Get Me Out

By ownthe-night

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Nos últimos dois anos tudo o que eu mais queria era não ter que ir àquele manicômio todos os meses para visit... More

Shadows
Loud Thoughts
Unplanned Changes
Church Bells and Phone Calls
Acknowledging Madness
Dream up, Dash off
Catalyst
Highways, Neighborhoods and Lies
Everything I Want, Everything I Need
Antidepressants and Sense of Humor
Taped Confessions
I Dont Want You To Leave
Wait Outside
Forget the Shelves, See the Irony
Brittle it Shakes
Karma
Take Shelter
One love, one house; No shirts, no blouse
Dazed and Kinda Lonely (part I)
Strung out, a Little bit Hazy (part II)
Telekinesis
When did We Grow Old?
Concilium
Tic-Tac
In the Clear Yet? Good.
Rewind
Over (part I)
Red Liquors and Silver Keys
Wednesdays
Hi
Until You Come Back Home
Write it down
Caos, herself

I didn't mean to fall in love tonight

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By ownthe-night

Quando eu tive a oportunidade de conversar com você pela primeira vez, o meu mundo meio que parou. Minha pessoa preferida tirou cinco minutos de seu tempo e falou comigo de volta. Usou carinhas felizes nas frases curtas que me respondeu, e me deixou com borboletas no estômago quando disse que me admirava há tempos. Era de uma delicadeza, uma fofura descomunal, fora do meu padrão de normal.

Era o tipo de pessoa que eu precisava proteger. E talvez, talvez fosse um pouco pessoal e eu quisesse te proteger apenas por você ser você, mas acho que dá pra entender onde eu quero chegar.

Pediu minha opinião em algo e achei a coisa mais perfeita do mundo o fato de ter considerado meu ponto de vista um dos mais viáveis dentro de todos que já havia escutado. Fiz a mesma coisa dias depois, e descobri que além de extremamente culta, tinha opinião de sobra e que "queria muito me ajuda".

Eu senti que algo era diferente. A aproximação foi incomum, os interesses eram os mesmos e a única coisa que havia nos aproximado fora duas estórias. De amor, de ódio, seja lá como queiram classificar. Nos aproximou. E eu amei cada segundinho daquilo.

O primeiro "eu te amo" chegou, e com isso as coisas ficaram frias de repente. Me dei conta que havia te assustado com a responsabilidade do meu amor, e te dei tempo. Te acalmei. E mal sabia eu, que semanas depois eu ouviria as três palavras. O medo ainda presente, mas dessa vez acompanhado da coragem de "fazer valer a pena" ou de apenas dançar conforme a música. Já era tarde demais. Já pertencíamos uma a outra.

E se passaram meses e meses e as coisas se desenrolaram. Graças a Deus. E agora falta pouco. Meses se transformaram em semanas, e agora, dias. Não é uma coisa louca? Pensar que o tempo que costumávamos dizer que andava tão devagar, passou tão depressa que nem percebemos. Dizer que não sinto ansiedade seria a mentira do século. Mas... Você sabe.

O que me conforta, é saber que em pouco tempo eu vou poder te olhar nos olhos e falar essas três palavras novamente. Sabe o que mais me conforta? Não ter dúvida alguma de que o efeito delas vai ser diferente. E vai ser a sensação mais maravilhosa do mundo.

Eu te amo — e nove dias não importam mais.

~~

Dia 1. Terraço do hospital.

"Eu não faço a menor ideia do que nós vamos fazer aqui."

A morena sorriu mostrando a carreira perfeita de dentes. Colocou as mãos no bolso do casaco e balançou os ombros.

"Também não faço a menor ideia de onde vou começar com você", admitiu.

Permaneci sentada na cadeira de rodas no canto direito no mini pátio enquanto observava atenta a qualquer movimento que Camila ou Normani pudesse executar. Senti meu celular vibrar contra minhas coxas e pesquei o aparelho entre os dedos.

"Acabei de sair de casa. O trânsito está um inferno por aqui. Não deixe as duas bruxas começarem sem mim." — D

Sorri largo com a autenticidade da frase. E apesar das duas estarem prestes a começar, eu decidi não interrompê-las. Afinal de contas, eram apenas oito dias e não tínhamos nem mais um segundo a perder.

Pelo bem de Beth.

Pelo bem de Camila.

