O Monotono Diario de Isaac [B...

By LyanKLevian

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SINOPSE: Isaac Rodrigues, um jovem de 20 anos, foge da casa dos pais e vai morar num casarão de uma cidade de... More

Apresentação
24.04.18 - Terça
25.04.18 - Quarta
26.04.18 - Quinta
28.04.18 - Sábado (manhã)
28.04.18 - Sábado (noite)
29.04.18 - Domingo (manhã)
29.04.18 - Domingo (noite)
30.04.18 - Segunda
02.05.18 - Quarta (manhã)
02.05.18 - Quarta (noite)
03.05.18 - Quinta
04.05.18 - Sexta (noite - 20h)
04.05.18 - Sexta (noite - 22h)
06.05.18 - Domingo
08.05.18 - Terça
09.05.18 - Quarta
10.05.18 - Quinta (manhã)
10.05.18 - Quinta (noite)
12.05.18 - Sábado
17.05.18 - Quinta (manhã)
17.05.18 - Quinta (noite)
18.05.18 - Sexta
19.05.18 - Sábado (manhã 1/2)
19.05.18 - Sábado (manhã 2/2)
21.05.18 - Segunda
24.05.18 - Quinta (manhã)
24.05.18 - Quinta (noite)
25.05.18 - Sexta
26.05.18 - Sábado
27.05.18 - Domingo
28.05.18 - Segunda
30.05.18 - Quarta
31.05.18 - Quinta
1.06.18 - Sexta
02.06.18 - Sábado
03.06.18 - Domingo
04.06.18 - Segunda
05.06.18 - Terça
06.06.18 - Quarta
07.06.18 - Quinta
08.06.18 - Sexta
09.06.18 - Sábado
10.06.18 - Domingo
11.06.18 - Segunda
12.06.18 - Terça (tarde)
12.06.18 - Terça (noite)
13.06.18 - Quarta
14.06.18 - Quinta
17.06.2018 - Domingo
21.06.18 - Quinta
23.06.18 - Sábado
24.06.18 - Domingo
26.06.18 - Terça
29.06.18 - Sexta
01.07.18 - Domingo
05.07.18 - Quinta
12.07.18 - Quinta
17.07.18 - Terça
19.07.18 - Quinta
23.07.18 - Segunda
24.07.18 - Terça
29.07.18 - Domingo
03.08.18 - Sexta
09.08.18 - Quinta
10.08.18 - Sexta
11.08.18 - Sábado
17.08.18 - Sexta
19.08.18 - Domingo
23.08.18 - Quinta
25.08.18 - Sábado
26.08.18 - Domingo
31.08.18 - Sexta
02.09.2018 - Domingo
04 de Setembro, 2018 - Terça
06 de Setembro, 2018 - Quinta
06 de Setembro, 2018 - Quinta
07 de Setembro, 2018 - Sexta (10h54)
07 de Setembro, 2018 - Sexta (15h36)
08 de Setembro, 2018 - Sábado (7h28)
10 de Setembro, 2018 - Segunda (22h58)
13 de Setembro, 2018 - Quinta (22h34)
13 de Setembro, 2018 - Quinta (22h46)
14 de Setembro, 2018 - Sexta (19h23)
15 de Setembro, 2018 - Sábado (18h37)
16 de Setembro, 2018 - Domingo (21h09)
17 de Setembro, 2018 - Segunda (08h23)
19 de Setembro, 2018 - Quarta (13h26)
20 de Setembro, 2018 - Quarta (11h47)
22 de Setembro, 2018 - Sábado (18h48)
23 de Setembro, 2018 - Domingo (01h27)
23 de Setembro, 2018 - Domingo (03h42)
23 de Setembro, 2018 - Domingo (6h50)
24 de Setembro, 2018 - Segunda (7h15)
24 de Setembro, 2018 - Segunda (14h57)
25 de Setembro, 2018 - Terça (2h16)
25 de Setembro, 2018 - Terça (7h47)
25 de Setembro, 2018 - Terça (20h19)
26 de Setembro, 2018 - Quarta (21h27)
28 de Setembro, 2018 - Sexta (12h04)
29 de Setembro, 2018 - Sábado (7h46)
