Norte, Sul, Leste & Oeste|| Trillix e a Pedra do Tempo.

UM

Play "Runaway - AURORA"

E por fim todas as conversas foram encerradas, Jade não fazia ideia de que horas eram. Afinal, em uma sexta muito agitada de final de ano, muitos saíam para comemorar, ou seja, o alvo sempre era um restaurante, clássico.

Ali trabalhava ajudando sua tia todas as noites, para no amanhecer estudar.

A garota dos cabelos castanhos escuros - agora presos em um coque apertado -, saiu pela porta dos fundos com a bandeja de pratos sujos, despejou todas as sobras que ali restavam e concentrou-se para não deixar nada cair na volta.

Retornou à cozinha e deixou as louças na pia, pelo reflexo se distraiu com o último cliente do restaurante, levantando da mesa com a carteira em mãos. Sem a presença de sua tia que não pode fechar a loja naquele dia, Jade saiu secando as mãos em um pano velho e abriu o caixa. Pegando o papel com escrita manual de todos os pedidos e os preços, o senhor que já tinha lá seus sessenta anos de cabelos meio grandes e brancos, estendeu os dedos enrugados e manchados na sua direção. Deixando as notas amassadas de dinheiro contado.

Ela pegou balbuciando um "obrigada" e colocando no caixa. O senhor saiu do restaurante, mas antes sorriu pequeno deixando uma piscadela no ar. A porta se fechou e uma moeda caiu no chão sambando por longos segundos, Jade deu a volta no balcão vermelho indo até a mesma. Pensou em chamá-lo para devolver a moeda, mas não restava sequer pistas dele.

Então abaixou-se na direção do material azulado e brilhante, diferente das outras moedas, mas não se perguntou sobre, já que parecia limpa, talvez por isso fosse estranha e mais clara. Jade a pegou e virou os dois lados, ambos tinham desenhos diferentes. De um lado um garoto de franja espalhada pela testa acompanhado de um sorriso valente e corajoso, já do outro lado, uma menina sorridente que piscou. Como?

Em menos de segundos - se é que Jade contou -, o brilho da moeda subiu para seu braço, passando aos seus ombros e iniciando uma trilha pelo corpo inteiro. Ela sequer soltou a moeda durante o impossível diante dos seus olhos.

Só começou a gritar quando já não estava mais no restaurante, e sim em uma viagem tão clara e brilhante que teve que fechar os olhos. Poderia ficar cega se não o fizesse. Juntou os braços em um escudo na frente do rosto, seu corpo se chocou no chão. Um chão diferente do piso barato do restaurante.

Não tinha forças para se mover, nem mesmo abrir os olhos. Apenas ouvia a cantoria dos pássaros. Algo, ou alguém, a cutucou violentamente e inocentemente demais para ela revidar. Havia recebido um chute no peito, pela primeira vez Jade abriu os olhos. Dando de cara com dedos sujos de um pé intruso, subiu mais pelas pernas vendo um jovem de cabelos loiros escuros a olhando. Ele manteve uma expressão curiosa no rosto, ainda mais quando a garota jogada no chão vestia roupas estranhas aos seu ver.

- Você caiu em cima dos meus óculos. - Chutou novamente a garota, até ela sentar e virar para trás vendo dois pedaços dos óculos quebrados e pequenos cacos das lentes na terra úmida. - Essa droga já quebrou pela terceira vez!

O loiro parecia decepcionado e fora de si, o descontentamento com os pobres óculos era visível. Abaixou brevemente pegando o mesmo e tentando juntar os pedaços com o mesmo pedaço de cipó.

Os cabelos de Jade soltaram por um momento, caindo em ondas sobre seu ombro. Ela - desajeitadamente -, ficou de pé para conferir seus pensamentos, e sim, todo o seu uniforme fora sujo pelo barro. Parecia um animal selvagem, ainda mais quando se tratava de estar em um lugar totalmente desconhecido e fora do possível. O garoto que tentava arrumar os óculos com um bico teimoso nos lábios tinha a pele manchada por escamas verdes nos braços e pernas, entre os dedos haviam gosmas minimalistas e junções como as de sapos. Olhos amarelados quase da mesma cor, como os cabelos já mais escuros e caramelizados em uma mistura de loiro com verde musgo. Natural.