"Você tem medo de alguma coisa?" Escutei a mais velha indagar. A Cabello franziu o cenho com a pergunta.

"Tipo altura, animais perigosos ou...?" Coçou a nuca apoiando o peso do corpo sobre a outra perna.

Normani riu.

"Não. O seu pior medo. O que você mais teme em toda a sua vida. Eu sei que é extremamente pessoal, e que eu não deveria estar perguntando, mas acredite, isso vai te ajudar muito depois."

Engoliu seco e me lançou um olhar tímido. Levou as duas mãos até a cabeça ajustando o gorro lilás que havia ganho de uma enfermeira simpática e voltou a encarar Normani.

"Perder Lauren", riu nervosa. Encarou o chão tentando evitar confrontar o olhar terno que recebia da amiga. "Perder Lauren é o meu maior medo."

Ficou em silêncio esperando a mesma responder ou fazer algo com a nova informação, mas tudo o que encontrou ao levantar a cabeça, foi um sorriso largo e um par de olhos curiosos.

"Isso vai ser interessante", Normani murmurou baixo. Tão baixo que se eu não estivesse perto, certamente não ouviria. "Consegue materializar isso em algum objeto? Aliás, já leu sobre isso?" Indagou, dessa vez mais alto.

"Eu não..." Hesitou. "Eu não sei.

"Eu te ajudo", ofereceu. "Não é difícil."

Escaneou o terraço à procura de algo inutilizável. Pousou os castanhos em um vaso de flores de porcelana chinesa que estava jogado ao lado da horta orgânica que havia em seu lado esquerdo.

"Aquilo serve?" Apontou o indicador e sorriu ao receber um aceno de Normani.

"É perfeito", caminhou em direção ao objeto e o apanhou com tanta agilidade que me vi piscando os olhos diante de tanta rapidez.

Fez um sinal de espere com a mão livre e arrastou um barril metálico até o meio do campo. Pousou o vaso sobre o mesmo e apoiou as duas mãos sobre a tinta gasta do barril.

"O que você vai aprender agora é uma espécie de metáfora. Compreende?"

Camila assentiu violentamente. Os olhos arregalados e as pernas ligeiramente trêmulas me fizeram sorrir.

"Ok, ótimo", esfregou as duas mãos juntas e apontou para o vaso. "Quero que imagine seu maior pesadelo. Seu pior medo. Imagine uma cena onde você perde Lauren. Um acidente. Algo que deu errado. Uma situação que fugiu do seu controle. Dor. Consegue escutar alguém chorando no fundo?"

A latina permaneceu estática. Era visível que a respiração havia ficado irregular apenas com as cenas que Normani acabara de descrever.

"Não estou vendo você tentar, Camila", a morena estalou os dedos e se aproximou da Cabello.

"Dor", Camila repetiu. "Sim, consigo."

"Muito bem. Agora imagine seu pior inimigo tomando conta da situação. Roubando o que é seu. Tirando sua felicidade e comprometendo sua liberdade", sorriu ao perceber os punhos cerrados da mais nova.

"Eu não... Eu não gosto de imaginar isso, Normani."

"Quando você teve a visão no estacionamento. O que você viu?" Indagou ignorando por completo o apelo da amiga. "Você viu sangue, certo? Você se recusou a entrar no carro porque se assustou com a visão. Consegue lembrar o que viu? Isso vai ajudar."

"Normani..."

"Dor. Você ouviu gritos. Eu sei. Consigo sentir que você está vasculhando isso na memória", deu dois passos em direção à Camila e colocou uma das mãos na cintura da mesma. "Imagine mais. Pense alto. Pense alto, Camila."

Eu não tinha noção alguma do que Normani estava tentando fazer. Trazer memórias ruins à tona definitivamente não fazia parte do acordo. Qual era a porra do sentido naquilo?

Os castanhos, agora substituídos por uma espécie de mel escuro, ligeiramente avermelhado, me lançaram um olhar apreensivo. Nem ela mesma sabia o que estava acontecendo ou prestes a acontecer.

"Você odeia ele", Normani voltou a falar. "Eu sei que odeia. Puxe seu ódio para fora. Não consigo escutar seus medos quando seu ódio fala mais alto."

Fiquei em dúvida sobre quem ela se referia e engoli seco ao vê-la derramar a primeira lágrima. A morena não estava sendo nada gentil com o treinamento e eu já estava começando a questionar mentalmente se aquilo tudo era ou não uma má ideia.