30 de Setembro, 2018 - Domingo (22h46)
1º de Outubro, 2018 - Segunda (23h47)
04 de Outubro, 2018 - Quinta (12h07)
04 de Outubro, 2018 - Quinta (22h13)
05 de Outubro, 2018 - Sexta (19h02)
07 de Outubro, 2018 - Domingo (15h58)
07 de Outubro, 2018 - Domingo (16h01)
10 de Outubro, 2018 - Quarta (19h34)
11 de Outubro, 2018 - Quinta (14h55)
12 de Outubro, 2018 - Sexta (23h26)
13 de Outubro, 2018 - Sábado (18h21) + (18h32)
14 de Outubro, 2018 - Domingo (17h39)
17 de Outubro, 2018 - Quarta (16h46)
18 de Outubro, 2018 - Quinta (23h12)
20 de Outubro, 2018 - Sábado (20h17)
21 de Outubro, 2018 - Domingo (16h29)
22 de Outubro, 2018 - Segunda (10h57)
23 de Outubro, 2018 - Terça (23h45)
NÃO É capítulo novo
25 de Outubro, 2018 - Quinta (20h19)
27 de Outubro, 2018 - Sabado (23h21)
30 de Outubro, 2018 - Terça (21h34)
02 de Novembro, 2018 - Sexta (16h12)
4 de Novembro, 2018 - Domingo (21h43)
07 de Novembro, 2018 - Quarta (23h14)
09 de Novembro, 2018 - Sexta (21h33)
14 de Novembro, 2018 - Quarta (22h47)
16 de Novembro, 2018 - Sexta (20h56)
16 de Novembro, 2018 - Sexta (23H24)
17 de Novembro, 2018 - Sábado (00h13)
18 de Novembro, 2018 - Domingo (5h28)
18 de Novembro, 2018 - Domingo (19h31)
19 de Novembro, 2018 - Segunda (1h47)
27 de Novembro, 2018 - Terça (19h03)
28 de Novembro, 2018 - Quarta (13h15)
3 de Dezembro, 2018 - Segunda (23h41)
3 de dezembro, 2018 - Segunda-feita (parte 2)
06 de dezembro, 2018 - Quinta (20h28)
09 de dezembro, 2018 - Domingo (21h42)
11 de dezembro, 2018 - Terça (23h57)
13 de dezembro, 2018 - Quinta (16h21)
17 de dezembro, 2018 - Segunda (10h36) → 1 de 3
17 de dezembro, 2018 - Segunda (10h36) → (2 de 3)
17 de dezembro, 2018 - Segunda (10h36) → (3 de 3)
19 de dezembro, 2018 - Quarta (21h53)
22 de dezembro, 2018 - Sábado (23h49)
25 de dezembro, 2018 - Terça (22h39) → (parte 1 de 2)
25 de dezembro, 2018 - Terça (22h39) → (parte 2 de 2)
28 de dezembro, 2018 - Sexta (16h12) → (parte 1 de 2)
28 de dezembro, 2018 - Sexta (16h12) → (parte 2 de 2)
02 de janeiro, 2019 - Quarta (18h47) → (parte 1 de 3)
02 de janeiro, 2019 - Quarta (18h47) → (parte 2 de 3)
02 de janeiro, 2019 - Quarta (18h47)→ (parte 3 de 3)
06 de janeiro, 2019 - Domingo (3h47)
08 de janeiro, 2019 - Terça (16h27)
10 de janeiro, 2019 - Quinta (19h43)
11 de janeiro, 2019 - Sexta (10h26)
AVISO DE RETORNO
15 de janeiro, 2019 - Terça (21h36)
19 de janeiro, 2019 - Sábado (20h54) → PARTE 1 de 2
19 de janeiro, 2019 - Sábado (20h54) → Parte 2 de 2
20 de janeiro, 2019 - Domingo (14h28)
21 de Janeiro, 2019 - Segunda (17h43)
24 de Janeiro, 2019 - Quinta (11h17)
27 de Janeiro, 2019 - Domingo (22h31)
30 de Janeiro, 2019 - Quarta (23h43)
3 de Fevereiro, 2019 - Domingo (17h33)
5 de Fevereiro, 2019 - Terça (17h25)

