Diário de Um Sobrevivente

By LucianoJnior

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No ano de 2018 um tipo de praga ou infecção atacou a humanidade e nós nem ao menos sabemos de onde isso surgi... More

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By LucianoJnior


O quarto forte era incrivelmente pequeno e sem contato algum com o mundo exterior, com uma única porta de entrada e saída e sem janelas para entrada de luz natural o ambiente se mantinha numa escuridão completa.

Permaneci sentado de costas para a porta por bastante tempo até que minha adrenalina diminuísse e meus sentidos se acalmassem mais. Tudo tinha sido uma loucura muito grande até ali e o meu nível de estresse era absurdo. Não só pelo ataque mas por tudo que havia passado até então, principalmente após o distanciamento da minha família e especialmente a morte de Edinho.

Vivi uma escalada de ódio e vingança que me levaram até um lugar que eu desconhecia. Mudei durante o caminho, fiz coisas que jamais pensei ser capaz de fazer e nem em todos os casos isto é motivo de orgulho.

A ausência de iluminação natural privou completamente minha noção de tempo e o silêncio do quarto era quebrado apenas pelas pancadas constantes dos zumbis à porta de entrada. Concentrei-me apenas na minha própria respiração e busquei pensamentos que não vinham. Havia alcançado algo que esperei por muito tempo e não era esse o sentimento que eu esperava ter.

O que eu havia me tornado no final das contas?

Conclui o objetivo que me cegou e me guiou até aqui e acabei assim... Abandonado sozinho num quarto escuro, cercado apenas por morte e destruição. Para alcançar tudo o que quis eu acabei por me desfazer de tudo o que possuía, até que ponto posso dizer que isto valeu a pena?

Retirei do bolso a pequena lanterna que usei para me guiar pela floresta e tateando pelo quarto encontrei uma caneta repousada sobre uma agenda velha. Passei as folhas sem me importar com o que havia nela, só me importava em encontrar linhas vazias onde eu pudesse fazer algo que já há muito não fazia... Escrever.

Mergulhado no poço da dor, não, não é sua culpa amor
Eu que tenho usado o pavor como desculpa

Com tanto para dizer mas com que ninguém para ouvir

Sem forças e com o pescoço na forca, foi tudo o que consegui

Eu tentei sim, juro que eu tentei

Fazendo de tudo por todos aqueles que mais amei

Por Deus, eu me importei, morreria por vocês

Tudo que eu mais queria era não te ver sofrer

Tão longe de tudo num lugar frio e escuro

As paredes me sufocam eu nem sei mais o que é ar puro

Mesmo com o coração duro eu não consigo esquecer

Só queria uma chance de ser quem eu quero ser

Mas ninguém pode salvar um futuro sentenciado

Não adianta orar se ninguém ouve do outro lado

Afogado em pecado e com tudo desmoronando

Eu me sinto morto por dentro mas ainda respirando

O som do silêncio abala meu coração

As memórias de nós dois afagam minha aflição

Sinto sua respiração justificando o porquê

Deitado imaginando um futuro que eu não vou ter

Amor, o mundo não é justo eu sei

Juro, o plano era envelhecer com vocês

E eu que nunca levei fé em céu ou anjo para guardar

Realmente agora espero que exista alguém por lá

E o conserto não cobre o dano

Como eu vou viver longe daqueles que eu amo?

É impossível, sinto meu peito doer

Mau agouro, choro e frio, algo vai acontecer

Talvez o maior erro que eu já tenha cometido

Não saber quem eu amava até que os tenha perdido

Agora tudo faz sentido, calma. É só o karma

Minha camisa ensanguentada só mais suja que a minha alma

Sempre mantendo a máscara bancando o indestrutível

Quem sabe se eu tivesse sido um pouco mais sensível

Mas era impossível eu sempre fui desatento

Daria tudo pra poder voltar no tempo

Tudo desvanecendo e não dá para voltar atrás

O meu céu escurecendo eu sinto que é tarde demais

Sem alento, isolado, caminhando com as trevas

É, eu estava errado, meu coração não é de pedra

Não chore quando eu for, não

Eu vou estar aqui sempre

Mas por favor, me entenda então

Que os melhores sempre morrem pelas suas próprias mãos

E eu me importei mais que tudo nessa vida

Sabe, eu acho que esgotei as tentativas

E quanto mais eu tentei ver mas me sentia cego

Será que você pode me ouvir enquanto eu rezo?

Como na última ceia, nas veias meu sangue ferve

Imagino mil motivos pra desistir mas não serve

Penso em nós a sós nas promessas que eu fiz

Agora já não me importo em como vou sair daqui

Por favor, não sinta pena, culpa ou ódio também

Fale para todos eles que tudo vai ficar bem

E nem por um segundo chore ou se sinta mal

Tudo vai fazer sentido quando chegar no final

Eu nunca quis me afogar no próprio sangue

Mas agora meus planos já não são mais relevantes

E só existe um jeito de manter minha alma sã

Desculpa amor, eu não vou te ver amanhã.

Um estampido alto atordoou meus sentidos, seguido de um forte clarão que cegou os meus olhos. Um eco ensurdecedor tomou conta do quarto e eu senti meu pulmão se encher uma última vez.

Uma mão se estendeu em meio à luz... Não acredito que reencontrei vocês.

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