"Normani..." Implorou em um fio de voz. Outra lágrima pincelou a bochecha rosada pelo frio. "Eu não consigo mais...."

"Camila", alertou. "Erga sua mão direita", instruiu firme.

Respirou fundo erguendo o braço requisitado. Mais lágrimas.

"Aponte para o vaso."

"Normani..."

"Aponte sua mão direita para o vaso de porcelana", a encorajou. "Agora."

Fez como o pedido e encarou o objeto por alguns segundos. Senti meu coração errar uma batida ao ver a porcelana se espatifar no ar sem explicação alguma.

Camila caiu de joelhos e enterrou o rosto entre as mãos. Eu queria me aproximar, beijá-la, falar que estava tudo bem e que foi apenas um acidente, mas algo em mim travou qualquer ação que eu pudesse tomar.

Enchi os pulmões de ar e senti meu corpo todo doer. Normani se agachou ao lado de Camila, beijou o topo da cabeça da mesma e sorriu largo.

"É isso que acontece quando você deixa seus medos te dominarem."

~~

"Você só pode estar brincando comigo."

"Dinah, eu não ia gravar aquilo. Não é minha culpa que elas começar a treinar sem que você estivesse aqui."

"Eu sei, mas... Ela explodiu um vaso de porcelana!" Ergueu os braços e os balançou no ar para dar ênfase na frase. "Quer dizer, não é todo dia que você vê isso!"

"Você não existe", ri baixo. Aproximei a cadeira de rodas do banco de madeira onde a enfermeira estava sentada e enchi a palma da mão com os biscoitos do pote colorido em seu lado.

"Você não deveria estar em uma dieta restrita de alimentos saudáveis ou coisa assim?" Arqueou as sobrancelhas e cruzou as pernas.

"Minha namorada vai voltar para um manicômio em oito dias, eu não tenho notícias da minha irmã desde ontem à tarde e eu recém tive uma cirurgia que me deixou parcialmente inútil e me prendeu numa cadeira de rodas. Acho que tô com crédito pra comer meia dúzia de doces."

Riu colocando o pote em meu colo.

"Vai em frente. Morra de diabetes. Depois me conta como o céu se parece."

"Ridícula."

A risada da mulher me fez rir ainda mais. Agradeci mentalmente por ter o apoio de Dinah em uma hora como essas. As coisas com Taylor não iam nada boas, e eu estava apreensiva em ligar.

"Lauren."

Ergui os olhos para ver a origem do som. Encarei Dinah confusa e percebi que ela apontava para o outro lado.

Camila.

"O que ela está fazendo?"

Tentei focar nas duas mulheres do outro lado do terraço, mas com o coquetel de medicamentos diários, minha visão para longe não passava de enfeite.

Foi aí que Camila desviou a atenção de Normani e lançou um sorriso para Dinah e eu. Se aproximou a passos largos e parou em minha frente com um sorriso expectante.

"Abra a mão", ordenou. A voz risonha, parecia ter descoberto algo interessante. A expressão mesclada em cansaço e êxtase.

Fiz como pediu e uni as sobrancelhas, completamente confusa com o que havia caído na palma de minha mão.

"O que é isso?"

"Normani decidiu dar um tempo para me recuperar da primeira parte", oscilou a voz apenas em lembrar da cena. "E resolvemos andar pelo terraço para procurar outras coisas que podíamos usar nos testes e... Encontramos uma jarra de sementes."

"O-kay..."

Fitei Dinah por alguns segundos e ri com a expressão caótica e confusa que traçava seu rosto.

"Isso é uma semente de orquídea. São roxas."

"Amor, não tô entendendo", falei confusa.

"Feche a mão", pediu. Estalou os dedos apenas uma vez sobre meu punho já fechado e fez um simples sinal para que eu abrisse minha mão novamente.

Arregalei os olhos ao ver a flor intacta, com aspecto de recém colhida, tocando delicadamente minha palma.

"Bastarda sortuda", Dinah murmurou. Minha risada se mesclou com a de Camila e pude notar de esguelha que Normani também havia escutado o comentário. Seja lá como tenha conseguido.

~~

Dia 2. Quarto do hospital.