15.08.18 - Quarta

364 70 114
By LyanKLevian



De: zakrod98@gmail.com
Para: isa.sk8.2010@hotmail.com
Assunto: Piquenique, túmulos, e uma mulher louca


Bom dia, amiga! Hoje estou escrevendo fora de meu horário de costume. Acordei faz poucos minutos, e o Nicolas acabou de sair para a faculdade. Ele tem estado mais concentrado ultimamente, diz que tem matérias que estão se mostrando complicadas, e já estão pedindo trabalhos para entregar em breve.

Eu não tenho a menor ideia de como é isso. Nunca estive em um curso de faculdade... Ao terminar o ensino médio já fui à procura de emprego, e como não consegui nada (uns por falta de experiência, outros porque não foram com minha cara) acabei ficando para trás, sem estudo nem trabalho.

E a primeira atitude drástica para mudar essa vida, você sabe... Foi vir para cá.

Hoje até passa por minha cabeça fazer alguma coisa. Pensei em um curso de fotografia, talvez... Ainda mais agora, que estou usando minha Canon para algo útil (eu que faço as fotos dos vasos, para colocar no site e na fanpage da floricultura). Então, acho que posso ter algum futuro nisso.

No fim das contas, vou ser um cara sem faculdade, mesmo. Antes isso me incomodava (porque as pessoas julgam mal quem não tem interesse num curso superior), mas estou cada vez mais de boa com a ideia de pular de uma vez para a "profissão dos sonhos" sem ter que ficar anos esperando um diploma. E, pelo que o Nick falou, mais da metade dos colegas de classe dele estão pouco se lixando para as aulas... Vão sair de lá todos com o mesmo diploma, mas cada um com um aproveitamento e capacidade diferente.

Por isso concluí que: diplomas não são exatamente um atestado de competência.

Enquanto escrevo, sentado no chão da varanda com o notebook no colo, a Jack está regando as plantas (com um pop animado tocando ao fundo). Como as chuvas que tinham caído há uns dias deram espaço a um céu ensolarado, precisamos manter as flores com terra úmida manualmente (o sistema de irrigação vai ser instalado em breve).

Oh, chegou uma cliente. Vou ter que dar uma pausa para atendê-la, porque a Jack ainda está ocupada.

...

Ok, voltei. Ela veio apenas para conhecer, mas levou uma fitônia e dois vasinhos de violetas brancas! =)

Tenho percebido uma coisa curiosa: parece que algumas pessoas vêm aqui só para ver a gente. As garotas ficam me olhando cheias de risinhos (a Jack diz que eu sou o "crush" delas ← odeio essa palavra!), e também sempre perguntam sobre "o outro funcionário bonitão" (o Nicolas só volta ao entardecer, e pega apenas a última hora da floricultura aberta).

Pois é, elas vêm para nos ver, e às vezes tiram fotos. Isso me incomoda bastante, pois eu sou o tipo de cara que gosta de estar por trás das lentes, não diante delas... Pelo menos eu aprendi a convencê-las de levar um vaso, ou qualquer coisa daqui. Talvez eu tenha jeito para vendas, afinal... Pode parecer estranho, mas combinamos que sempre que os clientes forem mulheres, eu atendo. E quando são homens, a Jaqueline atende (sim, tem uns caras que aparecem e ficam secando minha cunhada). Essa técnica de "conquistar" o cliente tem funcionado super bem até agora. É difícil alguém que entra "só para dar uma olhadinha" e não sai com pelo menos um vaso ou arranjo para levar para casa.

