia preta. A vice-líder colocou apenas um vestido longo azul claro, florido, e permaneceu com a jaqueta de couro preta. 

Correram como um vulto pelo corredor, descendo a escada em pulos. Gritaram feliz já na rua, pulando até o pequeno bar. Leravieve chutou a porta com animação, um sorriso enorme e braços abertos. O barmen olhou neutro para a platinada, voltando ao serviço. Visto que não havia ninguém ali, foi uma vergonha e tanta.

Lera voltou a postura normal, desfazendo aos poucos o sorriso.

— Vamos logo, manda seis de morango, por favor. Coloca na minha conta. — Ari bateu o cartão na mesa, fazendo as amigas sorrirem de canto.

Bêbadas. Muito bêbadas. Não era só um pouquinho de álcool. Foram vinte e quatro doses para a conta. Elas estavam caindo no meio do bar.

— Ok, ok, eu devia pedir alguém em casamento. — A mais baixa observou, cambaleando até a porta. Elas caíram na mesma, indo direto para fora do local.

— Você não sabe pedir alguém em casamento. — Arizona duvidou, com a voz mole.

— Aé? Pois então. — Cruzou as sobrancelhas, ajoelhando na frente de Jade e fingindo abrir uma caixa de aliança. Abriu a boca para o discurso, mas começou a rir, caindo para o lado. — Jade aceita casar comigo?

— Ah, para de graça. — Ari riu, puxando ela para levantar antes que Jade respondesse. Elas pularam gargalhando até a torre da novata. — Olha só, vamos fazer uma pegadinha com a sua amiga. Silêncio, shh.

Jade e Lera concordaram como as crianças ligadas no 220. Subindo os degraus em silêncio, com os pés tortos pela pedra. Abrindo um pequeno espaço da porta, cada uma escolheu um espaço para olhar. Mas quando olharam, não acreditaram. Jade abriu a porta com tudo, de repente a bebida parou de fazer efeito. 

— O que é isso?

— Jade… — Lavandro soltou Florena.

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Tópico aberto: Shippam a Florena com quem?

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