"Pela décima vez, Lauren. Não. Eu não contei à mamãe sobre o acidente", resmungou entre dentes. Jogou a bolsa de couro sobre a poltrona e rumou em direção ao banheiro.

Camila fez uma careta.

"Deixa ela em paz, Jauregui. A garota recém chegou."

"Só estou me certificando que meus pais não vão aparecer aqui horrorizados e fazendo mil perguntas sobre como eu escondi um acidente e obriguei Taylor a participar da mentira."

"Você é terrível", riu.

Mordi o lábio inferior e joguei a cabeça contra o travesseiro. Uma pontada ridiculamente forte em minhas costas me fez gemer baixinho.

"Quantas vezes preciso te dizer pra não fazer movimentos bruscos?" Levantou da cadeira correndo em direção à maca onde eu estava deitada.

"Manias..." Sorri ignorando a dor. "Onde está sua professora?"

"Cafeteria. Telequinésia cansa, sabia?" Se curvou em minha direção depositando um beijo singelo em minha bochecha. Riu, adorando ver minha pele se arrepiar e seguiu uma trilha pequena de beijos até chegar em minha boca.

"Eu tenho a melhor namorada do mundo", balbuciei ainda atordoada pelo contato repentino.

"Você está dopada de remédios", riu.

"E mais lúcida do que nunca."

Retirou meus cabelos do rosto. O sorriso frouxo nunca abandonando os lábios perfeitos.

"Já falou com seu médico sobre quando vamos começar a fisioterapia?"

"Não..." Fiz uma careta ao ver a expressão de reprovação me encarando. "Não cheguei nessa parte ainda."

"Lauren..."

"Estamos ocupadas com seu treinamento. Não precisa se preocupar comigo."

"Mas é claro que eu me preocupo com você!" Bateu em meu travesseiro me fazendo arregalar os olhos com o baque. Adorava vê-la brigar por algo que acreditava ou defendia.

"Bebê..."

"Não me venha com bebê. Você vai se recuperar, fazer a droga da fisioterapia e sair daquela cadeira de rodas. Está me ouvindo?"

Assenti decidindo não discutir. Nossa atenção foi abruptamente desviada para Normani e Taylor, que simultaneamente entraram no quarto nos encarando com um sorriso meia boca e uma expressão ligeiramente maliciosa.

"Camila, você precisa comer", Normani alertou. Puxou uma barra de cereal do bolso e uma caixinha de suco de dentro da bolsa e entregou para a mesma. Piscou divertida ao ver o olhar desconcertado da Cabello ao aceitar o lanche que havia apanhado na cafeteria.

"Obrigada", corou sentando ao meu lado.

"Não por isso. Nosso treinamento vai continuar hoje à tarde e, caso não se importe, Bea vai assistir. Ela é meio que uma fanática por telequinésia e está me enchendo o saco para vir."

"Ela é bem-vinda aqui", respondeu mordendo a barrinha de cereal. "Pode trazer sua namorada."

"Bea não é minha namorada", corou. "De onde tirou isso, Cabello?"

Normani Kordei corando. E eu achava que meu dia não poderia ficar melhor.

"Eu vejo o jeito que olha pra ela", deu de ombros. "Sem contar que eu leio pessoas, esqueceu?"

"Você está fora da casinha. A garota é uma criança."

Taylor, já sentada em uma das poltronas disponíveis no quarto, ria discretamente com a cena.

Uma batida na porta interrompe o momento de descontração e em seguida uma figura médica aparece sorridente.

"Srta. Jauregui?" Me encara hesitante enquanto batucava uma caneta metálica na prancheta que tinha em mãos. "Podemos conversar?"

Respiro fundo ao sentir Camila pousar a mão livre sobre minha coxa e beijar delicadamente minha têmpora.

"Podemos", sorri.

~~

"Aconteceu alguma coisa?" Indaguei escaneando a sala branca. Paredes, objetos, luzes. Tudo branco, muito branco.

"Estou com os resultados de alguns dos seus exames. Apenas achei que seria uma boa hora para conversarmos", respondeu simples. Os braços cruzados sobre a bancada deixaram escapar um ar de informalidade.

"Okay..."

"Você sabe que sua perna esquerda ficou severamente comprometida e que tivemos um desafio e tanto com a recuperação, certo?"

Assenti sentindo meus olhos embaraçarem por nenhum motivo em particular. Talvez a menção do acidente ainda precise ser superada.