E eu tive que aprender uns macetes sobre cuidar das plantas, também. O pessoal que leva algo sempre pergunta como se cuida. No início eu pedia socorro para a Jack, mas a gente fez umas plaquinhas de informações básicas, e agora eu uso isso como cola (hehehe).

E assim têm sido meus dias na Belson Flora.

Er... Sei que você notou que estou enrolando. Mas eu realmente achei relevante falar essas coisas antes de contar sobre o domingo de Dia dos Pais.

Bem, de sábado para domingo dormimos na casa das flores (que eu não consigo parar de chamar assim, mesmo sem ter flor alguma). Eu, o Nicolas e o Lucas. Nós assistimos aquela animação da "Vida Secreta dos Pets" enquanto comíamos um bolo Floresta Negra que meu namorado lindo e prendado (e gostoso) fez. Para dormir, pegamos o colchão da Jack (já que ela passou a noite com o Jonas em outro lugar) e juntamos na sala com o do Nicolas. Durante a noite toda o Lucas ficou grudado em mim, ainda com aquele jeito meio dengoso/emburrado.

Assim que amanheceu ouvi o Nicolas, como de costume, fazendo o café na cozinha. A Jaqueline voltou cedo, e tinha em mãos algumas sacolas de compras (tanto do shopping de Eloporto quanto do mercadinho Via Colina). Ela me deu um bom dia empolgado, e depois foi até a cozinha dar um embrulho para o Nick – um presente. Era uma camisa social preta, muito bonita e que certamente vai ficar maravilhosa nele.

E foi naquela hora que a realidade pesou em minha mente: eu não tinha comprado absolutamente nada para dar.

Bem, não que eu tivesse alguma obrigação com isso... Ele não é meu pai. Mas a verdade é que eu queria ter dado algo, assim como a Jack fez. A parte complicada é que eu não tinha muita grana, nem condução veloz para ir buscar algo à altura de um Nicolas Rafael Belson. Por isso, apenas me levantei (e eu devia estar com o cabelo todo amassado), e fui até ele dar os parabéns por ser o pai mais incrível que eu já conheci.

O Lucas veio em seguida, agarrando minha cintura com aquela carinha de sono. Parabenizou o pai, e depois voltou para a sala, para ficar com o brinquedo da vez: uma miniatura daquele personagem "Cat Noir" que a Sônia deve ter comprado naquela semana, porque ainda estava com um cheiro gostoso de plástico novo.

As coisas que a Jack tinha comprado no mercado eram para um piquenique: pães de forma, pães franceses, presunto, queijo, mortadela, frutinhas pequenas, iogurte, e mais um monte de guloseimas daquelas que a gente quase nunca se dá ao luxo de pegar no mercado (a Jack não quis mostrar a nota fiscal pro Nick... deve ter ficado caro). Eu fui para a minha casa tomar um banho, e quando voltei as coisas já estavam prontas para sairmos. O Lucas (que foi atrás do carro comigo, em uma cadeirinha) acabou ficando mais animado.

Tinha bastante gente na prainha. Por causa do sol desses dias, nem parece que ainda é agosto (inverno no Brasil é uma piada). O pessoal estava com guarda-sois, roupas de banho, e muitos entravam na água da represa para brincar. Mas a gente não ficou na praia. Andamos um pouco mais e nos sentamos em um gramado que se eleva um pouco mais adiante do rio, perto da areia, e foi lá que estendemos uma toalha e colocamos a cesta com comida, e o isopor com os ítens gelados.

Aquele foi nosso desjejum. Inclusive, o café que o Nick fez estava presente, dando àquela manhã no parque um aroma especial (eu nunca provei um café tão bom quanto o dele, sem exagero). Nesse dia, parece que o instinto de pai do Nicolas estava mais aflorado. Talvez porque fosse Dia dos Pais, ou talvez porque ele estava tentando reconquistar o bom humor do filho... Ou as duas coisas. Ficar observando o Nicolas brincar com o Lucas é uma coisa que me aperta o coração, de tão bonito! Gosto de vê-lo ser criança de novo... Aquele homem alto, de ombros largos e barba rala, fazendo de conta que uma pedra em sua mão é uma joaninha para fazer par com o Cat Noir do Lucas, foi uma cena especial.

