NOVE

25 4 10
                                    

Play "Outside - Calvin Harris"

Iwon observava, triste, Jade arrumar sua trouxa de roupas, com cinco blusas novas, um short e um vestido. Já pesada, colocou no ombro, pronta para partir.

— Uma grande amiga. — Sorriu triste, fazendo um toque especial de mãos e rindo.

— Até breve, senhor Iwon do Sul. O maior galã de todos. — Jade riu, seguindo para a sala, onde Andriena abraçava Isis. — Vamos nos ver daqui a pouco.

— Você corre perigo em Trillix-2, não é seguro como aqui. — A cacheada solucava, descabelada com a mamadeira na mão e o gato no colo.

— Eu dou conta. Mas agora preciso ir. — Passou a mão pelo cabelo da menina e deixou um beijo em sua cabeça.

Iwon abriu a porta da casa, e Jade saiu evitando despedidas tristes. 

O dia já nascia, cedo e fresco. Ela vestia um short jeans com um cinto de flores feito pelos duendes, um top de alça branco com o perfume doce de Isis impregnado. Muita tristeza. Medo. Pânico.  

Iwon guiou Jade pelos galhos, tentando absorver seus sentimentos ruins. As gêmeas passaram ao choro, pequenas, em forma de fadinhas. As irmãs de Aquacren e o próprio, olhavam ela do alto de suas casas, acenando em silêncio para a humana que teria sempre um lado do Sul em seu coração.

O garoto segurou a cintura de Jade, virando violentamente para baixo de uma árvore, o tronco oco e fundo era escuro com pouca iluminação do céu pelos buracos. Uma parede de pura cascata cristalina corria verticalmente, Iwon acendeu um palito de fósforo e jogou no meio, formando um portal negro e profundo. 

A morena sentia o frio bater em seu rosto, um frio que nunca fez no Sul.

— E aqui se encerra um ciclo, até, Jade do planeta Terra. — Sorriu beijando as costas da mão dela.

— Até, Iwon de Trillix. — Jade ficou de costas para o portal, soltando as mãos dele e caindo na escuridão. 

Seu corpo borbulhava e queimava pelo fogo, um fogo gelado e barulhento. O som da ventania entrou nos seus ouvidos, a trouxa rolou para o lado oposto da garota. Caindo de costas com as mãos na barriga, o céu era escuro, no meio da floresta, árvores médias e negras balançando para todos os lados. Terra em sua roupa.

Jade levantou resmungando de dor, pegou a trouxa de roupas e olhou para o trailer cinza indo na sua direção. Ficou de pé e bateu no short e blusa para tirar a sujeira, foi para o canto com o estômago revirando. Aos poucos o trailer parou na sua frente, abrindo a porta e revelando um homem mais velho que Scarpane, alguns poucos anos mais velho.

— Entre, não temos o tempo todo. Bom… temos, esquece. — Estendeu a mão enorme e áspera para ela, que foi puxada violentamente pela escada. — Pode fechar, Gabe.

O menino sentado no banco do passageiro apertou o botão que fechava a porta, ligando o aquecedor. Gabe parecia ter a idade de Bellamy, de pele bronzeada e cabelos raspados. Usava uma regata branca por cima dos músculos e tatuagens, no meio de suas pernas, um fuzil carregado.

— Sente-se, temos que chegar a tempo em casa. — Bateu forte nas costas de Jade, que sorriu amarelo para disfarçar a dor. Olhando para trás, haviam duas mesas de cada lado, com bancos de couro e pratos sujos de comida, uma lâmpada no centro e logo depois, um pequeno corredor. 

— São cinco horas até o armazém. — Gabe informou ao velho que voltou ao banco do motorista, arrancando com o trailer em alta velocidade. 

Jade apoiou nas mesas, rastejando até o banco mais próximo e sentando.

— Yoren, cadê as pilhas? — Uma garota negra de dreads longos saiu do corredor, balançando a lanterna desligada na mão. Depois parou para ver Jade e andou mais a frente, encostando no banco do passageiro.

— No armazém. — Respondeu atento ao caminho de terra.

A menina bufou e sentou em outro banco, encostando sua testa na janela. De repente uma risada exagerada ecoou dos fundos, então outra garota pulou no início do corredor e balançou o gambá morto com uma faixa verde na cabeça e uma linha vermelha de tinta nas bochechas, igual a ela. 