"Achamos que seria uma boa hora para começar a discutir sobre sua fisioterapia."

"Mas... É cedo. Meus pontos ainda nem cicatrizaram e— "

"Sabemos disso", me cortou. "Mas não só eu, como outras enfermeiras estão tendo a sensação de que você não está animada com a recuperação."

"Não vou dizer que estou contente", admiti. "Mas é cansativo. Ver as mesmas paredes deprimentes todo santo dia. O bipe irritante daquela máquina também."

Sorriu compreensivo.

"Estamos fazendo o possível."

"Eu também. E com todo o respeito, eu ainda não entendi o porquê de ter me chamado aqui."

"Você fez uma bateria de raios-X ontem à noite. Apenas gostaria de informa-la que seu braço esquerdo está com 80% da recuperação completa. Por mais bizarro que isso soe."

"Bizarro?"

"Você está com o braço engessado há apenas uma semana. Só estou querendo dizer que seus níveis de cálcio são os mesmo de uma criança de onze anos", riu.

"Isso é..."

"Progresso, Lauren. Você está progredindo."

~~

"Controle mental você já domina, certo?"

Ri internamente. As memórias do feriado de Natal em Miami ainda vivas em minha mente, não me permitiram esconder o rubor de minhas bochechas.

"Yeap", Camila respondeu.

"Levitação de objetos."

"Uma vez eu brinquei com uma esferográfica de Lauren no quarto. Nada de especial."

"Levitação de pessoas."

A Cabello travou.

"Oi?"

"Sabe ou não, esperta?"

"Eu nunca... Tentei."

"Encare meus pés. Conte até três e respire fundo. Mentalize o que você quer."

"Normani, eu realmente não acho necessário..."

"Camila!"

"Jesus Cristo, isso vai ser interessante", Taylor murmurou ao meu lado.

"Queria que tivesse visto ela espatifando um vaso de porcelana ontem", ri.

"Posso chamar uma voluntária? Você meio que me assusta gritando assim", pediu acanhada.

Normani rolou os olhos. Se aproximou de Taylor e fez sinal para que ela levantasse do banco. Ok. Isso vai ser interessante.

"Camila, você ao menos sabe o que está fazendo?" A caçula indaga. Incredulidade escorrendo pela voz.

"Pra ser sincera... Não."

"Você realmente sabe como acalmar uma voluntária", riu ao parar no meio das duas mulheres. "E agora? O que eu faço? Vou sair voando por aí?"

Camila parecia ter as mesmas dúvidas que minha irmã. Já Normani... Normani se divertia com a cena.

"Faça como mandei, Camila. Se concentre."

A latina parou em frente à caçula. Examinou o chão, o vento, riu ao trocar olhares comigo e finalmente fechou os olhos e tentou se concentrar na tarefa.

Notei que Taylor parecia agoniada com algo.

"Taylor? Tá tudo bem?" Indaguei já preocupada.

"São como... Agulhas nos meus pés..."

A lembrança de Camila me imobilizando em Miami e a mesma sensação tomando conta de meus braços e pernas me fez arregalar os olhos. Ela realmente estava prestes a levitar Taylor?

"Funciona melhor quando você não tenta tanto", Normani alertou. "Está forçando demais. Vai machucar ela dessa forma, Camzi."

No segundo em que Camila levantou o braço direito e balançou separadamente os dedos da mão, meus olhos se arregalaram. O sorriso largo, a expressão tão incrédula quanto a minha e o nível de concentração alcançado em segundos eram como música para os ouvidos de Normani.

Ver os pés de minha irmã deixarem o chão — ainda que por poucos e baixos centímetros — foi o ápice do treinamento. Foi quando eu vi que além de progredir, nós também não estávamos tão perdidas quanto eu pensei que estaríamos.

"Quanto tempo acha que consigo dominar essa parte?" Perguntou extasiada enquanto Taylor gargalhava e pedia para descer.

"Olhe pra Taylor", Normani riu. "Você já domina isso, Camila."

~~

Dia 3. Sala de retirada de bandagens.

"Isso é tão estranho."

"Já escutei isso antes", a enfermeira sorriu. "Tente não mover bruscamente, ok? Ele ficou imobilizado por vários dias. Pode estar sensível ainda."