Uma parte minha ficava perguntando, num sussurro bem lá no fundo de minha mente: como teria sido, para mim, se eu tivesse um pai assim na infância? Fiz o possível para que essa pequena melancolia não transparecesse. Isso iria estragar a diversão de todos.

Mas acho que, de uma forma ou de outra, um ar melancólico acabou tomando conta dos gêmeos. Foi a Jack que começou com a pergunta: "Já pensou se nosso pai ainda estivesse com a gente, passando o dia aqui junto, e ajudando na floricultura?". Ela estava meio quieta, olhando o movimento da prainha ao longe, e vendo as várias famílias que estavam por ali. É raro vê-la reflexiva daquela forma. Naquela hora, eu me encolhi. Sabia que a conversa não era comigo... Olhei disfarçadamente para o Nicolas, e ele aparentemente apagou um pouco do sorriso que estava dando para o pingo. "Como você acha que seria, Nick?".

É perceptível que eles sentem a falta dos pais, pois eles partiram repentinamente naquele acidente do raio, sem possibilidade de despedida. Não consigo nem fazer ideia do que é estar no lugar deles...

"Não sei", ele respondeu. "Mas gosto de pensar que ele estaria orgulhoso da gente. Tanto o nosso pai quanto nossa mãe".

Ouvir isso vindo dele fez meus olhos arderem. Tive que piscar algumas vezes, senão eu iria começar a lacrimejar. Os Belson, apesar de estarem falando sobre aquilo, pareciam serenos. Algo próximo de melancólicos, mas conformados, talvez. Eu não sei... É possível se conformar com a morte de alguém que amamos?

Não quero descobrir.

Depois disso, parece que eles notaram que o clima ficou meio denso, então começaram a falar de outras coisas. Não sei se é impressão minha, mas parece mesmo que eles evitam ficar comentando muito sobre os pais, para não causar dor desnecessária. Não que o assunto seja um tabu (pois eles falam a respeito sem problemas), mas é fato que, se eles puderem evitar essa pauta, evitam.

Mais tarde, próximo ao meio-dia, já estávamos satisfeitos de todas as forma possíveis. Eu não me lembro da última vez em que comi tantas coisas gostosas juntas (acho até que fui além do que meu estômago considera suportável). E, antes de voltarmos para a casa das flores, fomos até o local de meu primeiro trabalho: o cemitério de Vale do Ocaso.

Para mim, ir ali tem uma nostalgia e um significado diferente do que deve ser para os gêmeos. Ao entrar, cumprimentei o Seu Antônio (que estava por perto lustrando a estátua de bronze de um túmulo) e me senti quase que em casa (por mais mórbido que isso possa soar). Já o Nicolas e a Jack adquiriram aquele olhar taciturno, de tristeza misturado a um respeito silencioso. "Por que a gente tá aqui?", foi a pergunta do pinguinho. "Vamos visitar seus avós", respondeu o Nicolas. E ficou por isso mesmo, porque a morte ainda não é algo de entendimento pleno do Lucas.

Assim que se aproximaram do túmulo da família Belson, eu fiquei para trás, de propósito. Um Isaac Rodrigues não tem nada a ver com os Belson, e também tem o fato de que era um momento muito íntimo da família. No curto período em que trabalhei ali tive pequenos exemplos ao ver pessoas que visitavam os parentes falecidos para ter alguma conversa pessoal. Eu achava estranho no início ver esse pessoal falando com uma foto, mas com o tempo me acostumei. O Seu Antônio dizia que essa era a maneira que eles tinham de aliviar as dores. É bem compreensível. E também, vai que, de repente, eles estejam de fato ouvindo de algum lugar? A Jack acredita plenamente, e hoje posso afirmar: o Nick também.