De cabelos na altura da mandíbula, pretos e ondulados, a faixa amarrada na cabeça, e o traço vermelho nas bochechas.

— Ah! Que droga Lohan! Tira isso, é a nossa comida. — Gabe reclamou vendo pelo espelho. 

— Idiota, vai dormir moleque. — Retrucou voltando para trás com o seu gambá morto.

— Antipáticas, olha a menina aqui. — Ele apontou para Jade.

— Oi, Jade. Quer gambá? — Lohan sorriu assustando ela com o bicho, fazendo golpes fracos com os bracinhos dele. A novata riu e se esquivou do odor, depois apertando a mão dela. — A outra ali é a Naty, ela é carrancuda mesmo. 

— Prazer. — Se encolheu para o canto, enquanto Lohan sentava ao seu lado colocando o gambá na mesa e cutucando sua barriga esfaqueada. 

Desfez aos poucos o sorriso, vendo de relance a expressão séria de Naty no canto. Gabe estava com os pés no alto, e o fuzil caído sobre o ombro, apontando bem na testa dela. Soltou o ar pelo espaço dos lábios e abraçou a trouxa de roupas.

Eles eram mesmo barra pesada.

Foram horas até a chegada no tão falado armazém, passaram por montanhas e buracos fundos, mas finalmente estacionaram na terra batida. Yoren abriu a porta do trailer e desceu primeiro, Jade abraçou seu próprio corpo. Sendo surpreendida por Gabe jogando uma jaqueta preta nas suas costas.

— De nada. — Sorriu fraco, mostrando os caninos de ouro. Havia tatuagem até em seu rosto, e as unhas pareciam de ursos, pontudas e pretas. Ele se virou, indo atrás do guardião. — Eae, esquecido!

Um garoto baixo e bravo empurrou o portão, de braços cruzados. Devia ser até mais novo que Jade, com orelhas de lobo e nariz preto como um focinho. Seus olhos amarelos aumentaram com a raiva.

— Deixaram você para trás, cotoco? — Puxou o menino para os braços, esfregando o punho nos seus cabelos castanhos ondulados.

— Me deixa. — Saiu com muito esforço, arrumando o piercing de ouro na orelha direita. Logo olhou para Jade e desviou o olhar, ficando com o rabo entre as pernas e as orelhas caídas.

— Entrem logo! — Empurrou Johan e Naty para dentro do galpão, depois fez um sinal para Jade se aproximar. — Elas vão te mostrar suas roupas e kit de caça.

O menino observou acanhado ela entrar, tomando coragem para se apresentar:

— Sou Luck. — Sorriu tímido.

— Prazer. — Ela retribui o sorriso, seguindo as garotas até a enorme parede de equipamentos.

— Cala a boca, Totó. — Gabe gritou rindo, enquanto pegava munições e soníferos.

Havia de tudo, mas o principal era as flechas e os arcos, remédio natural de intoxicação alimentar ou infecção de alguma bactéria, gases, álcool para higienização, injeções com agulhas enormes e tinta vermelha.

Lohan pegou um par de botas coturno, duas calças de couro, dois pijamas básicos, touca, agasalhos, jaqueta de couro, camisetas camufladas e uma faixa verde. Naty puxou uma mochila marrom e abriu para a amiga colocar as roupas dentro, depois fechou e entregou para Jade.

— Pode se vestir no banheiro. — Apontou para a porta de canto.

O banheiro. Teias de aranha, baratas mortas e um rato pendurado na janela enferrujada, a privada então… lamentável. Sem condições.

Jade tirou suas roupas rapidamente, colocando o traje do Leste. Saiu do banheiro e coçou a nuca desconfortável, a calça era apertada e machucava seu quadril, a jaqueta estava um pouco fechada, combinando com a faixa amarrada na cabeça.

Luck piscou diversas vezes os olhos, corando novamente.

Lohan caiu na frente da garota, carimbando os dedos vermelhos nas suas bochechas e uivando feliz:
— Pra cima, Leste!

— Pra cima, Leste! — Todos gritaram pegando suas armas.

Norte, Sul, Leste & Oeste|| Trillix e a Pedra do Tempo.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora