OITO

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Play "Firestone - Kygo"

O maior galã da vida. Aph'Iwon, para os mais chegados, só Iwon. Corpo definido e molhado, cabelos escuros jogados para trás, sorriso brilhante de novela. Olhar sedutor que conseguia ser inocente ao mesmo tempo, mas de inocente ele não tinha nada. Ninguém lhe passava a perna, e ainda por cima, simpático. Era ele, ele era o cara.

— Só tem ele de homem aqui. — Alana abanou o rosto, babando no menino. Andriena olhou ela de relance e revirou os olhos.

— Não tem só ele. Vai babar lá na casa do carrancudo. — Retrucou em um tom sarcástico, fazendo careta de nojo na direção de Iwon.

— Quer saber? Vou mesmo, vem Alala. — A irmã puxou a gêmea na direção da árvore mais distante e silenciosa, temida. Com muitas coisas de valor.

Nem mesmo os duendes podiam entrar lá.

Jade riu da situação, batendo no ombro da ruiva. Andriena piscou os olhos amarelos neon e fingiu não entender.

A cada dia que se passava, era nítido como todos eram tão simpáticos e se davam bem, mesmo pelas briguinhas bobas. Jade podia muito bem absorver toda a bondade do lugar, quando se tem paz e harmonia, tudo se resolve.

Menos uma coisa. Uma pessoa em específico, a maior fonte de alegria de todo o Sul, que infelizmente, poucos aproveitavam.

— Ela só tem a gente. — A sereia da pele bronzeada tentou não fazer barulho, sentada na janela do quarto. O quarto de Isis e Jade.

— Eu não entendo porquê fazem isso com ela. Isis é a nossa menina. A mais pura do Sul. O coração mais bonito que já vi. — Jade pendurada na janela, apoiou o queixo no joelho e tremeu de tristeza. Vendo a loira com duas tranças, a chupeta quase caindo da boca e uma mamadeira vazia na mão.

— Você precisa dormir, parte daqui cinco dias. O que menos fará no Leste é dormir. Então aproveite enquanto pode, amanhã passarei aqui para evitar que Isis te acorde cedo. Volto no almoço. — A sereia pulou para o parapeito, correndo e pulando nos galhos e escadas.

Jade sorriu triste, fechou a janela e deitou na sua cama. Cansada, não demorou tanto para dormir. Esvaziou sua cabeça e deu espaço aos sonhos de uma noite merecida.

— Nem tive tempo de te conhecer. — Iwon sorriu transformado no riacho, sua cauda era verde e decorada naturalmente. Lá também estava Eirene e Astrild, primas distantes dele e irmãs de mães diferentes de Aquacren.

— Conhecer? Eu sou temporária. — Ela brincou passando os pés na água.

— Sério, fala sobre o seu planeta. O lado Leste nos fornece livros enormes sobre ele, com vocabulário, manias, gírias… Mas não é a mesma coisa que ouvir um relato. — Ele jogou os cabelos para trás, apoiando os cotovelos nas pedras.

— Eles nunca foram tão bons como vocês, tem muitas suposições que vocês existam lá. Acreditam em fadas e sereias, mas assim, lá não tem nada não. Fico me perguntando como eles sabem dessas espécies sem saber da existência desse planeta. Trillix… Ninguém nunca ouviu isso, ninguém viu. — Jade apertou as mãos, curiosa.

— Trillix é um planeta pequeno e preto, camuflado demais. Não chega a ser nem um quarto da Terra, é como… o quarto do quarto. — Astrild se pronunciou. Com cabelos pretos e bem escorridos, médios quase curtos. Sua irmã era igual, mas com fios mais longos.

— Nós nem conseguimos imaginar o que seria de todos se os humanos descobrissem. Eles são malvados e nos explorariam. — Eirene olhou para a irmã, ficando em silêncio logo depois.

— Explorariam. — Jade confirmou envergonhada. Mexendo os pés na água, em silêncio constrangedor. — Eu jamais faria uma coisa dessas.

— Sabemos disso. Scarpane passou um mês vendo você, não traria uma ameaça. Ele sabe o que faz, confia em você. Se ele confia, nós confiamos. — Iwon assegurou sério.

E não havia elogio maior que aquele. Eles com certeza fariam falta durante esses dois meses, e pensar que com certeza alguns de todos os conhecidos morreriam, era tortura. 

Jade fez amigos inesquecíveis, grandes amigos. Se morresse em outro planeta, seria um desaparecido sem pistas, uma jovem que trabalhava no restaurante da tia, a única responsável, que sumiu. Sem nem sair do local.

— Acho que nenhum dos lados será tão bonito como esse. — Falou quando a noite caiu, empurrando Isis no balanço que Iwon havia feito para ela.

— Existem dois tipos de pessoa, você, e os que preferem o Oeste. Lá também é legal, mas não rola pra nós. É muito violento, barra pesada. Chuvoso, frio, perigoso. Não parece que fica tão perto daqui. — Andriena continuou mexendo na trança feita pelas fadas.

Por mais que a distância fosse pouco, também não era possível ver nenhum dos lados. O lado Norte e Sul era totalmente distante, um em cada ponta do planeta, por isso ligados pelo portal da água cristalina. Já o lado Leste e Oeste, eram a mesma coisa, só que com caminhos de terra e florestas para chegar no outro. 

Jade olhou para as árvores distantes que formavam um labirinto escuro e largo, de longe mal era possível ver, mas já podia sentir o calafrio percorrer pelo seu corpo.

— Quero ir junto com você. — Isis chamou novamente a atenção, parando o balanço e olhando triste para a morena.

— Seu lugar é aqui, você pertence ao Sul. — Ela agachou nas costas da menina, acariciando seus cabelos dourados que murcharam e deixaram os brilhos caírem, seus olhos azuis ficaram pretos e maiores. Já as asas, sumiram.

— Tudo bem, já me acostumei com todos me deixando. Tudo é passageiro, nada é para sempre. — Sua voz tomou um tom maduro e adequado para a idade, Isis levantou caminhando cabisbaixa e sem brilho nos cabelos, sem os cachos imitando molas bonitas e hidratadas, estavam todos murchos, sem vida, sem cor. Sem graça.

Jade olhou triste para Andriena, a ruiva retribuiu o olhar e se aproximou do chão.

— Sabemos que a culpa é nossa por ter aceitado afrontar Grillix, era melhor ter deixado ela assim. Sem novas pessoas. Nós crescemos juntos e nos apegamos muito rápido em qualquer coisa nova, é tudo novidade. Mas ela não pode agir assim, vamos nos encontrar depois, todos juntos. — Deitou a cabeça no balanço.

— Protege ela para mim, por favor. — Jade tirou um grampo de cabelo de Isis, ficando de frente para a sereia. — Isso é um juramento.

Andriena engoliu seco, ficando reta e estendendo a palma da mão.

— Eu não sei se dou conta. — Começou a chorar preocupada, fechando a mão.

— Não fala assim, é a Isis, por favor. É um juramento, jura para mim. — Jade mordeu os lábios prendendo o choro, colocou a ponta do grampo em sua palma e ameaçou furar. — Jura.

Após minutos se encarando, por fim, ambas estavam ligadas pelas palmas de suas mãos, e a pequena cicatriz que ficaria para sempre. Apertaram suas mãos que pingavam sangue e dormiram tranquilas. Pois a fada seria protegida até o reencontro final. Era a última noite de Jade no Sul, e Isis era tudo para ela.

Norte, Sul, Leste & Oeste|| Trillix e a Pedra do Tempo.Where stories live. Discover now