Assistindo os três de longe percebi que estavam orando. O Lucas ficou meio confuso de início, olhando do pai para a tia, mas depois juntou as mãos pequenas e fechou os olhos também. Por um momento, desejei pegar minha Canon (que levei ao passeio) e tirar algumas fotos. É que a incidência alaranjada do sol sobre eles, a situação de devoção, a sincronia da oração do trio, formava um quadro realmente lindo... Mas no momento em que ia tirar o protetor da lente, desisti. Senti que não tinha esse direito.

Eles ficaram lá por pouco mais de três minutos. O Lucas logo se dispersou, e começou a fazer o Cat Noir "voar" por perto. Depois foi a Jack que terminou, e pegou o Lucas pela mão para dar um passeio pelo cemitério (tem certos túmulos e estátuas que realmente fazem valer a volta), mas o Nicolas continuou ali. Assim que percebeu que estava sozinho, olhou em volta, me procurando. Assim que nossos olhares se encontraram ele me chamou com certa ansiedade. Quando cheguei perto o Nick pegou minha mão e se colocou diante do túmulo, respirando fundo.

A única coisa que pensei, foi "Ele vai fazer o que estou pensando?".

E ele falou, num tom de respeito e com a cabeça baixa, sem largar de minha mão: "Pai... Mãe... Este é o Isaac". Eu o olhei, com o coração começando a acelerar, mas ele continuou sério, encarando as fotos dos pais. E o que falou em seguida foi mais do que meu coração podia segurar: "Ele é meu namorado. Eu.... É que eu estou com ele, e pretendo continuar. Sei que os decepcionei de várias formas quando estavam vivos, e peço desculpas se os decepciono mais uma vez com essa notícia...". A cada palavra do Nicolas, mais e mais meus olhos marejavam. "Mas pai, mãe, eu estou feliz agora, e espero que entendam, e que possam sentir orgulho de mim algum dia".

Depois disso, ele se ajoelhou, ainda sem soltar minha mão, e encostou a testa no tampo do túmulo. Percebi que, assim como eu, o Nicolas chorava...

... Ah, droga...

Eu não sou bom com essas coisas. Não sei como ajudar pessoas que estão com o coração dolorido. Por isso, a única coisa que fiz foi me ajoelhar ao lado dele e abraçá-lo. Me senti grato, mas não falei nada naquele momento. Ele nunca antes havia me apresentado formalmente para os pais, e eu nunca imaginei que isso fosse acontecer, visto que estão mortos. Mas ele o fez, diante de ambos, e da forma mais inesperada possível. E, como uma espécie de selo de autenticidade, ele me deu um beijo casto e carinhoso na boca.

No meio de um sorriso choroso eu consegui sussurrar um "Obrigado", e foi o suficiente para ele entender o significado que aquilo havia tido para mim. Fez com que eu me sentisse ainda mais próximo dele. Dos Belson. É como se isso tivesse oficializado ainda mais as coisas. Aumentado o nível de seriedade de nosso relacionamento.

Sei lá, não sei explicar...

Eu posso até ser um ímã para certos azares, mas quando olho por este ângulo percebo quanta sorte tenho. Talvez eu mesmo tenha "feito" essa sorte, já que foram algumas de minhas decisões que fizeram com que eu esteja onde estou agora: a mudança de cidade, nosso primeiro beijo, a sugestão da floricultura...

É, talvez a sorte seja mesmo algo que a gente precise cultivar com o próprio esforço. Se eu tivesse ficado parado "com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar", provavelmente ainda estaria no quartinho mofado da casa de meus progenitores lamentando pela vida ser uma merda.

... E conseguir admitir isso a mim mesmo é uma espécie de catarse...