Camila encarava meu braço esquerdo como se fosse um alien. Ainda não acreditava que após uma semana usando bandagem, ele já estaria com 95% de recuperação.

"Dói?" Perguntou quando tocou lentamente com a ponta dos dedos sobre meu punho.

"Faz cócegas", sorri.

"Isso é normal?" Indagou para a enfermeira. "Quer dizer, não é como se Lauren fosse a pessoa mais saudável do planeta. A recuperação disso foi anormal."

"Não é raro. Mas também não é algo que vemos com frequência", explicou.

Estiquei o membro pela primeira vez em dias. A sensação era diferente. Meus dedos pareciam travados e meu punho ainda doía um pouco. Quando um dos médicos conversou novamente comigo e me informou que o gesso não era mais necessário, quase ninguém acreditou. Mas ver os raios-X e outros exames realizados em meu braço, a maioria alegou que a bandagem, de fato, já não era mais requisitada.

O que ainda sim não me deixou menos nervosa. Afinal de contas, fazia apenas uma mísera semana. De onde eu havia tirado tanto cálcio e vitamina, só Deus sabe.

Percebi que Camila me encarava com um sorriso casto nos lábios. Parecia esperar por uma resposta ou algo do tipo.

"E então?"

Balancei a cabeça.

"O quê?"

"Eu perguntei se você está pronta para voltar para o quarto", sorriu divertida.

Assenti, ligeiramente grogue pela medicação recém tomada pela manhã, e sentei na cadeira de rodas me deixando ser guiada por Camila pelos corredores.

Nos despedimos da enfermeira e adentramos o hall. Ao entrar no elevador e observar minha namorada pressionar o número ímpar no painel, notei que o sorriso ainda permanecia em seu rosto. A única diferença era a expressão travessa.

"O que está aprontando?" Indaguei cruzando os braços.

Deus, eu senti falta de cruzar os braços.

"Tenho uma surpresa para te mostrar."

"Camila..."

"Amo quando fala meu nome", desconversou alisando meus cabelos com a mão livre.

"Você me frustra tanto, sabia?"

"Você também me frustra quando fala meu nome em um tom dengoso, mas eu não reclamo", rebateu.

O sinal sonoro de que havíamos chegado no andar selecionado ecoou na cabine. Senti a cadeira ser empurrada para fora do elevador, e notei as mesmas paredes familiares invadirem meu campo visual.

"Não é algo extraordinário. Mas... Você mesma diz que não há uma única coisa que Ally não consiga fazer."

Abriu a porta de meu quarto com uma mão e empurrou a cadeira de rodas com a outra. Fiquei confusa ao ver a maca com os lençóis e cobertores já trocados e minhas roupas empilhadas dentro de uma mala com o símbolo do hospital.

"O que é isso?"

Taylor, que até o momento havia passado despercebida por mim, me estendeu meia dúzia de papéis assinados e carimbados.

"Seus papéis de alta", sorriu.

"Podemos ir para casa, anjo."

~~

Dia 7. Apartamento.

"O que está pensando?"

Já era a quarta vez que tentava ler a página em minha frente. Mas por algum motivo, em meio as frases e parágrafos, eu me perdia. Ativava o automático e lia sem capturar o sentido do texto.

Eu me sentia no automático. O tempo todo.

"Estou tentando não pensar que em menos de 48 horas vão te tirar de mim novamente", sorri fraco. "Só pra constar, não está funcionando nem um pouco."

"Lauren..."

"Eu sei. Eu sei. É egoísmo da minha parte pensar dessa forma, mas eu não consigo evitar. Me desculpa."

"Não. Não é egoísmo. Eu te entendo."

Fechei o livro o jogando sobre a cabeceira e bati no espaço livre do colchão com a mão direita.

"Fica aqui", pedi baixinho. "Eu sei que você está vendo filme com a Tay e que agora é provavelmente a hora do intervalo e você só veio aqui pra se certificar que eu estou com a perna pra cima e a coluna ereta como deveria estar, mas... Por favor. Fica aqui comigo."

Cruzou os braços adentrando o cômodo. Bateu a porta com delicadeza usando o pé e deitou na cama colocando um dos braços sobre minhas coxas. Amava quando fazia isso.

"Eu te amo."

"Eu também te amo, Camila."

"Me mata te ver assim. Você deveria estar focando na sua recuperação, na fisioterapia e todas essas coisas."