Er, então... Voltando ao relato, nós saímos do cemitério ainda de mãos dadas, e mesmo com algumas pessoas nos olhando meio torto, continuamos assim ("oh, que horror, dois homens de mãos dadas, o mundo está perdido"). Ao nos ver, a Jack parece que entendeu o que havia acontecido. Tenho cá para mim que ela deu licença ao Nicolas naquela hora, diante do túmulo, porque já sabia o que ele pretendia fazer. E parecia satisfeita com isso.

Bom, eu também fiquei.

Assim que o Gol do Nicolas virou a esquina em direção à nossa rua, vimos o carro da Sônia diante da casa das flores. O Nicolas e a Jack pareceram que sincronizaram ao dizerem "Ai, merda". E eu gelei. Eu sabia que tínhamos nos atrasado por causa da ida ao cemitério, e quando ela nos viu, gritou que estava esperando há meia hora, e que estava quase ligando para a polícia (mulherzinha exagerada).

Assim que a Sônia me viu no banco de trás com o Lucas, parece que todo o sangue subiu à cabeça dela. Começou a discutir com o Nicolas e com a Jack, dizendo que não queria "esse tipo" influenciando o Lucas (ela falava como se eu não estivesse ali, ou como se eu fosse retardado demais para compreender a situação). E, por mais que o Nick tentasse ter uma conversa inteligível com ela, só vinha baixaria em troca. Ela mesma tirou o Lucas da cadeirinha (ele começou a chorar) e começou a falar "Eu não disse, Lu? Teu pai não presta, não sei por que você fica tão animado para vir aqui aos finais de semana, porque esse homem é um traste que não liga se um doente mental fica perto de você". E o Lucas começou a chorar mais.

Sério. Se ela disse isso diante de todos nós, o que ela fala enquanto está sozinha com o Lucas, durante a semana? A impressão que dá é que ela deve falar coisas para colocá-lo contra o pai. Eu quase explodi naquela hora. Fui na direção dela na intenção de falar umas verdades na cara da miserável (tipo: lembrar de como é mãe desnaturada, pois abandonou o filho, que estava chorando na apresentação da festinha escolar), mas o Nicolas me segurou. Acho que ele leu minha mente e viu o futuro, porque depois ele me explicou que me impediu para evitar que a situação piorasse.

Ela já me odeia. Saber que passei o fim de semana com o Lucas já foi demais para ela... Se eu a confrontasse, sabe-se lá no que poderia dar.

Ela pegou o Lucas, colocou no próprio carro (que também tem uma cadeirinha no banco traseiro), e me olhou como se quisesse me incinerar. "Eu já te avisei, moleque... Não fique perto do meu filho". O Nicolas entrou na minha frente: "O Lucas é meu filho também, e o Isaac é nosso amigo... Não vou mantê-lo longe do Lucas, não importa o que você diga".

Eu estava irritado de tal maneira que nem parecia que eu estava dentro de meu corpo. Por uns segundos, tudo ficou em silêncio (a não ser pelo Lucas que começou a gritar no banco de trás como nunca vi antes). Depois, a Sônia estreitou os olhos e disse "Veremos, Nicolas... Eu já estou de olho nesse traste".

Ficamos com cara de interrogação, e ela aproveitou essa deixa para se mandar com o pinguinho...

Sinceramente, eu temo por ele. Viver com aquela maluca não vai ser bom para o psicológico do Lucas. Quando está conosco ele é tão tranquilo... E foi só ela vir gritando e falando aquelas coisas que ele se transformou completamente. Eu nunca vi o Lucas daquela maneira. Era um choro de sofrimento... Foi doloroso de ver.

Depois disso, o clima ficou estranho. A Jaqueline me deu um abraço murcho e disse que iria ficar no quarto por não estar se sentindo bem. O Nicolas sentou no sofá, olhando para o nada com cara de bravo, e eu fiquei perdido. Preferi dizer que eu iria voltar para minha casa, e ele disse apenas "Ok".

Por mais maravilhoso e romântico que o Nick seja, reconheço que tem momentos em que ele simplesmente precisa de um tempo sozinho.

Quando começamos a namorar meu maior medo era de eu ser pedante demais (hãã, esse ainda é um medo que tenho). Por isso dei aquele espaço, no domingo, indo para minha casa. E como eu não conseguia me distrair, joguei um pouco de StarCraft.

Naquele domingo dormi sozinho, e o Nicolas não apareceu nem mandou mensagem de "boa noite", como acontece nas vezes em que não dormimos junto. Foi somente na manhã seguinte que ele mandou uma mensagem no horário que costuma acordar. Era simples: "Posso ir aí antes de sair pra facul?".

É claro que eu disse "SIM"... Era tudo o que eu queria, na verdade. E assim que abri a porta, ele me abraçou forte, pedindo desculpas.

"Quê? Desculpas por que?", eu perguntei. E ele disse que na noite anterior não estava com cabeça para nada, e precisava ficar sozinho (eu não disse? Acertei ao ter voltado para casa). Ele continuou dizendo que a Sônia tem sido uma preocupação constante dele, e que uma hora ou outra ela vai perceber que não somos apenas amigos. Eu comentei, como quem não quer nada "Se é que ela já não sacou", e nessa hora o Nick deu um riso sem graça: "Se ela tivesse notado que estamos juntos, o Lucas não teria nem vindo esse final de semana".

Eu não tinha uma resposta para aquilo... Fiquei olhando para os meus pés descalços sobre o piso de madeira até que ele veio me dar um soquinho no braço: "Ei, não é pra ficar assim, também! A gente vai dar um jeito... Mas agora preciso ir, antes que perca hora". E me beijou, depois segurou meu rosto e me olhou intensamente: "Não fica pensando nisso, tá? Tô indo".

Por mais que ele pedisse aquilo, era impossível não ter certos pensamentos em looping. Eu fiquei estes dias todos com as palavras da Sônia no plano de fundo de minha mente.

"Eu já estou de olho nesse traste" ... =/

O domingo começou bem, teve um decorrer maravilhoso, mas terminou desastroso antes mesmo de eu ter pensado no presente do Nick. E no fim, não dei nada...

... Argh, tenho que mudar o rumo dos pensamentos cinzentos...

Presentes.

O presente do Nicolas é um bom assunto para tentar tirar as coisas ruins da cabeça.

A cada dia que passa, a ideia de "presenteá-lo" com o cupom de desconto do Motel tem ficado cada vez mais forte (não que isso seja de fato um presente, mas enfim!). Não tenho certeza ainda de como fazer isso, só sei que quero fazer.

E se eu colocar num envelope, dentro do fichário dele? Ou dentro do estojo, onde ele provavelmente vai ter que ver? Se eu fizer isso mesmo, o que ele vai pensar de mim? Sei lá, não é ser oferecido demais? Se bem que aquela noite, no carro, ele parece ter gostado...

Ah, não posso pensar nisso agora, senão vou ter que ir para o banheiro me aliviar.

Tarde demais.

Pensei.

Já faz um tempo que não brinco com a "bala de prata"... Se eu realmente tenho intenção de receber o Nick, tenho que me preparar antes, não é? Mas não agora, ainda estou no expediente, e tem gente entrando para ver as plantas...

Aahhh, estou ficando vermelho. Não quero que a Jack nem a cliente me veja assim. Ela vai ter que atender dessa vez... >_<

Amiga, eu vou nessa. Espero conseguir entregar o cupom ao Nick de uma maneira que não me envergonhe demais.

Tenha uma excelente semana, irmã-anjo! Bye bye!




🌸

E aí, curtiram a postagem dupla de hoje? =P  



Gostaria de recomendar um vídeo que me inspirou bastante na escrita destes últimos capítulos do diário de Isaac =)

Para quem gosta de prestar atenção em letras, recomendo procurar por ela também, pois tem a ver com um romance desajeitado entre duas pessoas. É bem fofo 💕


K I S S E S 💋 K I S S E S

Lyan K. Levian

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