"Eu sei..." Afundei meus dedos nos cachos escuros. O cheiro de baunilha adocicada trazendo a vaga lembrança de que um dia já dormimos sem o peso na consciência de que ela iria embora no dia seguinte. "Mas as coisas fogem do controle. Você sabe disso."

"Eu vou me sair bem na clínica", ponderou. "Normani foi ótima durante essa semana. Eu descobri poder fazer coisas que nunca havia imaginado."

"Isso é bom."

"Você não conseguiria soar mais desanimada nem se tentasse, sabia?" Riu.

"Desculpa, eu só..."

"Preocupada", ergueu o rosto para me encarar. "Eu sei, amor."

"Taylor está convencida de que já está pronta para arrumar um emprego fixo. Preciso ficar de olho nela também", comentei aleatoriamente. "São coisas bobas, e eu sei que mais cedo ou mais tarde vocês duas vão voltar pra cá depois de um longo dia, mas... Eu não consigo me acostumar com a ideia de que você vai retornar pra clínica. Não consigo."

"Você vai me deixar depressiva se continuar nisso."

"É sério, Camila."

Respirou fundo ficando de joelhos sobre o colchão e sentou sobre minhas coxas sem soltar o peso por completo. Levantou meu queixo com o indicador e me encarou como se eu fosse a coisa mais preciosa que já havia visto. Talvez eu fosse mesmo.

"Eu te amo. Muito. Incondicionalmente. De dia ou de noite. Aqui, no hospital ou na clínica. Em qualquer lugar. Eu vou dormir pensando em você e acordo pensando em você. Em pouquíssimo tempo Lauren Jauregui se tornou o mundo pra mim. E Deus, eu não consigo expressar em palavras o quão grata eu sou por você ter aparecido na minha vida. Eu sei que é difícil e que as circunstâncias não apontam bons resultados, mas isso é o agora. E, amor, o agora passa. Sempre passa. Então eu não quero que você pense no agora, ok? Pense no depois. Quando tudo isso já estiver resolvido. Quando eu e você estivermos morando juntinhas e felizes. Quando Beth tiver um lugar que pode chamar de casa, e pessoas que pode chamar de família. Quando eu puder te beijar e fazer amor com você quando eu quiser. Quando for só você e eu", respirou fundo beijando a pontinha de meu nariz. "Eu te amo, Lauren. E eu vou voltar. Mas pra isso, eu preciso que você imagine o depois. Consegue fazer isso?"

Assenti trêmula. A visão turva devido às lágrimas acumuladas.

Enlacei a cintura fina como se minha vida dependesse daquilo. O riso fraco que escapou dos lábios no segundo em que nossos corpos se chocaram foi apenas uma das inúmeras memórias que eu iria guardar quando ela estivesse ausente. O cheiro intoxicante do perfume doce me lembrava algo familiar. Era confortante como o colo que ela me dava e me transmitia uma sensação de tranquilidade.

Eu sabia que as coisas se encaixariam e que cedo ou tarde ela retornaria. Mas eu precisava de mais. Eu queria o toque. O contato. Poder ouvir a voz dela colada em meu ouvido e não através de um aparelho celular. Eu queria ela.

Quarenta e oito horas poderiam parecer uma eternidade, mas eu sabia que em um piscar de olhos, ela escaparia de minhas mãos novamente. 

------------

A/N: Hey....

Então, faz tempo, eu sei. E eu já tô meio que cansada de dar desculpas esfarrapadas pra vocês, mas a vidinha não tá me dando o tempo merecido pro negócio fluir e... Enfim. Saiu hoje rs

Esse capítulo ficou bagunçadinho porque eu escrevi correndo e também porque é um espelho exato de como minha cabeça está nos últimos dias, então, me desculpem se desapontei. Outra coisa, eu li algumas leitoras comentando no twitter que as citações iniciais de alguns capítulos são pensamentos futuros da Lauren. De antemão já quero dizer que: Não. Não são. As citações são espelhos do meu humor, e elas variam de capítulo pra capítulo, como de humor para humor. Então não se preocupem, ok? Ok.

E sim, tá bagunçado, tá sem sentido, mas de uma forma muito bizarra se encaixou no que eu queria (?) Vou passar madrugadas escrevendo e continuar os updates. Amo vocês. -F

https://twitter.com/gay_harmony


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